Xinti

O disco anterior de Sara Tavares, "Balancé", era uma pequena surpresa, pelo menos para quem apenas a conhecia das suas participações televisivas: tinha deixado de imitar divas soul americanas e entregava um álbum com ramificações na música cabo-verdiana mas que, longe de ser tradicional, conseguia ser pop, no sentido de usar o mínimo possível para chegar a melodias acessíveis.

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O disco anterior de Sara Tavares, "Balancé", era uma pequena surpresa, pelo menos para quem apenas a conhecia das suas participações televisivas: tinha deixado de imitar divas soul americanas e entregava um álbum com ramificações na música cabo-verdiana mas que, longe de ser tradicional, conseguia ser pop, no sentido de usar o mínimo possível para chegar a melodias acessíveis.

Era um disco quente, afável, de notório bom gosto, assente em ritmos dolentes, em que a guitarra servia de base mínima a uma voz doce. O mesmo calor atravessa "Xinti", mas há diferenças: as canções são mais complexas, há mais arranjos e a voz, por vezes, cai em excessos que eram evitados no disco anterior. Para dar dois exemplos: uma balada bonita como "Ponto de luz" precisava de maior contenção; e o scat com que se inicia "Caminhanti" era dispensável. As melhores qualidades de Sara Tavares, a escrita simples e eficaz e a capacidade de criar melodias simples embaladas num torpor rítmico encantatório, estão exemplificadas em "Pé na strada": uma sequência de acordes inapelável, um arranjo de percussão extremamente simples e eficaz, uma textura rara na voz. Há mais canções a este nível, como "Bué (Vocé é)", que tem um gingar meio funkalhado e um delicioso cavaquinho reggae pelo meio. Aliás, as melhores faixas são as que têm maior presença rítmica, o que nos faz pensar que esse seria um caminho interessante para Sara Tavares experimentar.