O Arlequim morreu! Viva o Arlequim!

Foto
Ferruccio Soleri nasceu como Arlequim em 1963 pela mão de Giorgio Strehler Cortesia Festival de Teatro de Almada

Quando Giorgio Strehler, encenador italiano, viu pela primeira vez Ferruccio Soleri a tentar interpretar a personagem de Arlequim, escreveu: "O jovem Arlequim, Ferruccio Soleri, pouco a pouco, tinha acabado por assimilar até certos hábitos de ensaio de Moretti; no fim de cada cena, limpava o pescoço e imediatamente depois de comer limpava outra vez a cara". Decorria o ano de 1963. Hoje, Soleri já não é um jovem actor de 34 anos, que começava a aprender a substituir Marcello Moretti, que fazia de Arlequim desde 1947, mas um velho actor com 81 anos e que ainda encarna a mesma personagem.

Arlequim é figura principal da commedia del"arte e Strehler trabalhou-a na mítica encenação de Arlequim, servidor de dois amos, de Goldoni, escrita em 1745, onde o criado se sujeitava a uma série de equívocos por aceitar servir simultaneamente dois senhores. A destreza física necessária, a argúcia intelectual, nunca deixando de ser inocente, e a inteligência para resolver os problemas marcaram esta figura como uma das mais simbólicas do teatro universal.

Conta Strehler: "Moretti, oculto atrás da máscara, cansado, desaparecia depois de terminada a sua cena. Mas não se refugiava no seu camarim cálido e silencioso. Entrava num entre tantos camarotes escuros e vazios do teatro e ali, na penumbra, eu descobria-o tenso, seguindo os movimentos do seu aluno. De vez em quando sacudia a cabeça e repetia um fragmento para si mesmo; outras vezes, assentia com a cabeça. E creio que uma vez ou outra chegou a divertir-se com essa vivacidade infantil que é a força e a fraqueza do homem de teatro. Depois, no final, encontrávamo-nos de novo nalguma esquina do palco e ele falava com o Arlequim jovem, instruindo-o, corrigindo-o com a sua costumada rudeza e o seu emotivo empenho".

"Aprendi muito, tive imensa sorte", confessa Ferruccio Soleri ao P2. "O que descobri aproximou-me de qualidades que não sabia que tinha." Mas o que descobriu foi uma personagem que hoje reconhece não ter já lugar. "No teatro contemporâneo, alguém como o Arlequim, um homem pobre e que sabe o que é a fome, já não existe". Figuras como ele, acrescenta, que "o que ambicionam conseguem-no apenas através da sua inteligência e argúcia e na exacta medida do que necessita, deixaram os palcos e a própria vida". E remata, sabedor de 81 anos: "Hoje ninguém consegue o que quer sem o ferrolho do dinheiro ou da política. E, por isso, hoje o Arlequim não pode existir. Por isso o Arlequim morreu".

Arlequim há 48 anos

Soleri é Arlequim desde 1963. Interpretou-o mais de 2500 vezes, com duas passagens por Lisboa, em 1967, no Teatro da Trindade; em 1999, no Festival de Teatro de Almada. Hoje é homenageado nesse mesmo festival, com uma exposição sobre o seu percurso de vida - na Escola D. António da Costa, em Almada -, antecipando a apresentação do espectáculo Retratos da commedia del"arte, que apresentará dias 13 no Teatro Nacional São João, no Porto; 14, no Centro Cultural de Belém, em Lisboa; e a 18 na Escola D. António da Costa, em Almada.

Se nesse espectáculo mostrará como, ao longo dos anos, a sua versatilidade lhe permitiu viajar entre as diferentes personagens-tipo deste género teatral iniciado no século XVI e reconhecido pela UNESCO como Património Cultural e Imaterial da Humanidade, é deste ingénuo que se diz mais próximo. "Há duas coisas que nos são comuns: a ingenuidade e o amor à vida. As outras personagens não existem dentro de mim". As outras, diz, como Pantalone, "um velho, libidinoso, avarento", ou Il Dottore, "o falso intelectual", continuam a existir por aí, no dia-a-dia. "A intriga, feita a partir da ambição e da cobiça de obter não importa o quê, derrubando os outros, é comum."

No teatro da commedia del"arte, explica, "há uma força que vem da dimensão moral e dos valores que as personagens representam". "Essas figuras são modelos e, para os espectadores, o Arlequim representa aquilo no qual ainda acreditam, mas sabem não ser possível existir no mundo de hoje. Os espectadores projectam nele o que gostariam, ainda, de fazer. O interesse do público está, acredito, em tudo aquilo que o Arlequim pode fazer e hoje já não tem lugar."

Quando Soleri esteve em Lisboa pela primeira vez para apresentar Arlequim, servidor de dois amos, escreveu no programa do espectáculo que "Arlequim pode representar, tanto no plano psicológico como no mais estritamente emocional, não tanto um modelo mas um símbolo de uma determinada situação humana". Isso aprendeu-o com Strehler: "O meu Arlequim foi ganhando pouco a pouco forma como obra pessoal, mergulhando nas minhas experiências da sociedade em que vivo".

Quando começou, "era outro o mundo", recorda ao P2, com outros valores: "O teatro escrito regista as relações quotidianas. Há muitos clássicos belos que hoje não têm nem significado nem valor". Mas quanto a Arlequim, e desde sempre, "a personagem era a mesma e as situações também". E, "se o teatro reflecte o momento da vida do Homem, no momento em que o autor o escreveu", também isso acontece com as próprias personagens, mesmo as que o acompanham uma vida toda.

Por isso, e ao longo dos anos, foi descobrindo uma faceta singular nesta personagem: "De um ponto de vista político, é maravilhoso, porque é um revolucionário". "O actor tem de fazer, com a sua própria voz, o que quer, e com isso, e através da personagem, resolver muitos dos problemas do mundo. Incluindo o de hoje. É possível pensar em Arlequim num campo mitológico, sobretudo porque não é possível julgá-lo como ele nos julga a nós. E não é possível obter o que ele obtém. A cada representação percebo que o público fica espantado com o que aprende", revela. E fá-lo com a mais ardilosa das estratégias: "divertindo-se".

"O teatro é importante para fazer o público reflectir e numa Europa que atravessa uma tamanha crise não creio que possa existir outro papel para o teatro que não seja esse. Ou, pelo menos, para um papel político activo para o teatro. É possível ambicionar, ou desejar, que o público pense como pensa o Arlequim, mas pouco mais do que isso. E isso, no mundo de hoje, é tão difícil de obter."

Esta permanente insatisfação ganhou-a também de Strehler. Quando o mestre italiano ganhou o Prémio Europa para o Teatro, em 1990, Soleri falou do seu método de trabalho: "Strehler amava e odiava esta peça, tanto que a montou infinitas vezes. Ele pode ter sido um encenador extraordinário mas tinha defeitos. Tinha uma personalidade terrível, era um egoísta e odiava ser contrariado. Precisava ser legitimado, admirado, louvado. Procurava sempre tirar o melhor de cada um dos actores".

Ao P2 lembra histórias dos que saíam, de rompante, a chorar dos ensaios, achando que Strehler não os amava. "Era muito rígido e muitas vezes eu perguntava-me: mas que quer ele que eu faça? Mas a insatisfação dele corria a nosso favor. Com Strehler aproximei-me o mais possível de uma qualidade que não sabia que tinha. Não me dizia se ia bem, ou mal, se era por aquele caminho ou não. Era muito exigente. E não exigia menos de nós. Queria que o actor fosse o mais longe do que o que próprio actor sabia ir. O que ele conseguiu foi fazer-me apaixonar ainda mais pelo que eu desconhecia saber fazer."

"Sou tão feliz"

Arlequim foi moldado ao corpo, e à voz, discreta, de Ferruccio Soleri: "Naturalmente, o movimento da pessoa, de um actor, pode, ao seu modo, fazer mudar os movimentos da personagem e, assim, ajudar a chegar à própria personagem". Em 1967, recordava como tinha aprendido a fazê-lo: "No palco, eu defendo-me. Vivo uma vida cheia de recursos, de compromissos; mas a minha alma de aldeão, de reflexos tão depressa vivos como torpes, acaba por sair de algum modo incólume, ajudada por um ancestral instinto de conservação que jamais me abandona". Havia-o aprendido observando Marcello Moretti: "No palco, Arlequim perdia todos os caracteres estereotipados e convencionais da máscara para se converter numa imensa obra humana, carnal, campesino, rústico, uma autêntica personagem popular. Desde então, vivendo material e psicologicamente perto de Moretti e do espectáculo, amadureci lentamente dentro de mim a lição que ao cabo de alguns anos se converteria num facto determinante da minha vida de actor e de homem".

Hoje, Soleri tem um substituto que, duas ou três vezes por semana, quando o espectáculo está em cartaz, sobe ao palco. E, ao longo dos anos, foi acompanhando a vida de Arlequim com a de outras personagens. "Não me sinto prisioneiro", diz, "mas esta é aquela que mais agrada ao público". "Qualquer personagem a que damos vida é emocionante. Precisamos fazer crer ao outro que esta personagem existe. Mas "tive de fazer outras personagens para me sentir menos sozinho", confessa, falando de um tempo "onde já não há tantos cúmplices". "Talvez as personagens o sejam." "Eu sou tão feliz a fazer o que faço e, enquanto o for, continuarei a fazê-lo", diz, confessando que "ser actor é um trabalho". "Tentamos sempre fazê-lo da melhor forma possível, mas é sempre um trabalho. Quando o fazemos, o máximo a que podemos ambicionar é não fazê-lo mal." Se o tornou num homem melhor, não sabe: "Non so, come posso saperlo?". Só os outros o podem ver e saber, até mesmo compreender.

A verdade faz-nos mais fortes

Das guerras aos desastres ambientais, da economia às ameaças epidémicas, quando os dias são de incerteza, o jornalismo do Público torna-se o porto de abrigo para os portugueses que querem pensar melhor. Juntos vemos melhor. Dê força à informação responsável que o ajuda entender o mundo, a pensar e decidir.

Quando Giorgio Strehler, encenador italiano, viu pela primeira vez Ferruccio Soleri a tentar interpretar a personagem de Arlequim, escreveu: "O jovem Arlequim, Ferruccio Soleri, pouco a pouco, tinha acabado por assimilar até certos hábitos de ensaio de Moretti; no fim de cada cena, limpava o pescoço e imediatamente depois de comer limpava outra vez a cara". Decorria o ano de 1963. Hoje, Soleri já não é um jovem actor de 34 anos, que começava a aprender a substituir Marcello Moretti, que fazia de Arlequim desde 1947, mas um velho actor com 81 anos e que ainda encarna a mesma personagem.

Arlequim é figura principal da commedia del"arte e Strehler trabalhou-a na mítica encenação de Arlequim, servidor de dois amos, de Goldoni, escrita em 1745, onde o criado se sujeitava a uma série de equívocos por aceitar servir simultaneamente dois senhores. A destreza física necessária, a argúcia intelectual, nunca deixando de ser inocente, e a inteligência para resolver os problemas marcaram esta figura como uma das mais simbólicas do teatro universal.

Conta Strehler: "Moretti, oculto atrás da máscara, cansado, desaparecia depois de terminada a sua cena. Mas não se refugiava no seu camarim cálido e silencioso. Entrava num entre tantos camarotes escuros e vazios do teatro e ali, na penumbra, eu descobria-o tenso, seguindo os movimentos do seu aluno. De vez em quando sacudia a cabeça e repetia um fragmento para si mesmo; outras vezes, assentia com a cabeça. E creio que uma vez ou outra chegou a divertir-se com essa vivacidade infantil que é a força e a fraqueza do homem de teatro. Depois, no final, encontrávamo-nos de novo nalguma esquina do palco e ele falava com o Arlequim jovem, instruindo-o, corrigindo-o com a sua costumada rudeza e o seu emotivo empenho".

"Aprendi muito, tive imensa sorte", confessa Ferruccio Soleri ao P2. "O que descobri aproximou-me de qualidades que não sabia que tinha." Mas o que descobriu foi uma personagem que hoje reconhece não ter já lugar. "No teatro contemporâneo, alguém como o Arlequim, um homem pobre e que sabe o que é a fome, já não existe". Figuras como ele, acrescenta, que "o que ambicionam conseguem-no apenas através da sua inteligência e argúcia e na exacta medida do que necessita, deixaram os palcos e a própria vida". E remata, sabedor de 81 anos: "Hoje ninguém consegue o que quer sem o ferrolho do dinheiro ou da política. E, por isso, hoje o Arlequim não pode existir. Por isso o Arlequim morreu".

Arlequim há 48 anos

Soleri é Arlequim desde 1963. Interpretou-o mais de 2500 vezes, com duas passagens por Lisboa, em 1967, no Teatro da Trindade; em 1999, no Festival de Teatro de Almada. Hoje é homenageado nesse mesmo festival, com uma exposição sobre o seu percurso de vida - na Escola D. António da Costa, em Almada -, antecipando a apresentação do espectáculo Retratos da commedia del"arte, que apresentará dias 13 no Teatro Nacional São João, no Porto; 14, no Centro Cultural de Belém, em Lisboa; e a 18 na Escola D. António da Costa, em Almada.

Se nesse espectáculo mostrará como, ao longo dos anos, a sua versatilidade lhe permitiu viajar entre as diferentes personagens-tipo deste género teatral iniciado no século XVI e reconhecido pela UNESCO como Património Cultural e Imaterial da Humanidade, é deste ingénuo que se diz mais próximo. "Há duas coisas que nos são comuns: a ingenuidade e o amor à vida. As outras personagens não existem dentro de mim". As outras, diz, como Pantalone, "um velho, libidinoso, avarento", ou Il Dottore, "o falso intelectual", continuam a existir por aí, no dia-a-dia. "A intriga, feita a partir da ambição e da cobiça de obter não importa o quê, derrubando os outros, é comum."

No teatro da commedia del"arte, explica, "há uma força que vem da dimensão moral e dos valores que as personagens representam". "Essas figuras são modelos e, para os espectadores, o Arlequim representa aquilo no qual ainda acreditam, mas sabem não ser possível existir no mundo de hoje. Os espectadores projectam nele o que gostariam, ainda, de fazer. O interesse do público está, acredito, em tudo aquilo que o Arlequim pode fazer e hoje já não tem lugar."

Quando Soleri esteve em Lisboa pela primeira vez para apresentar Arlequim, servidor de dois amos, escreveu no programa do espectáculo que "Arlequim pode representar, tanto no plano psicológico como no mais estritamente emocional, não tanto um modelo mas um símbolo de uma determinada situação humana". Isso aprendeu-o com Strehler: "O meu Arlequim foi ganhando pouco a pouco forma como obra pessoal, mergulhando nas minhas experiências da sociedade em que vivo".

Quando começou, "era outro o mundo", recorda ao P2, com outros valores: "O teatro escrito regista as relações quotidianas. Há muitos clássicos belos que hoje não têm nem significado nem valor". Mas quanto a Arlequim, e desde sempre, "a personagem era a mesma e as situações também". E, "se o teatro reflecte o momento da vida do Homem, no momento em que o autor o escreveu", também isso acontece com as próprias personagens, mesmo as que o acompanham uma vida toda.

Por isso, e ao longo dos anos, foi descobrindo uma faceta singular nesta personagem: "De um ponto de vista político, é maravilhoso, porque é um revolucionário". "O actor tem de fazer, com a sua própria voz, o que quer, e com isso, e através da personagem, resolver muitos dos problemas do mundo. Incluindo o de hoje. É possível pensar em Arlequim num campo mitológico, sobretudo porque não é possível julgá-lo como ele nos julga a nós. E não é possível obter o que ele obtém. A cada representação percebo que o público fica espantado com o que aprende", revela. E fá-lo com a mais ardilosa das estratégias: "divertindo-se".

"O teatro é importante para fazer o público reflectir e numa Europa que atravessa uma tamanha crise não creio que possa existir outro papel para o teatro que não seja esse. Ou, pelo menos, para um papel político activo para o teatro. É possível ambicionar, ou desejar, que o público pense como pensa o Arlequim, mas pouco mais do que isso. E isso, no mundo de hoje, é tão difícil de obter."

Esta permanente insatisfação ganhou-a também de Strehler. Quando o mestre italiano ganhou o Prémio Europa para o Teatro, em 1990, Soleri falou do seu método de trabalho: "Strehler amava e odiava esta peça, tanto que a montou infinitas vezes. Ele pode ter sido um encenador extraordinário mas tinha defeitos. Tinha uma personalidade terrível, era um egoísta e odiava ser contrariado. Precisava ser legitimado, admirado, louvado. Procurava sempre tirar o melhor de cada um dos actores".

Ao P2 lembra histórias dos que saíam, de rompante, a chorar dos ensaios, achando que Strehler não os amava. "Era muito rígido e muitas vezes eu perguntava-me: mas que quer ele que eu faça? Mas a insatisfação dele corria a nosso favor. Com Strehler aproximei-me o mais possível de uma qualidade que não sabia que tinha. Não me dizia se ia bem, ou mal, se era por aquele caminho ou não. Era muito exigente. E não exigia menos de nós. Queria que o actor fosse o mais longe do que o que próprio actor sabia ir. O que ele conseguiu foi fazer-me apaixonar ainda mais pelo que eu desconhecia saber fazer."

"Sou tão feliz"

Arlequim foi moldado ao corpo, e à voz, discreta, de Ferruccio Soleri: "Naturalmente, o movimento da pessoa, de um actor, pode, ao seu modo, fazer mudar os movimentos da personagem e, assim, ajudar a chegar à própria personagem". Em 1967, recordava como tinha aprendido a fazê-lo: "No palco, eu defendo-me. Vivo uma vida cheia de recursos, de compromissos; mas a minha alma de aldeão, de reflexos tão depressa vivos como torpes, acaba por sair de algum modo incólume, ajudada por um ancestral instinto de conservação que jamais me abandona". Havia-o aprendido observando Marcello Moretti: "No palco, Arlequim perdia todos os caracteres estereotipados e convencionais da máscara para se converter numa imensa obra humana, carnal, campesino, rústico, uma autêntica personagem popular. Desde então, vivendo material e psicologicamente perto de Moretti e do espectáculo, amadureci lentamente dentro de mim a lição que ao cabo de alguns anos se converteria num facto determinante da minha vida de actor e de homem".

Hoje, Soleri tem um substituto que, duas ou três vezes por semana, quando o espectáculo está em cartaz, sobe ao palco. E, ao longo dos anos, foi acompanhando a vida de Arlequim com a de outras personagens. "Não me sinto prisioneiro", diz, "mas esta é aquela que mais agrada ao público". "Qualquer personagem a que damos vida é emocionante. Precisamos fazer crer ao outro que esta personagem existe. Mas "tive de fazer outras personagens para me sentir menos sozinho", confessa, falando de um tempo "onde já não há tantos cúmplices". "Talvez as personagens o sejam." "Eu sou tão feliz a fazer o que faço e, enquanto o for, continuarei a fazê-lo", diz, confessando que "ser actor é um trabalho". "Tentamos sempre fazê-lo da melhor forma possível, mas é sempre um trabalho. Quando o fazemos, o máximo a que podemos ambicionar é não fazê-lo mal." Se o tornou num homem melhor, não sabe: "Non so, come posso saperlo?". Só os outros o podem ver e saber, até mesmo compreender.