Há uma guerra a alastrar no México e são os narcotraficantes que estão a ganhá-la

Foto
Os corpos de três polícias mortos em Monterrey Kristian Lopez/Reuters

Felipe Calderón contratou uma empresa de relações públicas para reabilitar a imagem do México, publicou um extenso artigo nos jornais, foi à televisão dizer que o combate ao narcotráfico "é uma luta de todos". Mas nenhuma campanha que o Presidente mexicano possa lançar será capaz de fazer esquecer a semana mais violenta dos últimos anos, em que morreram cerca de 200 pessoas um pouco por todo o México. A violência atingiu zonas turísticas, está a destruir a indústria em Ciudad Juárez e ninguém arrisca dizer que a situação será controlada.

A verdade faz-nos mais fortes

Das guerras aos desastres ambientais, da economia às ameaças epidémicas, quando os dias são de incerteza, o jornalismo do Público torna-se o porto de abrigo para os portugueses que querem pensar melhor. Juntos vemos melhor. Dê força à informação responsável que o ajuda entender o mundo, a pensar e decidir.

Felipe Calderón contratou uma empresa de relações públicas para reabilitar a imagem do México, publicou um extenso artigo nos jornais, foi à televisão dizer que o combate ao narcotráfico "é uma luta de todos". Mas nenhuma campanha que o Presidente mexicano possa lançar será capaz de fazer esquecer a semana mais violenta dos últimos anos, em que morreram cerca de 200 pessoas um pouco por todo o México. A violência atingiu zonas turísticas, está a destruir a indústria em Ciudad Juárez e ninguém arrisca dizer que a situação será controlada.

Junho, que ainda nem chegou ao fim, deverá ser o mês mais violento desde que o Presidente Felipe Calderón chegou ao poder, em 2006. Nestes quatro anos a violência ligada ao narcotráfico e ao crime organizado já causou cerca de 23.000 mortos, mas o número de vítimas aumenta de dia para dia. Na última semana, um ataque num centro de reabilitação de toxicodependentes em Chihuahua, no Norte, causou 19 mortes, confrontos entre membros de cartéis rivais numa prisão do estado de Sinaloa resultaram em 28 mortos, 12 polícias foram assassinados numa emboscada no estado de Michoacán e, num tiroteio no cemitério da cidade turística de Taxco, a cerca de 150 quilómetros da Cidade do México, morreram pelo menos dez pessoas. O mais provável é que o número de vítimas tenha aumentado nos últimos minutos.

Num vasto artigo publicado no diário mexicano El Universal, o Presidente Calderón defendeu a sua estratégia de combate ao crime organizado, que incluiu a mobilização de cerca de 50.000 soldados. Disse que as causas do problema são o consumo de droga nos EUA, a disputa entre cartéis, o fácil acesso a armas, delitos como a extorsão e os sequestros. "A delinquência deixou de ser apenas narcotráfico. Transformou-se plenamente em crime organizado", disse.

Apesar de se ter empenhado para explicar os seus objectivos, Calderón não estará a conseguir convencer muitos mexicanos. Poucas páginas antes do seu artigo de duas páginas, publicado na segunda-feira, a jornalista Lydia Cacho escreveu no El Universal que "Calderón perdeu as rédeas do país, não de forma parcial mas totalmente".

Calderón (foto em baixo) apresentou ontem a campanha publicitária que irá ser promovida. "Vamos explicar os problemas que temos e também que estamos a enfrentá-los. Acima de tudo queremos mostrar o que o nosso país tem para oferecer, que é muito." Mas o aumento da violência tem vindo a afastar turistas e investidores, num país que depende dos cerca de 20 milhões de visitantes que acolhe todos os anos para equilibrar as finanças públicas, sublinhou a Reuters.

O Governo também conta com o cepticismo da maioria dos mexicanos que, segundo sondagens de opinião pública, consideram que o narcotráfico está a vencer esta guerra. Edgardo Buscaglia, especialista em narcotráfico da Universidade ITAM, na Cidade do México, observa que "os investidores estão a ver pessoas decapitadas todos os dias e isso não pode ser resolvido com uma campanha publicitária".

Em Ciudad Juárez, junto à fronteira com o Texas, foram assassinadas mais de 5500 pessoas nos últimos dois anos e meio e a economia local foi devastada. Em algumas zonas a polícia depara-se com a falta de meios, contou à Reuters o chefe de uma esquadra, Laurencio Rodriguez. "Os meus homens estão a desertar ou foram mortos. Neste sector da cidade, com 400 mil habitantes, só tenho 80 polícias em patrulha permanente."

Muitos dos restaurantes que antes eram frequentados por norte-americanos estão agora fechados, cerca de 75 mil pessoas perderam o emprego que tinham em fábricas que encerraram. Para os hotéis, que antes eram frequentados por executivos norte-americanos, as perdas rondaram os 2,4 milhões de dólares num ano.