Pelo menos 19 mortos em ataque israelita a barcos que levavam ajuda a Gaza

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Navios israelitas chegam ao porto de Ashdod depois do assalto Nir Elias/Reuters

A UE já pediu um inquérito ao incidente e os palestinianos pediram uma reunião urgente na ONU. O presidente da Autoridade Palestiniana, Mahmoud Abbas, classificou o ataque como um “massacre”. Os Estados Unidos lamentaram as vítimas e disseram estar “actualmente a trabalhar para compreender as circunstâncias que rodearam a tragédia”.

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A UE já pediu um inquérito ao incidente e os palestinianos pediram uma reunião urgente na ONU. O presidente da Autoridade Palestiniana, Mahmoud Abbas, classificou o ataque como um “massacre”. Os Estados Unidos lamentaram as vítimas e disseram estar “actualmente a trabalhar para compreender as circunstâncias que rodearam a tragédia”.

O primeiro-ministro israelita, Benjamin Netanyahu, manifestou o "seu inteiro apoio" ao Exército. Netanyahu falou do Canadá, onde se encontra e tem uma reunião prevista com o primeiro-ministro Stephen Harper antes de partir para Washington, amanhã. A rádio israelita noticiou que o primeiro-ministro israelita iria interromper a viagem para regressar a Israel, mas essa informação foi entretanto desmentida pela delegação que o acompanha.

Os mortos eram activistas pró-palestinianos. Os barcos partiram ontem de Chipre, desrespeitando o aviso israelita de que todos os barcos que tentassem entrar nas suas águas territoriais seriam interceptados. A bordo estavam dez mil toneladas de ajuda humanitária.

"Quinze pessoas foram mortas durante o ataque, na sua maioria cidadãos turcos", afirmou Mohammed Kaya, responsável pela divisão de Gaza da IHH, uma organização turca de defesa dos direitos humanos, que fazia parte da operação naval. Entretanto, o Canal 2 da televisão israelita confirmou que os mortos são já 19 e os feridos 26.

A correspondente do diário “Guardian” em Jerusalém está num hospital em Ashkelon, onde diz que estão a chegar alguns dos feridos. “O xeque Rayed Salah, figura de peso entre os árabes israelitas, está a ser submetido a uma cirurgia de urgência. É um homem importante”, escreveu Harriet Sherwood através do site Twitter.

Algumas embarcações estavam assinaladas com a bandeira turca, país que já fez saber que condena veementemente esta operação militar, classificando-a de inaceitável. O primeiro-ministro Recep Tayyip Erdogan, de visita ao Chile, cancelou a sua viagem à América Latina e fará declarações nas próximas horas.

Manifestações na Turquia

“Israel vai sofrer as consequências por este seu comportamento”, frisou o Ministério turco dos Negócios Estrangeiros. Ancara convocou o embaixador israelita, Gaby Levy, para lhe pedir explicações. Um comunicado do Governo turco denuncia que o Exército israelita usou a força contra um grupo de ajuda humanitária, incluindo "idosos, mulheres e crianças".


Milhares de pessoas manifestaram-se já na praça principal de Istambul, num protesto contra o raide israelita contra a frota humanitária, anunciou um jornalista da AFP presente no local. “Morte a Israel”!”, “Soldados turcos, parti para Gaza”, gritavam os manifestantes concentrados ao fim da manhã na Praça Thaksim.

Em Ancara, um pouco menos de 200 pessoas manifestaram-se frente a residência do embaixador de Israel, protegida também ela por forças policiais. Enquanto isto, em Jerusalém, os israelitas era convidados a não mais visitar a Turquia.

UE pede inquérito e fim do bloqueio

Este ataque está, de resto, a provocar uma onda de levantamentos diplomáticos. A União Europeia quer um inquérito completo ao incidente. "A Alta Representante [Para a Política Externa] Cahterine Ashton expressou o seu profundo repúdio face às notícias de perda de vidas e feridos", afirmou um porta-voz de Ashton.


"Em representação da União Europeia, exigiu uma investigação sobre as circunstâncias em que ocorreu o acidente. Reclamou a abertura imediata, contínua e incondicional do bloqueio à circulação de ajuda humanitária, bens comerciais e pessoas desde Gaza e para Gaza."

ONU “chocada” com o ataque

A Alta Comissária das Nações Unidas para os Direitos Humanos, Navi Pillay, afirmou-se “chocada” com o assalto do Exército israelita aos barcos de activistas pró-palestinianos que se dirigiam para Gaza.


“Estou chocada pelas informações que indicam que uma missão humanitária foi atacada causando mortes e feridos quando a frota de aproximava da costa de Gaza”, disse Pillay.

O ministro dos Negócios Estrangeiros francês, Bernard Kouchner, afirmou-se também "profundamente chocado" pelo assalto israelita. "Nada justificaria o emprego de uma tal violência", afirmou entretanto o Presidente Nicolas Sarkozy.

Mesma opinião tem Berlim: "Os governos alemães sempre reconheceram o direito de Israel se defender, mas esse direito deve ser exercido no quadro de uma resposta proporcional. À primeira vista, parece não ter sido o caso", disse o um porta-voz do Governo alemão, Ulrich Wilhelm.

A Suécia qualificou o incidente de "completamente inaceitável" e já convocou o embaixador israelita em Estocolmo para lhe dizer exactamente isso. Na sequência do ataque, a Grécia anulou uma visita do chefe do Estado-Maior da Força Aérea israelita prevista para terça-feira, anunciou o Ministério dos Negócios Estrangeiros de Atenas.

Na única reacção até ao momento que não condena Israel, o secretário de Estado adjunto dos Negócios Estrangeiros italianos, Alfredo Mantica, considerou que a tentativa dos barcos de romperem o embargo israelita foi "uma provocação". "Este assunto é uma provocação com um objectivo político preciso. É possível discutir a reacção israelita, mas pensar que tudo se iria passar sem nenhuma reacção seria uma interpretação ingénua dos que provocação este acidente", disse Mantica em declarações à rádio CNR media.

O chefe da Liga Árabe, Amr Moussa, condenou aquilo que classificou como um "crime contra uma missão humanitária" e o presidente da Autoridade Palestiniana, Mahmoud Abbas, apelidou o incidente de "massacre"e decretou três dias de luto nos territórios palestinianos.

As autoridades israelitas estão determinadas em manter o bloqueio ao território palestiniano de Gaza, controlado pelo Hamas, e onde vive um milhão e meio de pessoas, alegando recear o envio de armas por meio marítimo.

Notícia em actualização