População impede islamistas de cortarem mão a ladrão no Mali
“Eles [os islamistas] não conseguiram cortar a mão do ladrão. Bem cedo no domingo, centenas de jovens invadiram a praça da Independência de Gao [no centro da cidade], para impedir a aplicação da sentença”, contou um professor contactado por telefone.
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“Eles [os islamistas] não conseguiram cortar a mão do ladrão. Bem cedo no domingo, centenas de jovens invadiram a praça da Independência de Gao [no centro da cidade], para impedir a aplicação da sentença”, contou um professor contactado por telefone.
Sábado à noite, num comunicado difundido nas rádios privadas de Gao, os islamistas do Movimento para a Unidade e a Jihad na África Ocidental (Mujao), anunciaram que, domingo de manhã, na praça da Independência, cortariam a mão de uma ladrão em aplicação da sharia.
Mas os islamistas nem sequer conseguiram levar o ladrão para a praça porque esta já estava ocupada por centenas de habitantes de Gao. Segundo várias testemunhas o homem a quem deveria ser cortada a mão era um jovem recruta de Mujao que tinha roubado armas para as vender.
Cortar a mão a um ladrão é uma aplicação rigorosa da sharia, que é seguida em alguns países muçulmanos, nomeadamente a Arábia Saudita. Os islamistas do Mujao querem ver instituída a sharia em todo o Mali.
“Nós não queremos saber o que é que o jovem fez, mas eles não iam cortar a sua mão à nossa frente. Os islamistas recuaram e os civis de Gao cantaram o hino nacional do Mali em sinal de vitória”, contou outro habitante da cidade.
Esta foi a primeira tentativa por parte dos islamistas que ocupam o norte o Mali de cortar uma mão nesta região onde os casais ilegítimos, os consumidores de álcool e os fumadores já foram castigados com vergastadas em público. Em Aguelhok, no nordeste, um casal não casado foi recentemente lapidado até à morte.
As três grandes cidades e as regiões administrativas do norte do Mali – Tombuctu, Kidal e Gao – que representam mais de metade do território deste imenso país do Sahel, estão ocupadas por islamistas armados desde o fim de Março.
A queda do norte do Mali nas mãos dos islamistas foi precipitada por um golpe de Estado militar que derrubou no dia 22 de Março em Bamaco, o Presidente Amadou Toumani Touré.
Os golpistas entregaram o poder aos civis em Abril, mas as autoridades de transição não conseguiram retomar o controlo do norte do país.