Miguel Gonçalves Mendes: “Estamos a ser governados por medíocres”

O realizador do filme “José e Pilar” fala ao P3 sobre o protesto convocado para pedir a demissão de Miguel Relvas

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Miguel Gonçalves Mendes

Já tinhas participado ou organizado alguma manifestação?

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Já tinhas participado ou organizado alguma manifestação?

Nunca tinha organizado nenhuma manifestação e que eu me lembre apenas participei na manifestação do 15 de Outubro.

Que pessoas se associaram à organização?

Não faço a mínima ideia. Foram pessoas da Intenet e do Facebook, mas não conhecia ninguém. Acho que essa falta de conhecimento também se sentiu ontem [dia 16] na manifestação. Não havia liderança.

Essa falta de liderança comprometeu o sucesso do evento?

Para ser honesto, não tinha nenhuma preocupação com isso. A única coisa que eu pretendia era que isto fosse o início de um movimento e que as pessoas efectivamente se mobilizassem e comparecessem. Esse era o meu objectivo, dar o mote para alguma coisa.

Numa recente entrevista afirmaste que os “representantes andam a brincar”. Estamos no caminho da ingovernabilidade?

Os nossos representantes estão a brincar com coisas demasiado sérias. O padrão de comportamento de uma série de individualidades é tão indigno e tão imoral que o que eles provocam nas pessoas é uma descrença total. E quando existe uma descrença total, então é a própria democracia que está em jogo e isso é que é assustador. Se este regime democrático cai nós não sabemos o que virá a seguir e isso é que é francamente assustador.

Porquê uma manifestação contra Miguel Relvas?

Estávamos perante uma sucessão de casos. Eu não sei se este caso é promovido por órgãos de comunicação, porque isto lhes interessa ou seja o que for. A questão é que os factos estão aí. O que importa deixar claro é que este senhor para além de ter feito pressão sobre os órgãos de comunicação também mentiu no parlamento quando disse que não conhecia o espião Jorge Silva Carvalho. Em qualquer país do mundo, civilizado e democrático, este ministro tinha sido demitido na hora. Esta é que é a verdadeira questão.

Mas o Primeiro-ministro diz que esta matéria é um não-assunto. No teu entender Pedro Passos Coelho também deve ser penalizado pela desvalorização destes casos?

Este governo foi eleito democraticamente, se eu discordo ou não discordo, essa é outra questão. As pessoas já sabiam ao que este governo vinha. É verdade que este Governo mentiu em campanha eleitoral e que passadas duas semanas fez o oposto do que prometeu. Agora a questão é: este é um governo eleito e que tem legitimidade para governar. Nós agora temos que nos aguentar com as consequências nefastas que daqui podem advir. O que eu lamento é que este Governo não esteja a governar mas sim a liquidar o país e a tirar a esperança para qualquer futuro. Um povo sem esperança é um povo que não existe.

O que está em causa?

Os nossos órgãos de soberania não podem ser a nossa vergonha e todos eles estão a brincar connosco. O senhor Presidente da República não pode perder tempo a dizer imbecilidades, como na Holanda, onde disse que os portugueses tiveram uma vida fácil. Eu pergunto se metade dos portugueses que vive abaixo dos 400 euros tem uma vida fácil. Não é isso que ele tem que fazer, ele deve zelar pela nossa dignidade.

Também numa entrevista recente criticaste os “’jotas’ que nos governam”. Achas que Miguel Relvas é a exemplificação deste problema?

Acho mesmo. José Sócrates e José António Seguro também o são. Pode haver pessoas dignas e respeitosas nos movimentos partidários. A política tem que ser respeitada e ela é necessária na sociedade. Não estou a por em causa os políticos ou a dizer que os políticos são todos um desastre. Agora, infelizmente, as “jotas” criaram uma série de vícios e de construções de carreira que são absolutamente prejudiciais para o destino do país. Estamos a falar de pessoas que vivem para os jogos partidários. Nós, neste momento, estamos a ser governados por medíocres e por pessoas que não tiveram uma carreira, que não tiveram outra formação que não as juventudes partidárias, que só conhecem a estratégia partidária e que não sabem definir quais são os desígnios do país. No fundo a preocupação delas não é o bem comum, mas sim o partido e como manter o partido no poder, para poder manter a sua clientela satisfeita.