Compreender melhor os mecanismos do cancro do ovário (e tentar dar-lhe a volta)

Cientistas do IPO foram premiados com estudo de molécula inflamatória associada ao prognóstico do cancro do ovário

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Um grupo de jovens investigadores do IPO do Porto deu novos passos no estudo de terapêuticas e soluções para aumentar a sobrevivência de doentes com cancro do ovário. Perceber o impacto da produção de uma molécula inflamatória responsável pelo crescimento do tumor foi o objectivo desta investigação que valeu à equipa de Dânia Marques, principal autora, o prémio Sanofi Oncologia 2011.

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Um grupo de jovens investigadores do IPO do Porto deu novos passos no estudo de terapêuticas e soluções para aumentar a sobrevivência de doentes com cancro do ovário. Perceber o impacto da produção de uma molécula inflamatória responsável pelo crescimento do tumor foi o objectivo desta investigação que valeu à equipa de Dânia Marques, principal autora, o prémio Sanofi Oncologia 2011.

“Fomos ver se esta variação [genética] individual de cada um tinha importância a nível do tumor. Sabemos que níveis mais elevados desta proteína, a interleucina-8, estão associados a tumores mais agressivos”, explica a investigadora de 31 anos. Por outras palavras, os cientistas concluíram que há uma relação entre tais moléculas e a sobrevivência das pacientes.

Compreender melhor os mecanismos biológicos da molécula inflamatória, que está associada à formação de novos vasos que alimentam o tumor, abre caminho para que os investigadores percebam de que modo a variação genética pode interferir no prognóstico ou na resposta terapêutica de cada paciente.

Dânia Marques explica a acção do crescimento do tumor no ovário e como este afecta a quimioterapia

O cancro do ovário é uma doença pouco estudada. O que a caracteriza é o facto de ser silenciosa. Numa fase inicial não apresenta sintomas. É, por isso, detectada em fases mais tardias, sendo as fortes dores no abdómen um dos principais indícios. Este tipo de tumor afecta maioritariamente mulheres com idade superior a 50 anos. Mas, manifesta-se também em jovens, como Sara Sarmento e Lígia Pereira, de 23 e 32 anos e compromete, na maioria dos casos, a fertilidade.

A jovem investigadora explica os procedimentos e importância do estudo

Testadas drogas para travar crescimento do tumor

Esta investigação, baseada na recolha de amostras sanguíneas que remontam a 1995, diferencia-se, sobretudo, pela adequação de tratamentos ao perfil genético de cada paciente.

No IPO do Porto estão a decorrer ensaios clínicos, em que fármacos compostos por anti-angiogénicos, ou seja, medicamentos que controlam a formação de novos vasos sanguíneos e evitam o crescimento do tumor, são administrados. “Os resultados estão a ser muito animadores”, garante Dânia Marques que terminou recentemente a sua especialização em Oncologia.

“Temos esperança de que sejam aprovados brevemente para uso geral”, acrescenta. Para além de ajudarem a inibir os efeitos desta molécula, estes facilitam o tratamento por quimioterapia, ao qual a interleucina-8 apresenta resistência.

Antes deste tratamento, a solução para remover o tumor é a cirurgia. Se for maligno, é feita a extracção de todos os órgãos reprodutores envolventes. Deolinda Pereira, oncologista na área do cancro ginecológico e directora do Hospital de Dia do IPO, aconselha a que esta operação seja feita “por ginecologistas oncológicos com experiência em cirurgia na área do cancro do ovário”. Trata-se de um processo radical e, ao mesmo tempo delicado e moroso, que, realizado de forma menos correcta, pode comprometer a sobrevivência das doentes.