Tailândia: Investida contra “camisas vermelhas” faz sete mortos

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A violência durou todo o dia Damir Sagolj/Reuters

A investida contra os “camisas vermelhas” fez ainda 101 feridos, segundo avançou à Reuters o centro médico Erawan. Estes podem ser números provisórios, já que os confrontos continuavam pela noite fora.

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A investida contra os “camisas vermelhas” fez ainda 101 feridos, segundo avançou à Reuters o centro médico Erawan. Estes podem ser números provisórios, já que os confrontos continuavam pela noite fora.

O objectivo das autoridades era criar um cordão de segurança à volta do local onde os “camisas vermelhas” estão reunidos, numa das principais zonas comerciais da capital tailandesa, para exigir a demissão do Governo. O resultado foi a transformação do local num campo de batalha, com helicópteros a sobrevoar a zona.

Os soldados lançaram gás lacrimogéneo e dispararam balas, de borracha e reais, contra os manifestantes, que, por sua vez, responderam com cocktails Molotov, rockets de fabrico artesanal e incendiaram um autocarro da polícia.

A BBC refere que os “camisas vermelhas” estão a fazer tudo o que está ao seu alcance para deter os avanços militares, depois de terem ficado sem água nem electricidade.

O anoitecer não apaziguou a tensão. Ouviram-se pelo menos cinco explosões, seguidas de tiros de metralhadora. “À medida que a noite cai, assistimos a uma maior intensificação dos disparos”, testemunhou a correspondente da Al Jazeera. “Ouvimos ainda muitos tiros a vir da zona. É difícil dizer se vêm do lado dos ‘camisas vermelhas’ ou dos soldados”. E os confrontos extravasaram a área dos protestos, uma vez que alguns manifestantes saíram para tentar reunir reforços, continua.

O braço-de-ferro agravou-se depois de na quinta-feira um general que se passou para o lado dos manifestantes ter sido atingido na cabeça, por um tiro cuja origem se mantém desconhecida. Khattiya Sawasdipol estava encarregue da segurança no acampamento, mas era considerado “terrorista” pelo Governo. A Reuters refere que o general foi alvo de uma cirurgia ao cérebro e que o seu estado é ainda crítico.

As forças de segurança avançaram sobre os manifestantes que tinham criado barreiras no exterior do mercado nocturno Suan Lum, um local que atrai muitos turistas, para impedir que os soldados se aproximassem da sua principal base (uma zona de três quilómetros quadrados, onde estão acantonados desde o início de Março), refere a BBC. Panitan Wattanayagorn, porta-voz do Governo, assegurou que o objectivo não é tomar de assalto as barricadas. “Queremos acabar com uma série de actividades, incluindo logísticas”, disse. Mais tarde afirmaria que esperava ver a situação resolvida “nos próximos dias”.

As sete mortes de hoje e uma de ontem elevam para 37 o número de vítimas desta crise. Para além disso, um repórter canadiano do France 24 foi atingido por três balas ficando “gravemente ferido”, disse o canal francês; e dois jornalistas tailandeses terão sido também baleados.

Um dos líderes da contestação, Nattawut Saikur, acusou o primeiro-ministro, Abhisit Vejjajiva, de “ter começado uma guerra civil”.

Esta é a mais grave crise política em duas décadas. E os analistas argumentam que, ainda que o Governo consiga limpar as ruas, “não vai acabar com a polarização que levou à actual instabilidade”, defende o grupo de consultoria política Eurasia Group, citado pela Reuters. Ou seja, prevê-se que a pressão dos “camisas vermelhas” se mantenha e que a volatilidade política persista.