Queda das taxas de emprego penalizou mais os licenciados

Foto
Os dados estão no último relatório sobre o Estado da Educação Foto: Rui Gaudêncio

Esta é uma das "especificidades" que Portugal apresenta no cenário actual de restrição das oportunidades de emprego, frisa-se no último relatório sobre o Estado da Educação, onde se faz um balanço sobre a evolução das qualificações dos portugueses entre 2000 e 2010.

A verdade faz-nos mais fortes

Das guerras aos desastres ambientais, da economia às ameaças epidémicas, quando os dias são de incerteza, o jornalismo do Público torna-se o porto de abrigo para os portugueses que querem pensar melhor. Juntos vemos melhor. Dê força à informação responsável que o ajuda entender o mundo, a pensar e decidir.

Esta é uma das "especificidades" que Portugal apresenta no cenário actual de restrição das oportunidades de emprego, frisa-se no último relatório sobre o Estado da Educação, onde se faz um balanço sobre a evolução das qualificações dos portugueses entre 2000 e 2010.

Enquanto a taxa de emprego dos jovens com o ensino secundário praticamente não se alterou, a quebra no grupo dos licenciados com menos de 25 anos foi de quase 20%. Elísio Estanque, sociólogo e investigador do Centro de Estudos Sociais da Universidade de Coimbra, não considera estes dados surpreendentes e relaciona-os com "a falta de modernização e de inovação do tecido empresarial português, excepcional a nível europeu".

"Estamos a falar de um país em que os patrões são menos qualificados do que os empregados e onde se chega ao ponto de alguns jovens se sentirem constrangidos a omitir que têm uma licenciatura para conseguir um emprego, por estarem cientes de que o empregador optará por aquele que tiver menos qualificações", comenta Elísio Estanque.

Com base em dados do Eurostat sobre o emprego, o Conselho Nacional de Educação (CNE), que elaborou aquele relatório, constata também que a situação do grupo dos 15 aos 24 anos se repete noutros escalões etários, ou seja, são os licenciados que "sofrem a maior quebra das taxas de emprego", ao contrário do que se passou na maior parte dos países da UE. O CNE é um órgão consultivo da Assembleia da República.

Apesar de os licenciados terem sido mais penalizados, a taxa de emprego da população portuguesa com ensino superior continua a ser mais elevada do que a de outros grupos. No grupo dos 25 aos 64 anos era, em 2010, de 85,4%, enquanto a dos que concluíram o ensino secundário ou o básico era, respectivamente, de 79,9% e 68,2%. Uma qualificação a nível superior continua a ter vantagens, "tanto no acesso ao emprego como nas probabilidades de o manter", o que pode ser confirmado através da evolução das taxas de desemprego, afirma o CNE.

Em 10 anos, a percentagem da população entre os 25 e os 64 anos com o ensino superior subiu de 8,8% para 15,4%. A diferença para a média europeia (25,9%) é de 10,5 pontos percentuais. Já no que respeita aos que, nesta faixa etária, concluíram o ensino secundário, Portugal (31,9%) está ainda a 41 pontos percentuais de distância da média europeia (72,7%), continuando assim no patamar inferior (ver texto nestas páginas).

O número de diplomados passou de 61.140 em 2000 para 76.609 em 2010. Entre os que se licenciaram no ano passado, 60,1% eram do sexo feminino, uma situação que o CNE frisa ser "consistente com a observação dos percursos escolares femininos no ensino básico e secundário", onde as raparigas têm, no geral, melhores desempenhos e chumbam menos.

O aumento do número de licenciados foi particularmente significativo no grupo etário dos 30 aos 34 anos, onde a taxa de diplomados mais do que duplicou, passando de 11,3% para 23,5%. Apesar deste salto, o CNE frisa que não deve "ser iludida a dificuldade de se alcançar a meta europeia" definida para 2020, que aponta para pelo menos 40% de licenciados naquele grupo etário.

O cumprimento desta meta "exige um esforço continuado de integração das novas gerações e de captação de novos públicos", recomenda. Este último objectivo tem sido alcançado com o "funcionamento dos cursos de ensino à distância e em regime pós-laboral, o incremento da oferta de cursos de especialização tecnológica, o ingresso de adultos maiores de 23 anos".

Frisa também que " a transição do ensino secundário para o superior necessita de ser melhor articulada no plano curricular de modo a garantir a preparação adequada dos alunos para o prosseguimento com sucesso dos estudos escolhidos".

A área de Ciências Sociais, Comércio e Direito é a que tem maior peso, cobrindo mais de 25% da oferta educativa. Neste grupo as Ciências Empresariais representam 46%, enquanto Agricultura se fica pelos 2%. Quanto ao grau de formação, 48,4% dos cursos são de mestrado, 38,4 de licenciatura e 13,2 de doutoramento. Em 2010, existiram 143 instituições do ensino superior, com 3623 cursos acreditados, e um total de 383.627 estudantes. Aos 20 anos, um cada três jovens está a frequentar o ensino superior.

Dos estudantes inscritos pela primeira vez, 12,3% entraram no ensino superior através das provas para maiores de 23 anos. Para este concurso não é necessário ter o ensino secundário. No ensino público apenas se inscreveram 52,6% dos candidatos aprovados nestas provas.

Notícia actualizada às 13h48 com versão completa do texto.Leia mais no PÚBLICO de hoje ou na edição online exclusiva para assinantes.