Caranguejos gigantes estão a invadir o fundo do mar na Antárctida

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O aumento da temperatura na Antárctida estará a possibilitar a expansão deste predador Alister Doyle/Reuters

O “intruso” estudado pela equipa de biólogos marinhos é o caranguejo real (Neolithodes yaldwyn), de cor vermelha.

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O “intruso” estudado pela equipa de biólogos marinhos é o caranguejo real (Neolithodes yaldwyn), de cor vermelha.

Em Março do ano passado, a equipa liderada por Laura Grange, da Universidade do Havai, em Manoa, realizou uma expedição a Palmer Deep, para descobrir que espécies viviam naquela região situada a 120 quilómetros da fronteira da placa continental da península antárctica, onde a profundidade pode atingir os 1440 metros. Mas não estavam à espera de ver estes caranguejos e muito menos nestas quantidades.

Com a ajuda de um robô, a equipa identificou 42 caranguejos num trajecto de dois quilómetros, a 850 metros de profundidade, com temperaturas de cerca de 1,4º C, limite abaixo do qual se pensa que os animais não podem sobreviver. Quanto mais perto da superfície, menor é a temperatura da água.

A partir destas observações, os autores do estudo consideram que a população de caranguejos, que se reproduzem em abundância, poderá ser de 1,5 milhões de indivíduos.

As imagens recolhidas pelos investigadores deixam antever o tipo de problemas que podem estar a caminho. Os animais, cuja carapaça mede cerca de dez centímetros e o comprimento das patas pode chegar aos 1,8 metros, escavam no leito marinho buracos que podem atingir os 20 centímetros. Além disso são predadores vorazes. “Mais perto da superfície, acima da zona onde vivem os caranguejos, a diversidade de plantas e animais era grande, com estrelas-do-mar, esponjas e mexilhões. Na zona dos caranguejos não encontrámos qualquer espécie. É de esperar extinções em alguns organismos”, explicou à BBC um dos autores do estudo, Craig Smith.

Com o aumento das temperaturas, que provoca uma subida progressiva das temperaturas nas águas costeiras, parecem estar reunidas as condições para permitir a este caranguejo gigante continuar a sua progressão, alerta o estudo.

A península antárctica é uma das regiões do mundo mais vulneráveis às alterações climáticas. A temperatura das águas da sua placa continental aumentam a um ritmo de cerca de 0,1ºC por década. Os biólogos marinhos acreditam que se actualmente o caranguejo real está “limitado por temperaturas frias, poderá expandir-se pela placa continental dentro de dez a 20 anos”.

O estudo foi publicado na revista britânica Proceedings of the Royal Society B”.