Quem escolhe ficar em Portugal é pior por isso?

Crise impulsionou nova visão sobre trabalho no estrangeiro: quem decide ficar é visto como alguém com menos capacidades

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Miguel Manso

O mercado de trabalho português não é um lugar para todos. Um em cada 10 licenciados decide abandonar o país. Para os que já procuram emprego na sua área de especialização há demasiado tempo, as propostas de trabalho no estrangeiro são vistas como uma oportunidade irrecusável. Mas, e quem fica por opção? Será menos inteligente por isso?

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O mercado de trabalho português não é um lugar para todos. Um em cada 10 licenciados decide abandonar o país. Para os que já procuram emprego na sua área de especialização há demasiado tempo, as propostas de trabalho no estrangeiro são vistas como uma oportunidade irrecusável. Mas, e quem fica por opção? Será menos inteligente por isso?

Os pagamentos a recibos verdes e os contratos a prazo desmotivam as novas gerações, num país onde aqueles que poderiam contribuir para o desenvolvimento económico não têm lugar. O mercado de trabalho já não é visto como nacional mas sim global e, melhores ou piores, decidem ir além-fronteiras e procurar o lugar que o país não lhes dá.

Mas há quem opte por ficar e contribuir para o desenvolvimento do país, sem deixar de ser melhor por isso. É o caso do empresário Pedro Castro Henriques, de 35 anos, que fundou a empresa de engenharia de "software" Strongstep. Ou de Ricardo Sá Ferreira, de 24 anos, que rejeitou propostas de estágio em Bruxelas para ingressar num mestrado na Faculdade de Letras do Porto.

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Ricardo Sá Ferreira teve uma proposta de estágio na Bélgica, optou por voltar para fazer mestrado Adriano Miranda

"Os que ficam são os piores? Não."

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Pedro Castro Henriques trabalhou e estudou em vários países, mas regressou para criar uma empresa Fernando Veludo/nFactos

A crise económica tem sido a principal responsável por esta evasão, que "obriga" milhares de licenciados a sair do país para iniciar uma vida profissional na sua área. A falta de emprego tem construído uma nova visão sobre as propostas de trabalho no estrangeiro, pelo que quem decide ficar é visto como alguém com menos capacidades.

Mas este rótulo gera algumas discordâncias: “Os que vão para fora incluem as duas coisas: incluem uma parte de alguns muito bons mas incluem também vários que não são os melhores”, afirma Jorge Malheiros, geógrafo demográfico e professor no Centro de Estudos Geográficos da Universidade de Lisboa.

O geógrafo adianta ainda que “face a um contexto em que é mais difícil ter estabilidade no mercado de trabalho, é mais difícil fazer aquilo que efectivamente se gosta” e a procura de emprego noutros lugares surge com “as ofertas que existem no exterior, designadamente em países onde a crise se sente menos”.

Numa época em que também os instruídos se deparam com dificuldades em arranjar emprego, Jorge Malheiros assegura: "Os que ficam são os piores? Não. A verdade é que esta lógica de recrutamento, muito agressiva em determinados sectores ao nível internacional, vem recrutar a Portugal os mais qualificados para estas empresas, mas num conjunto de sectores houve pessoas que continuaram a estudar e que encontraram aqui trabalho, que ficaram por cá e são bastante boas”, diz Jorge Malheiros.

“Os melhores são aqueles que normalmente têm trabalho em qualquer sítio, seja em Portugal, seja no exterior. Não estão necessariamente no exterior porque uma parte desses melhores também teve ofertas em Portugal”, considera Jorge Malheiros.