Sucesso dos alunos depende pouco de quem são os pais

Foto
"Há escolas que vivem à sombra da bananeira", diz autora do estudo Foto: Nelson Garrido

Quem o diz é Cláudia Sarrico, uma das autoras do estudo Perspectivas Diferentes sobre o Desempenho das Escolas Secundárias Portuguesas, que será hoje apresentado no seminário Economia e Econometria da Educação, promovido pelo Instituto Superior de Economia e Gestão da Universidade Técnica de Lisboa (ISEG-UTL).

A verdade faz-nos mais fortes

Das guerras aos desastres ambientais, da economia às ameaças epidémicas, quando os dias são de incerteza, o jornalismo do Público torna-se o porto de abrigo para os portugueses que querem pensar melhor. Juntos vemos melhor. Dê força à informação responsável que o ajuda entender o mundo, a pensar e decidir.

Quem o diz é Cláudia Sarrico, uma das autoras do estudo Perspectivas Diferentes sobre o Desempenho das Escolas Secundárias Portuguesas, que será hoje apresentado no seminário Economia e Econometria da Educação, promovido pelo Instituto Superior de Economia e Gestão da Universidade Técnica de Lisboa (ISEG-UTL).

Existem factores como a idade dos alunos (a investigação aponta que quanto mais velhos chegam ao secundário, piores os seus resultados) ou o meio sócio-económico de origem que a escola "não controla". "Mas estas variáveis só explicam 30 por cento dos resultados. Por isso, as escolas têm grande margem de manobra", interpreta Cláudia Sarrico, acrescentando que o que o estudo revela é que há escolas cujos alunos têm bons desempenhos, mas que poderiam ter melhores, são as "escolas à sombra da bananeira", ou seja, têm resultados académicos acima da média nacional, mas são inferiores ao esperado pelas características da escola e dos alunos . Tal como há outras que estão mal posicionadas em termos de resultados dos exames, que têm alunos de meio sócio-económico mais frágil, mas que têm um desempenho acima do esperado.

Depois, em cada extremo, estão as "escolas de elite", com resultados e desempenho superior ao esperado; e as "escolas fatalistas" com resultados e desempenhos maus. As denominações foram criadas pelas investigadoras Cláudia Sarrico, da ISEG-UTL, Margarida Fonseca Cardoso, da Universidade do Porto, Maria João Rosa, da Universidade de Aveiro, e Maria de Fátima Pinto, professora na EB 2,3 de Canedo, para um estudo financiado pelo Ministério da Educação (ME) e a Fundação para a Ciência e Tecnologia.

As docentes debruçaram-se sobre os resultados dos exames nacionais do secundário de Português e de Matemática e a taxa de conclusão no 12.º ano dos cursos científico-humanísticos, no ano de 2009/2010. De seguida, cruzaram esses dados com variáveis como a idade dos alunos, a formação académica e profissão dos pais. Tiveram ainda em conta as características das escolas. Para isso, analisaram o número de alunos por turma, percentagem de raparigas ("há mais raparigas a estudar até mais tarde", explica Sarrico), alunos com apoio social, taxas de progressão e de conclusão do secundário, número de alunos por professor de quadro e a taxa de absentismo dos docentes.

"Esticar os alunos"

Pegando em todos estes critérios, foi calculado o desempenho médio esperado para cada escola, ou seja, tendo em conta as características dos alunos e dos professores, que resultados poderiam ser obtido nos exames e na conclusão do secundário. De seguida, foi construído um ranking não com base nos resultados dos exames, mas tendo em conta o desempenho que se esperaria de cada estabelecimento de ensino; que foram divididos em quatro categorias: escolas de elite, à sombra da bananeira, que surpreendem e fatalistas. As investigadoras não estão autorizadas pelo ME a divulgar a lista.

O que preocupa Cláudia Sarrico são as "escolas à sombra da bananeira". "Há escolas que podiam esticar mais os alunos", diz a investigadora, explicando que a maioria tem planos para os estudantes com maus resultados, mas não tem para os que têm boas notas. "A escola podia ter melhores resultados se também trabalhasse com esses", sugere.

O universo é de 303 escolas públicas onde foram realizados mais de 50 exames de Português e de Matemática (no total existem cerca de 400 com secundário). Na maioria, os alunos terminaram o 12.º ano com 17 anos; 60 por cento são raparigas. Apenas um quinto dos alunos tem apoio social escolar. Quase 40 por cento dos pais tem pelo menos o secundário e tem profissões mais qualificadas. A média das turmas de secundário é de 14,6 alunos; por cada professor do quadro há 12 alunos. A taxa média de absentismo docente é de seis dias por ano, revela ainda este estudo.