Mundial vai mudar pouco na vida imediata dos sub-20 portugueses

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Os jogadores desta selecção já tinham o futuro definido antes do Mundial Reuters

Mika, que foi designado o melhor guarda-redes da competição, será o terceiro guarda-redes do Benfica, que o contratou neste Verão à União de Leiria.

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Mika, que foi designado o melhor guarda-redes da competição, será o terceiro guarda-redes do Benfica, que o contratou neste Verão à União de Leiria.

O médio Danilo, outra das grandes figuras portuguesas, pertence ao Parma (de Itália), esteve emprestado ao Aris da Grécia na última temporada e ainda aguarda a definição do seu futuro imediato.

Estes são três exemplos de como os jovens que acabam de se sagrar vice-campeões mundiais têm, pelo menos para já, pouco espaço nos grandes clubes portugueses. "Este Mundial permitiu revelar vários jogadores, como foram os casos do Mika, Danilo e Nélson Oliveira. É a prova de que Portugal tem excelentes jogadores para o futuro", disse ontem o seleccionador português Ilídio Vale. Certo é que, no imediato, nada de muito surpreendente acontecerá na vida destas 21 atletas, até porque quase todos partiram para a Colômbia já com o futuro definido.

Apenas Sérgio Oliveira (que integra os quadros do FC Porto e deverá ser emprestado) e Danilo (que pertence ao Parma e não se sabe se fica no plantel ou se será emprestado) não sabem onde vão jogar na temporada 2011-12. Dos outros jogadores, oito vão integrar os plantéis de equipas da I Liga, dois da II Liga e um da II Divisão; pelo menos sete vão jogar no estrangeiro (quatro nos escalões principais e três nos secundários); e um continuará a ser júnior (ver texto ao em baixo).

Apesar de oito jogadores estarem em clubes da I Liga (e ao todo dez manterem vínculos aos três "grandes"), os futebolistas que formaram a selecção sub-20 deverão ter um papel secundário no próximo campeonato. Um cenário que, no entanto, não é assim tão diferente do que aconteceu com anteriores gerações.

Após o Mundial de 1989, que Portugal venceu na Arábia Saudita, dez dos seleccionados de Carlos Queiroz alinharam na I Divisão em 1989-90, sete ficaram-se pela II Divisão e um (Brassard) continuou a ser júnior. E, pelos dados recolhidos pelo PÚBLICO, o portista Jorge Couto foi o único campeão do mundo na Arábia Saudita que, após o campeonato, teve um papel importante num grande clube, alinhando em 31 jogos pelo FC Porto. Mesmo João Pinto, já então a grande figura da selecção, só participou em 11 jogos pelo Boavista. Grandes nomes como Fernando Couto (emprestado pelo FC Porto à Académica, da II Divisão) e Paulo Sousa (que ficou no Benfica, mas só jogou quatro encontros) não tiveram afirmação imediata.

Os casos Rui Costa e Figo

A grande excepção aconteceu com a "geração de ouro" e, mesmo assim, só um núcleo restrito conseguiu de imediato assumir papel de relevo em clubes importantes. Após o título de 1991, Figo e Peixe (Sporting), Rui Bento e Rui Costa (Benfica) e João Pinto (Boavista) assumiram-se como titulares nos respectivos clubes. Depois de na época anterior ter sido júnior, Figo fez 38 jogos pelo Sporting e Peixe (que se havia estreado pela equipa principal ainda antes do Mundial) participou em 31. No Benfica, também se afirmaram dois jovens. Após um ano de empréstimo ao Fafe, Rui Costa regressou à Luz logo após o Mundial de Lisboa e alinhou em 32 jogos. E Rui Bento ainda foi mais utilizado (37 encontros). Já João Pinto regressou ao Boavista, após uma experiência mal sucedida no Atlético Madrileno e fez todo o campeonato pelo Boavista.

À excepção destes cinco, os outros futebolistas tiveram papéis secundários, incluindo Jorge Costa, que foi emprestado pelo FC Porto ao Marítimo e só mais tarde se afirmaria no Dragão.

O empréstimo de futebolistas, que já era uma prática em 1989 e 1991, continua a ser utilizada para dar experiência a jogadores jovens. A diferença é que na actualidade os clubes estrangeiros também surgem no horizonte, como é o caso do central Nuno Reis e do avançado Amido Baldé, ambos emprestados pelo Sporting ao Cercle Brugge, da Bélgica.

A lei Bosman (que permitiu a livre circulação de futebolistas em meados de 1990) marca, aliás, uma das diferenças fundamentais entre as gerações de ouro (1989 e 1991) e a actual (apelidada de coragem pelo seleccionador Ilídio Vale). É que se há 20 anos havia limites para a inscrição de estrangeiros, hoje há total liberdade quanto a jogadores do espaço comunitário.

Uma mudança que se sente de duas maneiras. Por um lado, as portas dos clubes portugueses estão mais fechadas para estes jovens valores. Por outro, os futebolistas podem explorar novos mercados, como se vê pelo facto de cinco dos 21 jogadores desta selecção já pertencerem a clubes estrangeiros.