Cientistas de Coimbra desenvolvem químico mais eficaz para combater o cancro
"Já passou muitas fases e deu resultados promissores, é mais eficaz do que a cis-platina”, explica Maria Paula Marques, líder da investigação, referindo-se a uma droga utilizada nos cancros do testículo, pescoço e cabeça, que é “muito eficaz” mas apresenta problemas a nível de toxicidade, além dos doentes acabarem por desenvolver resistência ao medicamento passados dois anos.
A verdade faz-nos mais fortes
Das guerras aos desastres ambientais, da economia às ameaças epidémicas, quando os dias são de incerteza, o jornalismo do Público torna-se o porto de abrigo para os portugueses que querem pensar melhor. Juntos vemos melhor. Dê força à informação responsável que o ajuda entender o mundo, a pensar e decidir.
"Já passou muitas fases e deu resultados promissores, é mais eficaz do que a cis-platina”, explica Maria Paula Marques, líder da investigação, referindo-se a uma droga utilizada nos cancros do testículo, pescoço e cabeça, que é “muito eficaz” mas apresenta problemas a nível de toxicidade, além dos doentes acabarem por desenvolver resistência ao medicamento passados dois anos.
Ambos os químicos fazem parte do grupo de compostos contra o cancro que têm um ião metálico central. Quando são administrados no corpo, ligam-se ao ADN das células cancerígenas e provocam a sua morte. Os compostos atacam mais estas células por terem particularidades diferentes das normais – que, por exemplo, são as culpadas por acelerar a sua multiplicação –, mas também são nocivos ao resto dos tecidos. É por isso que os tratamentos cancerígenos são tóxicos para as pessoas, provocando náuseas, queda cabelo e outras complicações.
O ião do novo composto é o paládio. Durante dez anos fizeram-se estudos com cerca de dez compostos, em que se alteraram ligações pontuais das moléculas que, posteriormente, foram testadas in vitro. Este, foi o único que revelou ser mais eficaz no combate ao cancro e menos nocivo em células não-cancerígenas do que compostos anteriores.
“Os testes in vivo (em animais de laboratório), se forem promissores, podem durar um ou dois anos para passarem a ser testado em humanos”, disse ao PÚBLICO por telefone Paula Marques.
A investigação feita mostra que o novo químico (que ainda não tem nome, só número) pode combater os cancros da mama, de língua, do útero e a leucemia, mas “nos testes in vivo pode-se descobrir mais cancros [que sejam afectados pelo químico], embora os estudos in vitro já dão uma boa indicação”, salienta a investigadora.
Os próximos dois anos serão também essenciais para compreender se existem efeitos negativos que não foram até agora revelados. “Há toda uma maquinaria a ter em conta, mais complexa do que na célula”, diz Maria Paula Marques. Nos animais compreende-se o efeito que os químicos têm nos órgãos e em todo o metabolismo, adiantou.