Barão-Hutter, como transformar um picadeiro num teatro?

Ivo Barão nasceu em Faro e tem 25 anos. Peter Hutter é suíço e tem 28. Juntos têm um atelier que recentemente se mudou para um antigo talho e loja de ferramentas

Fotogaleria

Transformar um picadeiro militar do século XIX no Teatro Oxer. Esse é o desafio a que se propõe o atelier Barão-Hutter — do arquitecto português Ivo Barão, 25 anos, e do suíço Peter Hutter, 28 —, vencedor do concurso para a construção do edifício na cidade suíça de Aarau, capital do cantão Argóvia.

A verdade faz-nos mais fortes

Das guerras aos desastres ambientais, da economia às ameaças epidémicas, quando os dias são de incerteza, o jornalismo do Público torna-se o porto de abrigo para os portugueses que querem pensar melhor. Juntos vemos melhor. Dê força à informação responsável que o ajuda entender o mundo, a pensar e decidir.

Transformar um picadeiro militar do século XIX no Teatro Oxer. Esse é o desafio a que se propõe o atelier Barão-Hutter — do arquitecto português Ivo Barão, 25 anos, e do suíço Peter Hutter, 28 —, vencedor do concurso para a construção do edifício na cidade suíça de Aarau, capital do cantão Argóvia.

Em conversa com o P3, Ivo Barão recorda “um lugar escurecido por janelas entaipadas”, “um espelho grande desbotado” e “uma antiga ponte-de-comando que dividia a meio o picadeiro”. “Um holofote de pé esforçava-se por iluminar sem efeito a vastidão do picadeiro”, completa o arquitecto nascido em Faro e formado pela FAUP.

Entre 33 equipas sobressaiu um projecto que se destaca pela “radicalidade, viabilidade e clareza das soluções que preservam as qualidades poéticas” do lugar. O gabinete Barão-Hutter procurará “intervir o mínimo possível”, estando previstos “novos corpos”. Três lonas de feltro, que deverão trabalhar como barreira acústica, são montadas ostentosamente no meio do picadeiro e sobre o foyer, enquanto 20 pilares em betão carregam as novas travessas onde serão montadas as estruturas de som e luz. As cavalariças também serão restauradas e transformadas numa oficina, uma sala de provas e produção.

Um dos trunfos do atelier são os artesãos de diferentes áreas que se associam aos projectos Barão-Hutter — juntos desde a Academia de Arquitectura de Mendrisio. “Como jovens arquitectos, precisamos de recorrer constantemente à experiência e diligência de mestres-vidreiros, carpinteiros, ferreiros, construtores navais, artistas, jardineiros e até cozinheiros, que nos aconselham no desenvolvimento das nossas ideias”, explica Ivo Barão.

Foto
Ivo Barão e Peter Hutter DR

“É fantástico como em poucas horas se prepara um protótipo. As suas oficinas e estaleiros fascinam-nos e inspiram-nos, impõem-nos um certo ritmo de trabalho. Sempre desejamos trabalhar em espaços com este carácter e não num gabinete ou escritório”. Exemplo disso é o candeeiro TAU, fabricado na Marinha Grande (foto à esquerda).

Um atelier num talho

A base Barão-Hutter respira através desses mesmos poros. “Quando fundámos o atelier, alugámos um pequeno contentor Basislager no quarteirão industrial, em Binz, entre o sopé da montanha de Uetliberg e o lago de Zurique. Então, começámos a produzir grandes maquetas para concursos, o espaço começou a escassear e, recentemente, mudámos para um novo espaço, uma antigo talho e loja de ferramentas”.

O Teatro Oxer, com inauguração prevista para 2015, não é o primeiro desafio ligado às artes. Após o projecto Arkadia, que se encontra na fase de protótipo, seguiu-se o Kiosk Mythenquai para a cidade de Zurique (juntamente com o artista plástico Rui Anahory), estando ainda na forja o Masterplan para o quarteirão dos Museus e Jardim da cidade de St. Gallen.

Fundado em Julho de 2010, o atelier Barão-Hutter admite que “é fácil crescer como atelier”. “Difícil é mantê-lo pequeno”, completa Ivo Barão. “Pequeno é bom, pequeno é familiar, pequeno é sossegado, necessário para se manter a qualidade”.