A obsessão de Sean Penn

Foto
Pouco depois do tremor de terra no qual se estima que tenham morrido 230 mil pessoas, Penn fretou dois aviões e voo para o local Robert Galbraith/Reuters

Numa reportagem notavelmente intitulada “O Amor nos Tempos de Cólera”, a “Hollywood Reporter” narra o trabalho que o actor tem feito no Haiti. Quando chegou, o seu plano era ficar duas semanas. O tempo foi passando e Penn está praticamente há um ano no país.

A verdade faz-nos mais fortes

Das guerras aos desastres ambientais, da economia às ameaças epidémicas, quando os dias são de incerteza, o jornalismo do Público torna-se o porto de abrigo para os portugueses que querem pensar melhor. Juntos vemos melhor. Dê força à informação responsável que o ajuda entender o mundo, a pensar e decidir.

Numa reportagem notavelmente intitulada “O Amor nos Tempos de Cólera”, a “Hollywood Reporter” narra o trabalho que o actor tem feito no Haiti. Quando chegou, o seu plano era ficar duas semanas. O tempo foi passando e Penn está praticamente há um ano no país.

Após o tremor de terra de 7.0 na escala de Richter e no qual se estima que tenham morrido 230 mil pessoas, Penn fretou dois aviões - um deles com capacidade para 30 passageiros e material médico e um segundo com material de emergência - e voou para o local. Chegado ao país, instalou-se em casa de um amigo e começou a fazer telefonemas e a pedir ajuda. Até hoje.

De lá para cá, Penn não arredou pé. Actualmente está responsável por um campo de refugiados em Petionville, um antigo subúrbio de Port-au-Prince, que alberga 55 mil pessoas. É a sua “obsessão”, escreve a “Hollywood Reporter”. Tem consigo a trabalhar um grupo de 50 voluntários e profissionais treinados, bem como um staff de 108 trabalhadores haitianos.

Este campo de refugiados transformou-se entretanto numa espécie de cidade, com um hospital aberto 24 horas por dia e uma tenda para onde são levadas as vítimas do surto de cólera que tem devastado o país (estima-se que até ao final de 2010 mais de 3300 pessoas tinham morrido por causa desta doença que normalmente afecta países com deficientes condições sanitárias e acesso limitado a água potável).

“Quando Penn caminha pelo campo, com uma arma dissimulada nas calças, as crianças vêm cumprimentá-lo. ‘Ei, tu!’, dizem elas, ou ‘seanpenn’”, descreve a revista norte-americana.

Calcula-se que, mensalmente, são necessários 450 mil dólares para manter este campo em funcionamento. A maior parte dessa verba tem vindo directamente do bolso de Penn. Só recentemente o actor começou a receber algum dinheiro da Oxfam e da organização Save the Children.

Para além do financiamento, Penn tem muitas vezes dado o corpo ao manifesto. A segurança é crítica. Numa ocasião, um gang do maior bairro da lata de Port-au-Prince, Cité Soleil, invadiu o campo depois de saber da entrega de uma doação de 80 mil dólares. Penn e os seus colegas viram-se obrigados a dispersar os gangsters. Paralelamente, os responsáveis do campo têm igualmente de lidar com os malfeitores dentro de portas, evitando o caos, a pilhagem e as violações.

Penn admite que a tragédia provocada pelo Katrina em Nova Orleães, em 2005, influenciou em muito o seu actual envolvimento no Haiti. A “Hollywood Reporter” assinala o cansaço no rosto de Penn, que pessoalmente também atravessa um momento difícil, depois do seu divórcio de Robin Wright.

“Se ele parece perpetuamente cansado, quem é que o pode julgar? Ele está a fazer encomendas, a arranjar fundos, a supervisionar os trabalhadores e a tentar perceber o que deve fazer se um furacão atingir a ilha, como quase aconteceu há duas semanas. Longos sulcos de privação de sono marcam-lhe a cara. Os seus olhos parecem semicerrados com o cansaço. E mesmo assim ele continua”, descreve a “Hollywood Reporter”.

Mais recentemente, Penn - que vivia a maior parte do tempo em Port-au-Prince - começou a fazer intervalos e passou a viajar até Malibu mais vezes. Começou igualmente a filmar a película “This Must Be The Place”. Ainda assim, o actor admitiu à revista norte-americana, a partir de uma tenda instalada no campo de refugiados: “Não há fim à vista. É aqui que eu estarei quando não estiver a trabalhar. Durante o resto da minha vida”.