Não há saídas para os jovens arquitectos

O P3 falou com três arquitectos em início de carreira. A crise afectou em força o sector e não há grande esperança que a situação mude. Há pouco trabalho para tantos profissionais, dizem

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A arquitectura está em crise e pode hipotecar o futuro dos jovens em início de carreira.

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A arquitectura está em crise e pode hipotecar o futuro dos jovens em início de carreira.

O alerta partiu do presidente da Ordem dos Arquitectos que, na semana passada, revelou à agência Lusa que mais de 40% dos 20 mil arquitectos portugueses correm o risco de ficar sem trabalho devido à paralisação do investimento público e privado. A crise afecta, principalmente, os arquitectos mais novos, “obrigados” a emigrar porque não conseguem encontrar o primeiro emprego em Portugal.

O P3 falou com três jovens arquitectos que actualmente se debatem para encontrar uma saída da crise. Três perfis distintos, três percursos complexos, a mesma ausência de expectativas.

Lamentam a sobrelotação do mercado de trabalho e falam da precariedade característica do sector. Nenhum conheceu um contrato de trabalho em Portugal. Vivem de colaborações fugazes, até porque os gabinetes, em geral, preferem recorrer a um estagiário ("mão-de-obra barata") do que a um arquitecto, problemas que, aliás, foram abordados em Outubro de 2010 na “Declaração Maldita”, elaborada pela plataforma Maldita Arquitectura

Da Bimby ao conceito “anti-crise"

Bruna Parro foi despedida em Setembro. A notícia apanhou-a desprevenida. Trabalhava num dos mais importantes gabinetes de arquitectura portugueses. Para o ano, talvez emigre para o Brasil. Para já, e enquanto não encontra um novo emprego, tem apostado ainda mais na venda de Bimbys, actividade que sempre conciliou com o emprego e até com a faculdade. “Para poder ter a minha independência, sair de casa, comprar livros, viajar, nunca foi possível viver só da arquitectura.”

Pedro Dourado saltou de ateliê em ateliê. No início deste ano, um gabinete propôs-lhe uma colaboração por um período de três meses. Terminado o trabalho, juntou-se a dois amigos e arriscou. Os três fundaram o Estúdio 3, um ateliê pequeno com um conceito “anti-crise”. As expectativas não estão “muito altas”, mas não há muitas mais saídas na arquitectura. “Emigrar para onde?”

Rui C. trabalhou em Milão, fez uma pós-graduação em Arquitectura Sustentável, esteve dois anos em Londres a “ganhar o triplo” do que receberia em Portugal e está no terceiro ano de doutoramento. O CV não é garantia de emprego. Conheceu a crise no Reino Unido e voltou a encontrá-la aqui. A mulher, também arquitecta, trabalha num gabinete que se está a ressentir da “falta de pagamento dos clientes”. Pensa regressar a Viseu, largar a arquitectura. “Isto não é uma crise passageira, não vai estabilizar daqui a dois ou três anos.” 

Artigo corrigido às 16h05: Onde se lia “Bastonário” passa-se a ler “presidente"