Luís Fazenda insiste que se deve saber quem controla os media em Portugal

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Luís Fazenda e Pacheco Pereira foram convidados a irem ver como se faz Jornal de Angola Rui Soares

O dirigente, que não levou o convite a sério, acusou os media em Angola de estarem “dependentes do clã económico que governa o país” e reiterou a urgência de uma lei em Portugal para a transparência da titularidade dos meios de comunicação social, numa altura em que a presença de capitais angolanos nos media portugueses está a aumentar.

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O dirigente, que não levou o convite a sério, acusou os media em Angola de estarem “dependentes do clã económico que governa o país” e reiterou a urgência de uma lei em Portugal para a transparência da titularidade dos meios de comunicação social, numa altura em que a presença de capitais angolanos nos media portugueses está a aumentar.

O PÚBLICO quis ouvir Pacheco Pereira, também incluído no mesmo convite do Jornal de Angola, mas o ex-deputado do PSD preferiu para já não dizer nada e comentar o assunto no próximo programa da Quadratura do Circulo, na SIC Notícias (estação que pode ser vista via satélite em Angola e Moçambique) por ter sido nesse espaço, na semana passada, que proferiu posições críticas que motivaram essa posição do Jornal de Angola.

O texto intitulado Imprensa e Liberdades em Portugal, com data deste domingo no Jornal de Angola, é o segundo editorial publicado no órgão oficial do Governo a denunciar o que diz ser uma campanha contra Luanda nos media portugueses, desde que o semanário Expresso publicou há uma semana a notícia da abertura de um inquérito-crime “contra altos dirigentes angolanos” que o Departamento Central de Investigação e Acção Penal (DCIAP) confirmou ao PÚBLICO na terça-feira.

A esse propósito, no seu blogue Abrupto, Pacheco Pereira relacionou as questões da independência dos media e do processo na justiça envolvendo figuras intocáveis do regime de Luanda: “Talvez o mais importante problema que afecta a nossa liberdade de imprensa para além da crise geral, e como parte dela, é o modo como os interesses angolanos se movem para dominar e controlar a informação em Portugal. Por isso, será muito relevante ver como é tratada a questão das investigações criminais de altos responsáveis do regime angolano, com fugas ou sem fugas, visto que isso é outro problema.”

São pelo menos três os responsáveis angolanos, do círculo mais próximo do Presidente José Eduardo dos Santos, sob investigação em Portugal por branqueamento de capitais e fraude fiscal. Nenhum foi constituído arguido. Entre eles, estão dois generais: Hélder Vieira Dias “Kopelipa” que é chefe da Casa Militar da Presidência da República e Leopoldino Nascimento “Dino” que já foi chefe de Comunicações da Presidência da República.

Também sob investigação, estará Manuel Vicente, vice-presidente de Angola e ex-director-geral da empresa petrolífera nacional Sonangol a quem o jornalista angolano Rafael Marques se referiu, numa entrevista ao PÚBLICO este fim-de-semana, como alguém que antes era visto em Portugal como um grande gestor e agora é olhado como um “corrupto”. Rafael Marques exemplificava assim a importância estratégica para Angola de controlar meios de comunicação social em Portugal e, por essa via, a informação sobre os responsáveis angolanos.

Interesses crescentes na imprensa

Em meados de Outubro, o Diário Económico noticiou que o empresário Joaquim Oliveira estava em negociações para vender a Controliveste (dono do Diário de Notícias, Jornal de Notícias e TSF) a um grupo angolano, não se sabendo que grupo é esse.

O líder parlamentar do PS Carlos Zorrinho disse na altura que iria “retomar de imediato” a iniciativa legislativa relativa à transparência da propriedade de órgãos de comunicação social em Portugal que foi chumbada em Julho pelo PSD e pelo CDS.

Um novo projecto-lei do PS (para regular a promoção da transparência da propriedade dos órgãos de comunicação social) deu entrada a 26 de Outubro último, segundo informou ontem o grupo parlamentar do PS.

Em Portugal, os interesses angolanos nos media estão já presentes através da Newshold, que detém o semanário Sol, pelo menos 15% da Cofina (dono do Correio da Manhã, Jornal de Negócios e outros títulos), menos de 2% do grupo Impresa (que detém a SIC e o Expresso) e é uma potencial candidata à privatização da RTP.

“É óbvio que estes investimentos são pensados por razões políticas. E essa razão é controlar a informação sobre Angola e sobre a presença e os actos da elite angolana em Portugal. E também dos negócios portugueses associados ao poder angolano”, disse o jornalista angolano Rafael Marques na entrevista ao PÚBLICO.