Artistas que provocaram poder russo com pénis de 65 metros vencem prémio de inovação

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A polícia é um alvo preferencial dos Voina, desta vez foi o FSB (antigo KGB) DR

A discussão do júri foi acesa, durou várias semanas, com avanços e recuos – a peça chegou a ser excluída e mais tarde readmitida a avaliação –, mas Um Pénis Mantido Prisioneiro no FSB acabou por arrecadar o prémio Inovação atribuído anualmente pelo Centro Nacional de Arte Contemporânea (CNAB), com sede em Moscovo, no valor de mais de 400 mil rublos (9800 euros).

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A discussão do júri foi acesa, durou várias semanas, com avanços e recuos – a peça chegou a ser excluída e mais tarde readmitida a avaliação –, mas Um Pénis Mantido Prisioneiro no FSB acabou por arrecadar o prémio Inovação atribuído anualmente pelo Centro Nacional de Arte Contemporânea (CNAB), com sede em Moscovo, no valor de mais de 400 mil rublos (9800 euros).

Os Voina aceitaram o galardão, mas anunciaram de imediato que iriam doar o dinheiro a prisioneiros políticos. E nenhum dos elementos da comunidade de artistas esteve presente na cerimónia de quinta-feira à noite, quando o curador do CNAB, Andrei Yerofeyev, explicou que o trabalho foi escolhido por romper com a tradição russa de “arte com preocupações sociais”. Não querem perder independência.

O desafio ao statu quo é recorrente no trabalho dos Voina. Aliás, é tudo o que fazem. Dois dos membros do grupo, Oleg Vorotnikov e Leonid Nikolayev, foram tão longe que estiveram três meses presos preventivamente, depois de em Setembro terem virado carros da polícia com agentes dentro, a dormir. Estão agora à espera de julgamento, sabendo que podem ser condenados a até sete anos de cadeia.

As contínuas acções de guerrilha têm encontrado na Internet a sua caixa de ressonância. É o mesmo que acontece com Banksy, o mais afamado dos artistas de rua anónimos, que quando tomou conhecimento do processo judicial contra o grupo lhe endereçou 80 mil libras (cerca de cerca de 90500 euros) da venda de uma das suas peças, para poder fazer face às acusações em tribunal.

O reconhecimento das instâncias oficiais, que o prémio da CNAB confere aos Voina, é algo que estes russos têm agora em comum com Banksy, nomeado para uma estatueta dourada na última edição dos Óscares, pelo documentário Exit Through the Gift Shop (perdeu para Inside Job – A Verdade da Crise).

“Não há nada sobre o que nos gabarmos, para nós [o prémio] é secundário”, assegurou Leonid Nikolayev à AFP, por e-mail. O grupo está mais preocupado em agir contra o poder instituído na Rússia. E a polícia é um alvo preferencial. No mês passado, três deles foram detidos depois de terem atirado garrafas com urina contra alguns agentes, durante uma manifestação da oposição política.

Um Pénis Mantido Prisioneiro no FSB

(numa tradução livre, a partir do inglês) já não existe. As autoridades de São Petersburgo limparam a ponte Liteiny poucas horas após ter sido pintada. Tornou-se numa obra fisicamente tão efémera quanto a orgia com que os Voina (guerra, em português) assinalaram a eleição do Presidente Dmitri Medvedev, em 2008. Mas, tal como esta e outras acções do grupo, está bem documentada na rede, que serve de museu alternativo com fotografias e vídeos a circular.