Exposições dos artistas enquanto jovens até às imagens de Jorge Molder e Jesper Just

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Jaz Morto e Arrefece, de Clara Meneres Raquel Esperanca/PÚBLICO

Quando se passeia pela exposição Anos 70. Atravessar Fronteiras, que hoje se inaugura no Centro de Arte Moderna (CAM), em Lisboa, viaja-se no tempo.
Uma centena e meia de obras (pinturas, instalações, esculturas, fotografi a, vídeo, performance) de mais de 100 artistas portugueses representativos desta década marcada pela revolução de 1974 estão expostas em três grandes núcleos. Pontualmente, ao longo da exposição, surgem vídeos que acompanham as obras.

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Quando se passeia pela exposição Anos 70. Atravessar Fronteiras, que hoje se inaugura no Centro de Arte Moderna (CAM), em Lisboa, viaja-se no tempo.
Uma centena e meia de obras (pinturas, instalações, esculturas, fotografi a, vídeo, performance) de mais de 100 artistas portugueses representativos desta década marcada pela revolução de 1974 estão expostas em três grandes núcleos. Pontualmente, ao longo da exposição, surgem vídeos que acompanham as obras.

São filmes de época onde se podem ver os artistas a trabalhar, muitas vezes a criar o que ali está exposto. É uma verdadeira viagem ao passado, à época em que aqueles artistas eram jovens. Lourdes Castro relata o seu modo de fazer a peça O Lençol, Ana Haterly foi captada na performance Ruptura e Júlio Pomar e outros pintam. Foram todos filmados a preto e branco e o visitante volta atrás no tempo. Comissariada por Raquel Henriques da Silva com a colaboração de Ana Ruivo e Ana Filipa Candeias, esta exposição é apresentada "sem hierarquias e sem destaques" e pretende transmitir "a ideia da grande diversidade dos suportes" da década de 70.

Numa visita guiada a comissária explicou que foi possível encomendar a alguns artistas obras que haviam deixado de existir (o caso da instalação de Alberto Carneiro e do bando de pombas de Carlos Nogueira, a escultura de José Aurélio que tinha ardido na Galeria de Belém e as pinturas do grupo ACRE) e também refazer e reapresentar outras, como as de Ana Vieira, Túlia Saldanha, Alberto Pimenta (que lê o texto que fez trancado numa jaula no Jardim Zoológico), Rui Órfão (que reconstruiu a memória de uma performance de 1978) e António Costa Pinheiro.
"Uma questão muito importante na Arte Contemporânea e que em Portugal se põe, talvez pela primeira vez, nesta altura é a de uma radical efemeridade na existência das obras", afirmou Raquel Henriques. Estava a referir-se à instalação que o grupo ACRE fez para esta exposição na Rua Nicolau Bettencourt e que é uma recriação do que fizeram na Rua do Carmo em 1974. É aí que se inicia o percurso de Anos 70. Atravessar Fronteiras. As comissárias tiveram a preocupação de começar a exposição na rua. "Esta instalação dura o que durar", disse Raquel Henriques da Silva, "enquanto os carros forem passando".

Já dentro do museu está uma peça que não era vista desde 1975. Alberto Carneiro fê-la na Galeria Quadro, num espaço mais contido. Constou do catálogo da representação portuguesa na Bienal de Veneza em 1976. "Lançámos o repto para ele refazer a peça. Andou um ano à procura de uma oliveira e depois esteve cá a montá-la."

Quando se entra no núcleo mais marcado pelos anos da revolução, vê-se Jaz Morto e Arrefece, de Clara Menéres, que "utiliza o hiper-realismo para evocar uma realidade proibida." E logo a seguir há uma "notável" pintura de Paula Rego", que Henriques da Silva destacou. Outra das apostas da rentrée do CAM é a primeira exposição individual em Portugal do artista dinamarquês Jesper Just, integrada no Festival Temps d'Images. Logo à entrada emocionamo-nos ao ver um homem de meia-idade a dançar para um homem mais novo. Este chora ao vê-lo dançar. Tudo se passa numa praça pública do centro de uma cidade e não se consegue tirar os olhos daquele bailado. São imagens de No Man Is an Island, o primeiro trabalho de Just (2002). "Cinema, arte e sexo" são para Alexandre Melo os três vértices de um triângulo que servem para a aproximação à obra deste artista e o cinema serve de elo de ligação para a terceira exposição que abre hoje no CAM.

A interpretação dos sonhos, de Jorge Molder, com curadoria de Leonor Nazaré e que apresenta duas séries de fotografias doadas pelo artista (O Pequeno Mundo e Não Tem que Me Contar Seja o que For) e uma terceira série, recente e inédita. Esta última reúne 21 imagens, nas palavras de Jorge Molder, "recorrentes, obsessivas, espessas de sentidos e tendentes para limites, de momentos do mundo paradoxal dos sonhos."

Nesta exposição regressamos aos jogos de luz e sombra característicos do artista, aos seus auto-retratos, às imagens que fez a partir de filmes que seleccionou. Por lá passa o enigma, o pânico, a tristeza, a surpresa. Há situações de queda, de desequilíbrio, aparecem muitas mãos sujas. Há uma iminência do perigo e este chega quando fi xamos o olhar na cara de Jorge Molder, besuntada de cremes, com olhos vermelhos, não sabemos se mais morto do que vivo.