Raquel quer apenas um emprego, nem que seja no Qatar

Licenciada em Jornalismo pela Universidade Nova de Lisboa, Raquel Dionísio está desempregada há meio ano. Foi à Festa do Desempregado e trazia ao peito um autocolante onde se lia: “Eu escrevo, faço revisões de texto e danço”

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Gente de copo na mão, a dançar, de bloco em punho, a anotar ofertas de trabalho. O grupo Alfama-te deu sábado à noite uma festa invulgar no Clube Lusitano, em Lisboa: encheu as paredes de anúncios de empregos e disponibilizou-se para espalhar currículos pela rede de contactos do grupo. Os jovens desempregados aderiram: imprimiram o currículo e, por uma noite, deixaram o desânimo em casa. Raquel Dionísio foi um deles.

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Gente de copo na mão, a dançar, de bloco em punho, a anotar ofertas de trabalho. O grupo Alfama-te deu sábado à noite uma festa invulgar no Clube Lusitano, em Lisboa: encheu as paredes de anúncios de empregos e disponibilizou-se para espalhar currículos pela rede de contactos do grupo. Os jovens desempregados aderiram: imprimiram o currículo e, por uma noite, deixaram o desânimo em casa. Raquel Dionísio foi um deles.

Raquel, 30 anos, foi à Festa do Desempregado com um autocolante ao peito onde se lia: “Eu escrevo, faço revisões de texto e danço”. Licenciada em Jornalismo pela Universidade Nova e desempregada há seis meses, tem um percurso de vários anos a saltar de trabalho em trabalho, com os pratos todos a girar em simultâneo.

No fim do curso, em 2004, fez estágio num jornal diário. Depois, trabalhou numa revista feminina. Passou por um período de desemprego de cinco meses e, quando voltou a trabalhar, foi num "call center". Ao mesmo tempo, fazia trabalhos, em regime "freelancer", como revisora de texto para uma revista de artes plásticas, e como redactora para uma outra publicação "online" na mesma área.

Sem direito a subsídio desemprego

Deixou o "call center" quando, há um ano, arranjou emprego numa agência de publicidade. Fazia revisões de texto e traduções: ganhava 850 euros por mês. Não estava à espera que a mandassem embora – a ela e aos outros colegas. Motivo? A empresa estava sem dinheiro. Antes de estar a contrato nesta agência, Raquel esteve a recibos verdes. No fim, quando a despediram, percebeu que não tinha tempo suficiente de contrato para ter direito a subsídio de desemprego.

Tenta safar-se como "freelancer" aqui e ali: entre outros, ainda fez retroversões para a agência que a despediu e também trabalhos para as revistas de artes plásticas que, entretanto, começaram a deixar de lhe pagar. É a família que a ajuda: o pai é contabilista e a mãe tem uma loja de brinquedos que “também não está muito bem”. Vive com a mãe, em Lisboa. A única vez que esteve fora de casa foi durante o Erasmus, em Inglaterra. Também tem formação em dança e, volta e meia, vai a audições para participar em espectáculos.

Planos? Raquel ri-se: “Tenho planos de escrever um livro. Mas preciso de dinheiro para sobreviver enquanto escrevo o livro”. Vai continuar a procurar trabalho, e “não só na área”: “Na faculdade fiz coisas de 'catering', posso servir num café, qualquer coisa.” Embora preferisse ficar em Portugal, o estrangeiro também é uma hipótese. Recentemente participou num recrutamento para assistentes de bordo. Se tivesse sido escolhida, teria ido viver para o Qatar.