Era uma vez o mamute mais pequeno de sempre… que vivia em Creta

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O mamute anão teria o tamanho de um elefante bebé WIlliam West/AFP (arquivo)

Há muitas centenas de milhares de anos, as ilhas mediterrânicas tinham uma fauna digna de fábulas. Pequenos veados, hipopótamos e elefantes pastavam em ilhas como a Sicília, Malta ou Chipre. Por algum motivo, os seus antepassados conseguiram lá chegar e, ao longo de gerações, foram diminuindo de tamanho, adequando-se às proporções insulares. Agora um estudo revela que em Creta viveu o mamute mais pequeno de sempre.

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Há muitas centenas de milhares de anos, as ilhas mediterrânicas tinham uma fauna digna de fábulas. Pequenos veados, hipopótamos e elefantes pastavam em ilhas como a Sicília, Malta ou Chipre. Por algum motivo, os seus antepassados conseguiram lá chegar e, ao longo de gerações, foram diminuindo de tamanho, adequando-se às proporções insulares. Agora um estudo revela que em Creta viveu o mamute mais pequeno de sempre.

O Mammuthus creticus, mamute-de-creta, media cerca de 1,1 metros de altura até à zona do ombro e pesava 310 quilos, revela um artigo publicado nesta quarta-feira na revista britânica Proceedings of the Royal Society B.

Comparado com o extinto mamute-lanudo, de quatro metros de altura e a imagem de marca da Idade do Gelo, este seria um autêntico anão. Quem visse passar o mamute-de-creta poderia confundi-lo com um elefante-asiático bebé, se não fosse pelas suas presas enroladas típicas dos mamutes, explica Victoria Herridge, co-autora do artigo juntamente com Adrian Lister, ambos investigadores do Museu de História Natural de Londres.

“Se fosse reconstruído, diria para o fazerem mais ou menos parecido com um elefante bebé, mas provavelmente mais entroncado… com uns membros mais grossos. E um adulto teria presas encurvadas”, descreve a investigadora à agência noticiosa AFP. “Deveria ser bastante fofo.

Estas conclusões não foram obtidas de ontem para hoje. Parte do espólio paleontológico, que foi utilizado para este projecto, é antigo. Os primeiros fósseis desta espécie eram de dentes e foram encontrados em 1904 no Noroeste de Creta. Durante décadas pensou-se que este fóssil pertencia a uma espécie de elefantes que seria descendente do Palaeoloxodon antiquus, o elefante extinto que há cerca de 780.000 anos colonizou a Europa e era muito semelhante ao que existe hoje na Ásia. Esta suposição baseava-se nas espécies de elefantes anões que existiam noutras ilhas mediterrânicas.

Mas novos vestígios paleontológicos encontrados recentemente, também no Noroeste de Creta – que incluem outros fósseis de dentes e um fóssil de um osso da pata dianteira de um indivíduo –, deitaram por terra aquela hipótese. A nova análise dos dentes fossilizados feita pelos investigadores detectou padrões de esmalte que só são observados em mamutes. Segundo os autores, a espécie de Creta terá derivado ou do Mammuthus meridionalis ou do Mammuthus rumanus. Apesar de já se terem identificado outras espécies de mamute que eram anãs, está é a mais pequena de todas.

“O mais cedo que eles terão chegado a Creta foi há 3,5 milhões de anos”, explica a investigadora. A razão deste limite temporal deve-se ao facto de os dois antepassados desta espécie terem surgido há aproximadamente 3,5 milhões de anos.

Ao contrário do mamute-lanudo, a nova espécie anã terá perdido a lã, que era mais apropriada nas latitudes nórdicas, mais frias. O mamute-de-creta alimentava-se de plantas, segundo os investigadores.

Como inúmeros exemplos de outras espécies que colonizam ilhas, o ecossistema mais limitado e finito garantiu que os mamutes mais pequenos fossem tendo mais sucesso ao longo das gerações, num processo de selecção natural. Assim, o mamute foi gradualmente diminuindo de tamanho, até se tornar num mamutezinho. Mas, atenção, avisa Adrian Lister: “Se alguém fosse conhecer um deles, ficaria um pouco intimidado, ainda teria um metro de altura e presas.”