Cientistas propõem pequenas alterações nas estradas para evitar morte de animais

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Para muitas espécies, as estradas representam barreiras às migrações Foto: Nuno Ferreira Santos

Entre Abril de 2008 e Setembro de 2009, uma equipa de investigadores do Centro de Biologia Ambiental da Universidade de Lisboa colocou transmissores em 11 corujas-das-torres e 11 fuinhas (duas espécies com elevada taxa de mortalidade por atropelamento) para descobrir como é que as estradas influenciam os movimentos das espécies. O estudo foi feito nas auto-estradas A2 - na zona de Aljustrel – e A6 - em Vendas Novas –, com a colaboração das empresas responsáveis pela gestão e manutenção das vias rodoviárias - Brisa e Instituto de Estradas de Portugal.

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Entre Abril de 2008 e Setembro de 2009, uma equipa de investigadores do Centro de Biologia Ambiental da Universidade de Lisboa colocou transmissores em 11 corujas-das-torres e 11 fuinhas (duas espécies com elevada taxa de mortalidade por atropelamento) para descobrir como é que as estradas influenciam os movimentos das espécies. O estudo foi feito nas auto-estradas A2 - na zona de Aljustrel – e A6 - em Vendas Novas –, com a colaboração das empresas responsáveis pela gestão e manutenção das vias rodoviárias - Brisa e Instituto de Estradas de Portugal.

As conclusões do estudo, publicado nesta quinta-feira na revista norte-americana Public Library of Science ONE, com base naqueles 22 animais - a maioria com mais de dois anos de idade - são "surpreendentes", dizem os biólogos.

"Ao contrário do que inicialmente se supunha, tanto a coruja-das-torres como a fuinha só evitam estas auto-estradas quando o tráfego automóvel aumenta consideravelmente", escrevem em comunicado. Na verdade, os animais são atraídos pelas bermas das estradas com vegetação, "por aí haver maior disponibilidade de pequenos roedores que lhes servem de alimento".

As consequências estão à vista. Por exemplo, de 2004 a 2008, entre as corujas-das-torres registou-se uma mortalidade anual de 47 indivíduos por cada 100 quilómetros, “uma taxa bastante elevada”, segundo a investigadora Clara Grilo, em declarações à Lusa.

Além da preocupação com a conservação das espécies, os investigadores atendem ao problema da segurança rodoviária, pois o aparecimento repentino de um animal na estrada pode provocar acidentes com consequências para os ocupantes do veículo.

“Neste trabalho, tentamos perceber como se comportam [os animais], relativamente à estrada, para podermos ver quais as medidas mais adequadas para minimizar a mortalidade por atropelamento”, resumiu Clara Grilo. Os investigadores propõem o "corte regular da vegetação ou a elevação das bermas a três ou quatro metros, para que as corujas mantenham o voo alto e cruzem a estrada sem colidir com os veículos”, listou a investigadora.

As fuinhas cruzam regularmente a estrada e existem várias passagens, hidráulicas, inferiores e superiores, que podem ser usadas, considerou Clara Grilo. A investigadora salientou que, “provavelmente, não utilizam muito estas passagens porque têm um aspecto muito artificial. Por isso, a proposta é dar-lhe um aspecto mais natural para que fiquem mais atractivas a ser usadas por estas espécies”, permitindo aceder ao outro lado da estrada de uma forma segura.

Entre as espécies mais vulneráveis ao tráfego rodoviário estão a raposa, o texugo e a fuinha, que têm de cruzar a estrada para fazer patrulhamento do seu território, em busca de alimento ou de parceiro, e aves rapinas nocturnas, como corujas, que, com o voo relativamente baixo, têm mais probabilidade de colidir com veículos.

Para muitas espécies, as estradas representam barreiras às migrações e às dispersões dos animais e às trocas genéticas entre populações. "Esta situação traz limitações à procura de alimento, abrigo e habitat, fundamentais para a sobrevivência e reprodução das espécies", escrevem os investigadores no artigo científico.