E Agora, Onde Vamos?

A libanesa Nadine Labaki assinou a sua primeira longa-metragem, "Caramelo", há uma meia-dúzia de anos. Passava-se em Beirute, e se havia ecos da conturbada história recente do Líbano eles eram apenas isso, “ecos”, ruído de fundo.

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A libanesa Nadine Labaki assinou a sua primeira longa-metragem, "Caramelo", há uma meia-dúzia de anos. Passava-se em Beirute, e se havia ecos da conturbada história recente do Líbano eles eram apenas isso, “ecos”, ruído de fundo.


À segunda longa-metragem - que é esta que agora estreia - decidiu que o que era eco devia agora ser o centro de tudo: assim, "E Agora, Onde Vamos?" (título que reflecte o impasse de que Labaki quer falar) mergulha em cheio nos conflitos religiosos e no sectarismo que há décadas afligem o Médio Oriente e, em especial, o Líbano. Com uma mistura, bem doseada, de bonomia e gravidade. Como as mulheres do seu filme, Labaki (que é uma delas, visto também ser actriz) tem pelas personagens masculinas uma profunda compaixão - mas eles, os homens, são exasperantes.

Carregando sobre eles todas as responsabilidades pela guerra e pelo sectarismo, "E Agora, Onde Vamos?" é a história de um grupo de mulheres que perde a paciência para os homens e, como em certas peças gregas, serve-se de uma espécie de chantagem para os domar. Estamos portanto numa pequena aldeia libanesa isolada onde cristãos e muçulmanos convivem pacificamente. Como a aldeia é isolada e só há uma televisão, cristãos e muçulmanos nem sabem que, à volta deles, a norma é que cristãos e muçulmanos não se dêem lá muito bem.

Começam a chegar ecos de agitação sectária no resto do Líbano e, como uma doença, a coisa pega-se: num instante os outrora pacatos aldeões passam a detestar-se e a praticar malfeitorias uns aos outros. Fábula gentil, E Agora, Onde Vamos? trabalha em comédia (de costumes) progressivamente inquieta, à medida que a unidade primordial do início vai ficando mais longe - e a chave “ecuménica” está talvez naquela personagem que vai indistintamente à mesquita e à igreja e ninguém sabe dizer se é cristão ou muçulmano (não por acaso: é assim a modos que o idiota da aldeia).

Gentileza e modos brandos que não impedem as soluções severas - uma conversão em massa, para que os homens tenham que passar a dormir todas as noites com o Outro (ou com a Outra) - que não são soluções nenhumas: “e agora, onde vamos?”, derradeira frase do filme. Que nesta sua maneira de abordar com suavidade uma questão nada suave é suficientemente airoso para tornar simpática a sua relativa menoridade.