Deslindado o mistério dos girassóis mutantes de Van Gogh

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O girassol parece uma flor, mas na verdade são muitas flores agregadas, por isso chama-se inflorescência. Cada estrutura que se assemelha a uma pétala grande e amarela não é mais do que uma flor modificada, incapaz de produzir sementes. Por dentro também existem inúmeras pequenas flores em forma de tubo, que estão arrumadas em círculos concêntricos. Podem ser polinizadas e dar sementes.

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O girassol parece uma flor, mas na verdade são muitas flores agregadas, por isso chama-se inflorescência. Cada estrutura que se assemelha a uma pétala grande e amarela não é mais do que uma flor modificada, incapaz de produzir sementes. Por dentro também existem inúmeras pequenas flores em forma de tubo, que estão arrumadas em círculos concêntricos. Podem ser polinizadas e dar sementes.

A estrutura é muito eficiente na polinização e várias espécies diferentes de plantas da família dos girassóis evoluíram neste sentido.

A disposição natural do girassol é de uma circunferência externa de grandes “pétalas” e várias circunferências até ao centro de pequeninas flores. Mas existem indivíduos mutantes que apresentam um gradiente de grandes “pétalas” desde a parte mais externa até ao centro da inflorescência.

Estas duplas flores, como lhes chamaram os cientistas, estão representadas numa série de quadros de Van Gogh. Uma equipa da Universidade da Georgia, nos Estados Unidos, fez vários cruzamentos destas variedades de girassol para compreender o funcionamento dos genes por trás do fenómeno.

A equipa, liderada por John Burke, já sabia que estas modificações tinham de estar associadas a um gene que controla a forma das flores. Através de uma análise genética, os investigadores perceberam que, na planta mutada, parte deste gene não funcionava bem.

O mecanismo que naturalmente restringia as flores que se parecem com grandes “pétalas” à parte exterior da inflorescência ficava desligado nas plantas com a mutação e todas as estruturas que deveriam tornar-se pequenas flores acabavam por se diferenciar em “pétalas”. O resultado era um indivíduo infértil.

Mas os cruzamentos desvendaram ainda uma segunda mutação, que provocava no girassol o efeito inverso das duplas flores. Neste caso, na inflorescência só se desenvolviam pequenas flores tubulares. As grandes “pétalas” que normalmente estavam na parte exterior foram substituídas por flores tubulares amarelas um pouco maiores. A equipa descobriu que a causa desta mudança era uma alteração do gene que controla a forma das flores e inutilizava completamente o seu funcionamento.

“Além de ter interesse do ponto de vista histórico, esta descoberta permite-nos compreender a base molecular de uma característica que é importante a nível económico”, sublinhou Burke. E assim ficámos a perceber como é que parte dos girassóis de Van Gogh era, afinal, infértil.