Alcaide de Olivença causa polémica com recriação da Guerra das Laranjas

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Godoy, pintado por Goya, está na origem deste episódio bélico DR

A Guerra das Laranjas - designação que surge associada a um gesto do primeiro-ministro e chefe militar espanhol, Manuel Godoy, que enviou um ramo de laranjeira colhido nos campos de Elvas à rainha de Espanha Maria Luísa, de quem se dizia ser amante, para a informar de que tinha tomado Olivença - é a primeira surtida militar no âmbito das invasões francesas. Godoy, nascido em Badajoz e filho de mãe portuguesa, comandou a ocupação de uma dezena de localidades portugueses junto à fronteira.

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A Guerra das Laranjas - designação que surge associada a um gesto do primeiro-ministro e chefe militar espanhol, Manuel Godoy, que enviou um ramo de laranjeira colhido nos campos de Elvas à rainha de Espanha Maria Luísa, de quem se dizia ser amante, para a informar de que tinha tomado Olivença - é a primeira surtida militar no âmbito das invasões francesas. Godoy, nascido em Badajoz e filho de mãe portuguesa, comandou a ocupação de uma dezena de localidades portugueses junto à fronteira.

A paz é alcançada no Tratado de Badajoz, a 6 de Junho de 1801, que restitui à coroa portuguesa as praças de Juromenha, Arronches, Portalegre, Castelo de Vide, Barbacena, Campo Maior e Ouguela, mas não Olivença. Mais tarde, a 9 de Junho de 1815, o Congresso de Viena decide a restituição de Olivença a Portugal, sem que as autoridades espanholas lhe dessem cumprimento até aos dias de hoje. É mediante este passivo histórico que o autarca de Elvas lembra: "Não interessa uma nova batalha em cima das campas dos nossos antepassados".

"Fomentar os laços de união

O objectivo, disse o alcaide de Olivença, num comunicado enviado à imprensa, "não é outro que não seja fomentar os laços de união entre oliventinos e portugueses". E define a "obra de teatro" com uma realização luso-espanhola. O texto que dará suporte à representação cénica, salienta, "está escrito para sarar as feridas e não abri-las".

Os primeiros a reagir com desagrado à iniciativa do autarca oliventino foram os seus antecessores eleitos em listas do PSOE, Manuel Cayado e Ramón Rocha. Em declarações à agência noticiosa espanhola EFE, afirmaram que a recriação histórica pode resultar numa "ofensa gratuita aos portugueses" e até "afectar" as relações entre Olivença e Portugal.

O primeiro, que é porta-voz do PSOE em Olivença, sustenta que a recriação da Guerra das Laranjas "pode afectar negativamente" as relações entre os dois países. E lembra que "este capítulo da história ainda não está superado", assinalando que o sentimento dos portugueses sobre Olivença é o mesmo dos espanhóis em relação ao território de Gibraltar, administrado pelo Reino Unido num extremo da Andaluzia.

Ramón Rocha adverte para as consequências do evento teatral, realçando que este "não é o momento" para a representação e chamando a atenção para o problema fronteiriço que "ainda não está resolvido". Com efeito, o troço da fronteira entre os dois países ibéricos entre ribeira do Caia e a ribeira dos Cuncos não está delimitado. Portugal sempre recusou a colocação dos respectivos marcos, por não reconhecer a soberania espanhola sobre Olivença.

"Com os nossos vizinhos portugueses não se pode estar em guerra toda a vida", frisa Ramón Rocha, mostrando-se contrário à realização de um espectáculo que inevitavelmente retratará uma guerra que foi "cruel" e conduziu ao "desencontro" entre os povos dos dois lados da fronteira.

Este argumento é partilhado pelo presidente da Câmara de Elvas, Rondão de Almeida, que, numa carta publicada no jornal Hoy, de Badajoz, diz estar "surpreendido" com a "macro-representação da Guerra das Laranjas". O autarca não tem a "menor dúvida" de que, para além de "ensombrar" as relações diplomáticas entre Portugal e Espanha, o projecto "parece de muito mau gosto e é inconveniente".

Rondão de Almeida deixa um aviso: o espectáculo mobilizará o grupo Amigos de Olivença, que reclama a devolução da cidade estremenha a Portugal, e dará força a manifestações contra a sua realização.

O autarca alentejano admite juntar-se a uma acção de protesto desse tipo e diz ter ficado muito "desapontado" pelo facto de o alcaide de Olivença não o ter consultado antes de avançar com a ideia da representação teatral. Mesmo assim, pede-lhe que "tenha um momento de reflexão" e que recorde que o povo de Olivença "descende daqueles que estiveram na Guerra das Laranjas."

O presidente da Câmara de Elvas está convencido de que os portugueses não participarão no evento e assegura que já falou com os presidentes das câmaras de Campo Maior e de Vila Viçosa, que também estão contra a iniciativa de Bernardino Píriz.