Sacanas sem Lei

Torna-se muito difícil numa filmografia tão ambiciosa como a de Quentin Tarantino dizer qual a sua obra-prima, entre o fulgor repentista de "Pulp Fiction" (1994), a perfeição formal de "Jackie Brown" (1997) e a artificiosa violência gráfica de "Kill Bill" (2003, 2004).

A verdade faz-nos mais fortes

Das guerras aos desastres ambientais, da economia às ameaças epidémicas, quando os dias são de incerteza, o jornalismo do Público torna-se o porto de abrigo para os portugueses que querem pensar melhor. Juntos vemos melhor. Dê força à informação responsável que o ajuda entender o mundo, a pensar e decidir.

Torna-se muito difícil numa filmografia tão ambiciosa como a de Quentin Tarantino dizer qual a sua obra-prima, entre o fulgor repentista de "Pulp Fiction" (1994), a perfeição formal de "Jackie Brown" (1997) e a artificiosa violência gráfica de "Kill Bill" (2003, 2004).


Uma coisa é certa, este "Sacanas Sem Lei" revela absoluta coerência com toda a sua produção anterior, empenhado numa relação cinéfila de grande amplitude, citando de forma ínvia "Doze Indomáveis Patifes" (Robert Aldrich, 1967) e reformulando o filme de guerra como género e como atitude, sem nunca prescindir de uma visão original, de uma intervenção inconfundível sobre o estatuto das personagens, numa vertigem iconográfica que faz de Brad Pitt um herói negativo e fetichista e de Christoph Waltz um vilão absurdo e complexo. Divertimento sangrento e implacável, o filme nunca se compraz com reduções simplistas, antes procura fazer dos maneirismos dos actores (e do realizador) a matéria-prima de um radical exercício de estilo: a brutalidade da acção (o arranque dos escalpes, como no mais feroz dos "westerns"), o lado episódico da narrativa, tudo contribui para um novo olhar sobre o nazismo e um avanço das formas fílmicas, a partir da tradição. Um dos grandes filmes do ano, sem qualquer sombra de dúvida.