Em dez anos o Sudeste asiático revelou mil espécies, quantas mais esconderá?

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As espécies existentes nesta região estão ameaçadas pelo desenvolvimento na Ásia WWF

Mas não, o kha-nyou (nome na língua local) está vivo, foi fotografado e filmado, e é uma das 1068 novas espécies que se descobriram no sudeste asiático, na última década. Os resultados foram reunidos num relatório do Fundo Mundial da Natureza (WWF) publicado na segunda-feira.

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Mas não, o kha-nyou (nome na língua local) está vivo, foi fotografado e filmado, e é uma das 1068 novas espécies que se descobriram no sudeste asiático, na última década. Os resultados foram reunidos num relatório do Fundo Mundial da Natureza (WWF) publicado na segunda-feira.

“Não se consegue melhor que isto”, constatou Stuart Chapman, director do Greater Mekong Program da WWF, responsável pelos projectos de conservação e investigação da biodiversidade no Sudeste da Ásia. “Pensávamos que descobertas desta escala estavam confinadas aos livros de história”, disse, citado pela AFP.

Entre 1997 e 2007, os cientistas encontraram 519 plantas, 279 peixes, 88 rãs, 88 aranhas, 46 lagartos, 22 serpentes, 15 mamíferos, quatro aves, quatro tartarugas, duas salamandras e um sapo.

Devido às circunstâncias geopolíticas — primeiro o colonialismo e depois várias guerras, a região que rodeia o rio Mekong é uma das mais ricas em biodiversidade e também das mais desconhecidas do mundo em termos biológicos. O Mekong nasce no Tibete e desagua no mar da China, atravessando 4500 quilómetros. A WWF definiu três regiões de trabalho que juntas formam o Greater Mekong, e que abarcam partes do Camboja, Laos, Birmânia, Tailândia, Vietname e o Yunnan, uma das províncias da China.

O Greater Mekong é preenchido por manchas de florestas húmidas e secas, que existem em redor da bacia hidrográfica alimentada pelo rio e afluentes. Segundo o relatório, existe ali uma enorme quantidade de espécies endémicas.

Na região que abarca o Vietname, por exemplo, “condições excepcionais permitiram que as florestas húmidas persistissem durante a última Idade do Gelo, dando à floresta e às espécies milhares de anos de refúgio para evoluírem isoladamente”, diz o relatório.

O primeiro contacto

Há espécies novas para todos os gostos, algumas tão pontualmente localizadas que podiam ser alvo de expedições comparáveis à procura do Santo Graal. A Leptolalax sungi, por exemplo, é uma rã com os olhos dourados que foi recolhida na montanha de Tam Dao, no Vietname do Norte, a 925 metros de altitude. Só existe nas redondezas de um único ribeiro, perto da aldeia de Tam Dao.

Nos invertebrados, o Desmoxytes purpurosea é um dos mais fotogénicos. O milípede (“primo” das centopeias) cor-de-rosa, quase fluorescente — para avisar que é venenoso —, foi encontrado em 2007 na Tailândia.

A região de Mekong conta com 430 mamíferos, e 70 só existem aqui. Por isso, a descoberta de 15 novas espécies em dez anos faz com que os cientistas acreditem que muita biodiversidade ainda está por descobrir. Aliás, o nome do relatório chama-se First Contact in the Greater Mekong, que remete para a ideia de que esta empreitada foi só o início.

“O mundo científico só agora é que está a aperceber-se daquilo que as pessoas daqui conhecem há séculos”, disse Chapman.

É por isso que a WWF tem planos para proteger a região e quer desenvolver com os Governos e as indústrias dos países um projecto para a conservação de uma área de 600 mil quilómetros quadrados — o equivalente à Península Ibérica.

A região, que aglutina 320 milhões de pessoas, é uma das mais ameaçadas no mundo. O desenvolvimento económico, o aumento populacional e os padrões de consumo da região vão nos próximos anos pressionar o rio Mekong através da agricultura, da indústria madeireira, do comércio de espécies selvagens e da pesca.

Como se não bastasse, prevê-se que o Sudeste asiático seja das regiões mais afectadas pelas alterações climáticas.