Rio+20: "um desastre" com centenas de compromissos voluntários

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Uma criança escreve a sua mensagem para o Ambiente junto à praia de Copacabana Fred Dufour/AFP

Criar uma taxa sobre as transacções financeiras. Incluir os danos ambientais no cálculo do PIB. Eliminar os subsídios para os combustíveis fósseis. Recuperar 150 milhões de hectares de áreas desflorestadas até 2020. Fixar metas ambiciosas para as energias renováveis. Lançar um novo tratado para a biodiversidade do alto mar. Se dependesse da sociedade civil, teria ido muito mais longe o documento final da Rio+20 - a conferência da ONU sobre desenvolvimento sustentável, que termina hoje no Rio de Janeiro sob a acusação de ter sido "um desastre".

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Criar uma taxa sobre as transacções financeiras. Incluir os danos ambientais no cálculo do PIB. Eliminar os subsídios para os combustíveis fósseis. Recuperar 150 milhões de hectares de áreas desflorestadas até 2020. Fixar metas ambiciosas para as energias renováveis. Lançar um novo tratado para a biodiversidade do alto mar. Se dependesse da sociedade civil, teria ido muito mais longe o documento final da Rio+20 - a conferência da ONU sobre desenvolvimento sustentável, que termina hoje no Rio de Janeiro sob a acusação de ter sido "um desastre".

Compromissos como aqueles figuram entre as 30 recomendações que resultaram dos Diálogos para o Desenvolvimento Sustentável, uma discussão organizada pela Rio+20 em paralelo à sessão oficial. Cerca de 1300 representantes de empresas, organizações não-governamentais, universidades e outros sectores passaram dias a debater, no Rio de Janeiro, qual é o melhor caminho para o desenvolvimento sustentável, em dez temas distintos, como o emprego, pobreza, florestas, água, alimentação ou oceanos.

Para cada um dos temas foram votadas três recomendações e o resultado foi encaminhado para o segmento formal da conferência da ONU, quando, no entanto, já estava praticamente tudo decidido quanto ao documento final da Rio+20.

Mesmo que a sua influência sobre o desfecho formal tenha sido mínima, os eventos paralelos da Rio+20 parecem ter tido resultados mais concretos do que o das salas de negociação. E não foram só recomendações. Antes do início da conferência, a ONU lançara um desafio para que países, instituições, empresas, cidadãos registassem, num sítio na Internet, compromissos voluntários nas várias áreas da sustentabilidade, com datas concretas, meios envolvidos e resultados esperados. Até às 18h30 de ontem, contavam-se 517.

Mais 200 compromissos foram assumidos directamente por empresas, no Fórum de Sustentabilidade Corporativa, também no âmbito da Rio+20. Outras 86 empresas, de 27 países, prometeram incluir, no cálculo das suas contas, os efeitos da sua actividade sobre os recursos naturais. Quatro países (Brasil, Dinamarca, França e África do Sul) lançaram uma iniciativa conjunta para generalizar relatórios de sustentabilidade nas suas empresas. E os Estados Unidos prometeram dois mil milhões de dólares em empréstimos e garantias para a iniciativa Energia Sustentável para Todos, lançada pelo secretário-geral da ONU.

De autarcas a juízes, de jovens a actores, foram muitos os que deram as mãos na Rio+20 para lançar parcerias, iniciativas, promessas ou campanhas. A organização ambientalista Greenpeace reuniu um sonante conjunto de nomes do mundo artístico - incluindo Paul McCartney, Penelope Cruz, Robert Redford e Pedro Almodôvar - em apoio de uma campanha para manter o Árctico livre da exploração de petróleo e outros recursos do fundo marinho.

Documentos e pessoas

"O documento final [da Rio+20] não é o que deveria ser, mas não se salva o mundo com um documento. Vimos países, comunidades e empresas a avançarem com compromissos individuais", afirma Peter Leiner, director executivo do Conselho de Defesa dos Recursos Naturais, uma organização não-governamental norte-americana que acaba de lançar um projecto para seguir e cobrar estes compromissos. "Se pensarmos na Rio+20 como um catalisador as pessoas, então temos uma Rio+20 diferente."

Este optimismo não contagia, porém, outras organizações, que ontem voltaram a criticar fortemente a conferência. Várias abandonaram a Rio+20 ao meio da tarde, devolvendo as acreditações. "O resultado é nada mais do que um desastre", diz Daniel Mittler, da Greenpeace. "Os países desenvolvidos deram-nos uma nova definição de democracia: vieram sem dinheiro e sem vontade, e ainda apelaram à acção, fingindo que não são eles que estão a impedir que se avance".

"Houve muito pouca vontade política e nenhuma visão", avalia Lars Gustafsson, da WWF. "O caminho para uma economia verde terá de acontecer sem o beneplácito dos líderes mundiais presentes aqui no Rio de Janeiro."

O primeiro-ministro Pedro Passos Coelho entende que a conferência foi bem sucedida. "Assumimos uma responsabilidade colectiva perante as gerações futuras. Falhar não é uma opção e aqui não falhámos", disse, no seu discurso ontem na Rio+20.

François Hollande, o Presidente francês, diverge. "Estes resultados ficam aquém das nossas responsabilidades e das nossas expectativas", referiu no seu discurso.

A série Rio+20 é financiada pelo projecto PÚBLICO Mais