Morar em Madrid: a aventura de Helder Valente, um professor de educação física de 27 anos

Helder Valente trocou Portugal pela capital de Espanha em 2009. Não se arrepende, mas gostava que em Portugal se dessem mais oportunidades aos jovens

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Há um velho ditado português, que remonta a séculos, cujo conteúdo se resume a esta frase: “de Espanha nem bom vento, nem bom casamento”. Mas nem sempre as tradições são o que são — Helder Valente que o diga. De Espanha, não só veio bom vento, como veio uma paixão. E essa teve peso na decisão de se mudar para a capital do país vizinho.

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Há um velho ditado português, que remonta a séculos, cujo conteúdo se resume a esta frase: “de Espanha nem bom vento, nem bom casamento”. Mas nem sempre as tradições são o que são — Helder Valente que o diga. De Espanha, não só veio bom vento, como veio uma paixão. E essa teve peso na decisão de se mudar para a capital do país vizinho.

Helder Valente nasceu em Caracas, Venezuela, mas mudou-se para Oliveira de Azeméis com três anos. Estudou Educação Física e Desporto no Instituto Superior da Maia, a mesma instituição onde viria a tirar um mestrado em Ensino da Educação Física nos Ensinos Básicos e Secundário. A residir em Madrid desde 2009, trabalha na Decathlon, uma loja de artigos desportivos, mas aquilo que mais satisfação lhe dá “é dar aulas, futebol e treinar miúdos". "Meses depois de chegar a Madrid, comecei a trabalhar como treinador na Fundação Marcet. Posteriormente, em 2010, comecei a treinar no Clube/Escola de Futebol Nuevo Mejorada, que é apadrinhado pelo guarda-redes do Real Madrid António Adán”, refere Helder Valente. E desde então que é um dos treinadores do seu Campus de Verão. “As equipas que eu treino competem na Liga de Valdebebas, que decorre na cidade desportiva do Real Madrid”, especifica.

A escolha por Madrid não foi imediata, mas quando foi necessário tomar uma decisão, essa foi fácil. Helder Valente conheceu a sua actual namorada, Ainhoa Carrasco, corria o ano de 2007. Foi em Bolonha, Itália, enquanto frequentavam o programa Erasmus. Juntos desde então, tentaram a sua sorte na cidade do Porto depois de terminarem os seus cursos, “mas as coisas já não estavam fáceis e não dava para viver”, desabafa. Como Ainhoa é espanhola, decidiram "tentar a sorte em Madrid". Uma escolha que se veio provar acertada.

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Jorge Baldaia escreve quinzenalmente a rubrica Notícias do Lado de Lá

Cidade sem mar mas com "movida"

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Helder Valente e a equipa que treina DR

Madrid é a capital e a maior cidade de Espanha. É para muitos a cidade que acolhe aquele que é um dos maiores clubes do mundo, o Real Madrid, a equipa de Cristiano Ronaldo e José Mourinho. Mas, mais recentemente, também correu o planeta como a capital do “Movimento dos Indignados”. Quem não se recorda das milhares de pessoas acampadas junto à Puerta Del Sol, no centro da cidade? É, sem dúvida, uma das cidades mais visitadas na Europa. E superou as expectativas de Helder Valente.

“Sabia que era uma cidade grande, com muita gente, e achava que ia ser caótica. Não pensei que fosse adaptar-me tão rapidamente ao seu ritmo frenético. Encontrei uma cidade com muita vida, com muita movimentação de noite e de dia, com muitas coisas para fazer a todo o momento. Tem tudo! Para uma cidade sem mar é muito completa”, salienta. Além disso ficou surpreendido com a organização: “Encontrei uma cidade de amplas avenidas e muito boas comunicações. Tem também bastantes espaços verdes, o que faz com que não se fique com a sensação de asfixia como provocam outras grandes metrópoles.”

Em Madrid não conhece muitos portugueses apesar de saber que são muitos. “Os meus amigos são todos espanhóis ou de outras nacionalidades. Mas conheço alguns por intermédio de amigos que temos em comum. De vez em quando juntamo-nos para sair à noite ou para ver a selecção portuguesa. Desta forma consigo sentir-me um pouco mais em casa”, confessa.

Sobre as diferenças sociais, Helder Valente refere o facto de os portugueses serem “mais pessimistas". "Eles, os espanhóis, enfrentam os problemas de uma forma mais positiva. Além disso, gostam mais de socializar, de conviver com os amigos e a família fora de casa, nas ruas, nos bares, nos parques ou espaços desportivos do que os portugueses.”

Apesar de sentir a falta “de alguns bons amigos, família, do mar perto de casa, do café e pão português e um ou outro prato típico”, Helder Valente não pensa em regressar para já. “Estou bem aqui. Gostaria de continuar a crescer no mundo do futebol e acho que esta cidade está cheia de oportunidades. Obviamente, a crise nota-se. Não há tanto emprego como antes. Mas nesta cidade trabalho para gente jovem, como eu, vai aparecendo”, esclarece.

Só lamenta que não se aposte “mais nos jovens portugueses em Portugal, dando-lhes mais oportunidades de trabalho”. Uma situação antiga e que, infelizmente, está longe de mudar.