Schizzofrenik

Gostamos de inquéritos — e de música. Decidimos encostar à parede pequenas editoras portuguesas. A Schizzofrenik é o "monstro" (com os dentes mais brancos) de João Dorminsky

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Paulo Pimenta

Ninguém vos disse que já não se vive da música?

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Ninguém vos disse que já não se vive da música?

Nem sei bem se já nos disseram isso de uma forma tão directa, mas a música não se resume a compor canções. Há muitas formas de sobreviver na música, mas depende muito da forma como encaramos aquilo que se gosta de fazer. Vender rodelas de plástico ou vinil nunca foi a única forma de fazer dinheiro nesta área. Com alguma criatividade chega-se sempre a novas ideias, mas é preciso saber ziguezaguear e adbicar das que não funcionam. Se não se fizer dinheiro com isso, que se façam outras coisas, mas sem esquecer por que começamos. Com vontade é sempre possível arranjar tempo para as nossas paixões.

Escolheram o nome da vossa editora numa noitada de Scrabble?

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Luís Octávio Costa e Amanda Ribeiro têm saudades do inquérito da revista Pública

Quase. Com 15 anos tudo parece incrível com z's e k's, e "Schizzofrenik" pretendia ser um nome que traduzisse a não-existência de barreiras criativas e o ecletismo dos projectos da então somente editora. Só queriamos partilhar o que estávamos a fazer, porque tínhamos demasiada música na gaveta. Foi idealizada em 2005 como uma editora focada em lançar projectos de qualquer género musical, sempre como resultado da sua fusão com a música contemporânea. No entanto, só em 2007 é que arrancou na organização de eventos como o Baile dos Vampiros, uma festa temática de música, cinema e cocktails, e o novo Music Drinks, um evento de "networking" gratuito para todos os apaixonados por empreendedorismo e música, que se realiza já no dia 13 de Setembro no Hard Club. Também nos entretemos a fazer compilações temáticas para marcas e andamos dedicados ao desenvolvimento de plataformas informáticas. Por isso, pode-se dizer que a Schizzofrenik está a dar lugar a um "monstro" com os dentes mais brancos.



Que bandas de outra editora levariam para uma ilha deserta?

Numa ilha deserta coisa que não deve faltar é tempo! Tínhamos de levar malta bem-disposta e com vontade de fazer coisas diferentes. Adorava juntar Sérgio Godinho, Simone de Oliveira, Tozé Brito, Rão Kyao, José Cid e outros artistas da praça, num projecto de homenagem à música popular portuguesa com um "twist" moderno. A música portuguesa precisa de um empurrão sério para o mundo. Existem bandas incríveis em Portugal como é o caso dos Dead Combo, PAUS, Buraka Som Sistema, Linda Martini, Mão Morta, Micro Audio Waves e Legendary Tigerman, mas é ao ouvir projectos como os Throes + The Shine, We Trust, Black Bombaim, Stealing Orchestra, Swinging Rabbits e muitos outros, que se sente que a música moderna portuguesa merece a oportunidade de chegar ao máximo de ouvidos possível. Mesmo que por vezes seja para puxar pela cabeça. Nem tudo o que é bom é óbvio e fácil de ouvir.

A vossa editora tem sotaque?

Talvez sim, talvez não. Há sempre aqueles momentos em foge a língua e aí o sotaque do Porto, Braga, Lisboa e Viana do Castelo sobressai na música de Pi, Tigre Deficiente, Sistema de Som Sarcástico, BlackBambi e Adamastor, mas como valorizamos muito o instrumental, nem sempre chega a ser algo verbal. Como somos muito dados a colaborações, também temos andróides anarquistas com sotaques robotizados em Punk Androids. Fazemos questão de ver a nossa "portugalidade" como parte de um relacionamento intercultural. Deixamos sempre espaço para mais umas línguas estranhas.

Quando é que foi a última vez que encheram os bolsos — e o ego?

De certeza que o ego ficou tipo balão no último Baile dos Vampiros com o concerto de Zen, não fossem eles uma das minhas bandas de coração. Foi daqueles momentos únicos, com o Hard Club a abarrotar de gente. Os bolsos, mmm...

Um álbum também se come com os olhos. Quem é o verdadeiro artista?

Somos todos uns artistas! Começamos sempre pelo "brainstorm", criamos experiências inesperadas que valorizem os nossos eventos, concertos e edições. Pela experiência que temos, achamos que devemos oferecer algo mais do que o óbvio. Tem sempre a ver com o conceito de cada projecto e até onde o podemos levar através da performance, teatro, vídeo e, por vezes, até mesmo da gastronomia. O design é da autoria da Prumma, empresa de consultoria de design criada por mim e pela Mariana Alpedrinha Valença (design/"business thinker"), e depois temos sempre os nossos amigos talentosos e colaboradores pró-activos: o fotógrafo e amigalhaço Sandro Oliveira, o realizador Victor Carvalho, o "motion designer" Pedro Cruz e o fotógrafo Miguel Oliveira. E não nos podemos esquecer dos 31 artistas (designers, pintores, ilustradores) que fazem parte do calendário de Verão de Tigre Deficiente. Para nós, são a "crème de la crème"! Pode-se fazer daquelas listas de agradecimentos tipo óscares?! Não? Pronto.

Qual é o melhor sítio para ouvir música?

Definitivamente em concerto, mas preferencialmente em viagem. São os momentos em que não existem distracções e só o som interessa. Aí sim, é a melhor forma de absorver uma possível banda-sonora para a nossa vida. A nossa música procura isso mesmo: ser uma experiência para os sentidos. Mas para abastecer tem que ser no nosso site ou no nosso Facebook. :D

E que tal uma piada seca?

Quantos bateristas são precisos para apertar uma lâmpada?

Resposta: Sete. Um para segurar a lâmpada e seis para se embebedarem até que a sala comece a rodar.