Sócrates tem "memória doce" de discussão "gravíssima" com Soares

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Da parte de José Sócrates, não há memória de uma discussão brutal

Para Mário Soares, foi "uma discussão gravíssima". Para José Sócrates, uma conversa que lhe deixou "memórias doces", como todas as outras que tem tido com o ex-Presidente. Grave era apenas o assunto da troca de argumentos: o futuro do país, assegurou ao PÚBLICO fonte próxima do ex-primeiro-ministro.

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Para Mário Soares, foi "uma discussão gravíssima". Para José Sócrates, uma conversa que lhe deixou "memórias doces", como todas as outras que tem tido com o ex-Presidente. Grave era apenas o assunto da troca de argumentos: o futuro do país, assegurou ao PÚBLICO fonte próxima do ex-primeiro-ministro.

Mário Soares revelou quinta-feira à noite, na Figueira da Foz, que José Sócrates acabou por ceder "à evidência" de ter de pedir ajuda externa, depois de com ele ter tido uma "gravíssima" discussão. Numa apresentação do seu livro Um político assume-se, Soares revelou aquela troca de argumentos nestes termos, citado pela Lusa: "Tive uma discussão com ele gravíssima, porque queria que ele pedisse o apoio e ele não queria. Falei muito com ele, durante muito tempo, duas horas ou três, discutimos brutalmente, mas amigavelmente, eu a convencê-lo e ele a não estar convencido", afirmou.

Acrescentou que também o então ministro das Finanças Teixeira dos Santos contribuiu para a decisão do Governo liderado por José Sócrates de pedir a intervenção do Fundo Monetário Internacional em Portugal. "Depois, o ministro das Finanças também interveio mais tarde e ele [Sócrates] acabou por ter de ceder, perante a evidência das coisas", frisou.

Da parte de José Sócrates, não há memória de uma discussão brutal, no sentido de ter havido gritos, mas sim de uma acesa troca de argumentos sobre o que estava em causa. Sócrates - afirma a mesma fonte - defendeu nessa discussão aquilo que sempre tinha dito e continua a dizer: que pedir ajuda externa era um "erro evidente" que colocaria Portugal "numa situação de dependência e ostracismo". E acrescenta, em nome do ex-primeiro-ministro: "Vemos hoje tudo o que perdemos por ter pedido ajuda externa: níveis de desemprego, de falências, ratings da República, dos bancos: quantos anos vamos demorar a regressar aos níveis de há um ano?"

Sobre as conversas e os conselhos que recebeu de Mário Soares ao longo do tempo, a mesma fonte recorda em particular um episódio ocorrido pouco depois do discurso de Cavaco Silva na tomada de posse do seu segundo mandato, a 9 de Março de 2011. Nessa altura, o ex-Presidente enviou a José Sócrates um recado urgente, através de Almeida Santos, dizendo que devia demitir-se. Mas o ex-primeiro-ministro fez então o que sempre fazia: ouvia e depois não seguia o conselho, porque não estava de acordo.

Sócrates demitiu-se mais tarde, a 23 de Março, depois do "chumbo" do PEC IV no Parlamento, e depois de perder as eleições de 5 de Junho foi para Paris. Questionado na Figueira da Foz sobre se Sócrates tenha "fugido" do país, Soares defende-o: "Não fugiu nada, coitado, não podia era continuar ali. Foi atacado por toda a gente da pior maneira". "É preciso ter uma coragem muito grande para aguentar o que ele aguentou", acrescentou, argumentando que José Sócrates "fez bem" em se demitir e ter ido para França.