Exame divide Sociedade Portuguesa de Filosofia e associação de professores

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Filosofia não integrava as provas nacionais do secundário desde 2007 Foto:PÚBLICO

Na sequência de uma primeira análise ao exame que esta quarta-feira foi realizado por 5695 alunos (84% dos inscritos), o presidente da SPF, Ricardo Santos, assinala, com agrado, a inclusão de uma pergunta que “permite avaliar as competências especificamente mais filosóficas”, nomeadamente as “argumentativas e de pensamento autónomo”. Este é, contudo, o único elogio à prova.

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Na sequência de uma primeira análise ao exame que esta quarta-feira foi realizado por 5695 alunos (84% dos inscritos), o presidente da SPF, Ricardo Santos, assinala, com agrado, a inclusão de uma pergunta que “permite avaliar as competências especificamente mais filosóficas”, nomeadamente as “argumentativas e de pensamento autónomo”. Este é, contudo, o único elogio à prova.

Ricardo Santos critica a “notória” preponderância das questões que testam a capacidade de análise e interpretação de textos, em detrimento das que avaliam as competências de problematização, de conceptualização e de argumentação. Algo que, na sua perspectiva, “é revelador de um entendimento redutor da natureza da disciplina e do ensino”. “Tende a reduzir a Filosofia a um inventário de autores, textos, conceitos, teses e teorias, cuja caracterização o estudante teria simplesmente de memorizar e reproduzir”, justifica. Também é crítico em relação ao “peso excessivo concedido às perguntas sobre retórica” comparativamente com as relacionadas com lógica formal, que considera “bem mais importante na disciplina”.

A direcção a Associação de Professores de Filosofia (APF) considera, pelo contrário, “a prova equilibrada”. “Os textos incluídos são de leitura acessível, permitem a contextualização dos temas e constituem um bom ponto de partida para as respostas” analisa a direcção da APF, que considera, ainda, que “as perguntas estão redigidas de forma clara, não constituindo obstáculo a qualquer aluno que tenha estudado”. O facto de os autores seleccionados serem “de referência e conhecidos dos alunos” é também assinalado como positivo, no breve parecer.

As posições entre a APF e a SPF são também diferentes no que respeita a eventuais erros e desadequações ao programa. Ricardo Santos considera que no item 2.3. do grupo II, de escolha múltipla, “nenhuma das opções apresentadas é correcta”. “Em particular, a opção C [apontada nos critérios de correcção como a que está certa] não é correcta, uma vez que há muitos argumentos dedutivamente válidos que também parecem sê-lo. Para caracterizar os argumentos falaciosos seria preciso dizer que eles parecem válidos, mas não o são”, argumenta Ricardo Santos.

Assinala ainda que o item 1.2. do Grupo IV “parece desviar-se um pouco dos conteúdos programáticos”. “O que os alunos devem estudar é o empirismo de Hume enquanto teoria explicativa do conhecimento. A perspectiva que Hume tinha sobre a origem da ideia de Deus não é um elemento central da sua teoria do conhecimento”, escreve Ricardo Santos que admite como “natural que muitos alunos nem sequer a conheçam”.

Contactado pelo PÚBLICO e confrontado com estas questões, um dos elementos da APF, João Carlos Lopes, limitou-se a sublinhar que na análise da prova feita por vários elementos da associação “não foram detectados casos de erro ou de desadequação em relação ao programa que merecessem registo”. O Ministério da Educação e Ciência, questionado através do gabinete de imprensa, ainda não se pronunciou, sobre o assunto.

O exame de Filosofia não integrava o elenco das provas nacionais do ensino secundário desde 2007. Antes era realizado no 12.º ano, agora passou a ser no 11.º, com carácter facultativo. No ao ano passado, os alunos do 11.º ano tinham de realizar exames nas duas disciplinas bienais específicas do curso que escolherem. Agora puderam optar por fazer exame apenas numa dessas duas disciplinas e realizar a prova de Filosofia, que faz parte do tronco comum dos dois primeiros anos do secundário.