Siza Vieira afastado de projecto para pousada na Fortaleza de Peniche

Foto
A Fortaleza de Peniche encontra-se em estado de degradação Enric Vives-Rubio

O arquitecto explicou que, quando da entrada do Grupo Pestana na administração na rede de Pousadas de Portugal com a privatização da Enatur, em 2003, foi afastado do trabalho por discordar da intenção de criar uma pousada com mais do dobro dos 30 quartos que previa o projecto de arquitetura que elaborou para o espaço. E que, disse, “não está ainda pago”.

A verdade faz-nos mais fortes

Das guerras aos desastres ambientais, da economia às ameaças epidémicas, quando os dias são de incerteza, o jornalismo do Público torna-se o porto de abrigo para os portugueses que querem pensar melhor. Juntos vemos melhor. Dê força à informação responsável que o ajuda entender o mundo, a pensar e decidir.

O arquitecto explicou que, quando da entrada do Grupo Pestana na administração na rede de Pousadas de Portugal com a privatização da Enatur, em 2003, foi afastado do trabalho por discordar da intenção de criar uma pousada com mais do dobro dos 30 quartos que previa o projecto de arquitetura que elaborou para o espaço. E que, disse, “não está ainda pago”.

“A duplicação do número de quartos implicava a criação de mais dois pisos, projectei o hotel para ter a mesma altura da fortaleza, por isso aumentar o número de pisos seria uma monstruosidade”, disse.

Contactados pela Lusa, nem a Enatur nem o Grupo Pestana prestaram esclarecimentos sobre o ponto de situação do projecto.

O arquitecto alertou para as “pressões” que vão surgir quanto ao “aumento da volumetria” e “de privatização do espaço”, caso o projecto da pousada se mantiver.

Álvaro Siza Vieira disse ainda que um hotel “não é solução” para reabilitar o património da Fortaleza de Peniche, tendo em conta as “dúvidas” que tem sobre a compatibilização do projecto com a necessidade de preservar a memória histórica do espaço, que serviu como antiga prisão política. “Não é uma coisa que se faça de ânimo leve”, sublinhou.

O presidente da câmara de Peniche, António José Correia (CDU), revelou que a autarquia deu um prazo “até Junho” ao Grupo Pestana para apresentar o projecto de viabilidade, que passa por criar 70 quartos na futura pousada para tornar o investimento rentável.

“Se até Agosto não for apresentado o projeto de viabilidade, tomaremos uma decisão”, acrescentou o autarca, que pretende clarificar “em definitivo” o futuro a dar à Fortaleza.

António José Correia recordou que a autarquia concordou em 1999 com a futura pousada por envolver o arquitecto Siza Vieira, cujo projecto compatibilizava a preservação do património histórico, mantendo intacta a memória e os espaços associados às fugas políticas. “Se o projecto não corresponder a este conjunto de condições não aceitaremos o desafio”, disse.

A fortaleza, em estado de parcial degradação, foi construída no século XVII sobre rochedos em frente ao mar para defesa da costa, vindo ao longo do tempo a perder interesse do ponto de vista militar. Até que, na década de 1930, foi transformada em prisão política.

A reabilitação patrimonial da Fortaleza de Peniche tem sido uma preocupação da autarquia e está englobada no Plano de Ação do Oeste assinado entre o Governo e os municípios do Oeste após a deslocalização do aeroporto da Ota, já depois do protocolo assinado com a Enatur para a transformação da Fortaleza em pousada.