Mark Leckey ganha Prémio Turner com uma ajudinha do Gato Félix

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Uma escultura do Gato Félix, imagens dos Simpson e do Titanic de James Cameron, engenhos variados, um vídeo em que o próprio artista fala do seu fascínio pelos desenhos animados e outros ícones da cultura contemporânea.Estes são apenas alguns dos elementos da obra Industrial Light & Magic, que rendeu a Mark Leckey, um artista de 44 anos, as 25 mil libras (cerca de 36.800 euros) do Turner, o mais polémico e provocador dos prémios de artes plásticas britânicos. Quando o músico Nick Cave subiu ao palco do auditório da Tate Britain para anunciar "And the winner is...", toda a gente já adivinhava que o nome contido no enevelope era o de Leckey, que a crítica britânica, ainda que dividida quanto ao mérito da obra, apontava consensualmente como o favorito deste ano.O júri, presidido pelo director do museu de arte londrino, Stephen Deuchar, considerou que Mark Lekey, "com inteligência e originalidade, encontrou uma variedade de formas de comunicar o seu fascínio pela cultura visual". E saudou ainda "a natureza enérgica e sedutora" do trabalho do artista, cujos conceitos centrais seriam "o desejo e a transformação".A um olhar desprevenido, esta obra de Leckey cujo título repete o nome da empresa de efeitos especiais do cineasta George Lucas parecerá tudo menos convencional. No entanto, a principal censura que a generalidade dos críticos vinha manifestando em relação à short list deste Turner 2008 era a de que as obras escolhidas constituíam um conjunto bastante maçador, por contraste com as de edições anteriores. De facto, uma evocação algo nostálgica do Gato Félix, herói animado da época do cinema mudo, sempre é um bocadinho menos provocador do que aplicar bosta de elefante a uma imagem da Virgem Maria, a proeza que deu o Turner a Chris Ofili, em 1998.Nem a instalação de Cathy Wilkes com o seu manequim feminino sentado numa retrete junto a uma caixa de supermercado pareceu suficientemente chocante para honrar as tradições do prémio.Ainda assim, a viragem não foi tão radical que tivesse levado o júri ao sacrilégio de seleccionar uma obra de pintura. Além de Wilkes, as duas outras artistas que perderam para Leckey, o único finalista masculino, são Runa Islam, nascida no Bangladesh, que apresentou uma série de vídeos (num deles, uma mulher senta-se para tomar chá e começa a atirar a louça ao chão), e Gosha Macuga, de origem polaca, que relaciona obras de diversos artistas e lhes justapõe uma parafernália de objectos aparentemente arbitrária, construindo, segundo a definição da Tate, "ambientes dramáticos". 

 

O professor

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Uma escultura do Gato Félix, imagens dos Simpson e do Titanic de James Cameron, engenhos variados, um vídeo em que o próprio artista fala do seu fascínio pelos desenhos animados e outros ícones da cultura contemporânea.Estes são apenas alguns dos elementos da obra Industrial Light & Magic, que rendeu a Mark Leckey, um artista de 44 anos, as 25 mil libras (cerca de 36.800 euros) do Turner, o mais polémico e provocador dos prémios de artes plásticas britânicos. Quando o músico Nick Cave subiu ao palco do auditório da Tate Britain para anunciar "And the winner is...", toda a gente já adivinhava que o nome contido no enevelope era o de Leckey, que a crítica britânica, ainda que dividida quanto ao mérito da obra, apontava consensualmente como o favorito deste ano.O júri, presidido pelo director do museu de arte londrino, Stephen Deuchar, considerou que Mark Lekey, "com inteligência e originalidade, encontrou uma variedade de formas de comunicar o seu fascínio pela cultura visual". E saudou ainda "a natureza enérgica e sedutora" do trabalho do artista, cujos conceitos centrais seriam "o desejo e a transformação".A um olhar desprevenido, esta obra de Leckey cujo título repete o nome da empresa de efeitos especiais do cineasta George Lucas parecerá tudo menos convencional. No entanto, a principal censura que a generalidade dos críticos vinha manifestando em relação à short list deste Turner 2008 era a de que as obras escolhidas constituíam um conjunto bastante maçador, por contraste com as de edições anteriores. De facto, uma evocação algo nostálgica do Gato Félix, herói animado da época do cinema mudo, sempre é um bocadinho menos provocador do que aplicar bosta de elefante a uma imagem da Virgem Maria, a proeza que deu o Turner a Chris Ofili, em 1998.Nem a instalação de Cathy Wilkes com o seu manequim feminino sentado numa retrete junto a uma caixa de supermercado pareceu suficientemente chocante para honrar as tradições do prémio.Ainda assim, a viragem não foi tão radical que tivesse levado o júri ao sacrilégio de seleccionar uma obra de pintura. Além de Wilkes, as duas outras artistas que perderam para Leckey, o único finalista masculino, são Runa Islam, nascida no Bangladesh, que apresentou uma série de vídeos (num deles, uma mulher senta-se para tomar chá e começa a atirar a louça ao chão), e Gosha Macuga, de origem polaca, que relaciona obras de diversos artistas e lhes justapõe uma parafernália de objectos aparentemente arbitrária, construindo, segundo a definição da Tate, "ambientes dramáticos". 

 

O professor

Esta alegada "suavização" do Turner agrada a Leckey, e não apenas por ter ganho o prémio: "Odeio a relação da imprensa britânica com a arte, o modo como está sempre à espera de espectáculo e choque; a arte não é isso." Criticando a obsessão dos jornais por Damien Hirst que venceu o Turner em 1995 com um conjunto de obras que incluía uma vaca e uma ovelha conservadas em formol e por outros nomes do movimento Young British Artists, Leckey resume: "Uma data de maus artistas ganharam uma data de dinheiro." A fortuna de Hirst, a confiar nos cálculos do jornal Sunday Times, andará hoje pelos 260 milhões de euros.O Prémio Turner, exclusivamente destinado a artistas com menos de 50 anos, incide sobre exposições realizadas no ano anterior. No caso de Leckey foram consideradas as individuais que apresentou em 2007 na Alemanha, no Kunstverein de Colónia, e em França, no Consortium de Dijon. Actualmente professor de Cinema em Frankfurt, o artista colabora também com várias bandas musicais, e foi mesmo co-fundador de duas: Donateller e Jack too Jack.Os apreciadores e detractores de Leckey entre os últimos, um dos mais aguerridos é o crítico Adrian Searle, que escreve para o jornal inglês Guardian admiramno e detestam-no por razões muito semelhantes, que têm a ver com a sua propensão para criar obras de tese, com uma forte dimensão ensaística. "Na vida real", diz Searle, "Leckey é um professor que vive na Alemanha, e toda a sua arte é, de uma maneira ou de outra, uma espécie de demonstração erudita."