Saturno: cientistas descobriram lagos de etano em estado líquido na lua de Titã

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A observação foi feita em Dezembro de 2007 quando a nave se aproximou de Titã NASA/JPL/Space Science Institute

“Esta descoberta faz de Titã o único corpo conhecido do nosso sistema solar que, para além da Terra, tem líquido na sua superfície”, diz a NASA

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“Esta descoberta faz de Titã o único corpo conhecido do nosso sistema solar que, para além da Terra, tem líquido na sua superfície”, diz a NASA

O Laboratório de Propulsão por Jacto (JPL) da NASA gere a missão Cassini que está a explorar Saturno, os seus anéis e as luas. "Os cientistas identificaram positivamente a presença de etano", lê-se no comunicado da JPL.

A lua tem 5150 quilómetros de diâmetro, é o segundo maior satélite do sistema solar e é maior do que Mercúrio. A temperatura média do ar é de aproximadamente 180 graus célsius negativos. Pensava-se que a lua estava coberta por um enorme oceano de hidrocarbonetos, que a temperaturas tão baixas poderiam existir em estado líquido e gasoso.
Mas a Cassini, que já efectuou mais de 40 passagens sobre Titã, provou que não existe um oceano global. Os registos geográficos mostravam que a superfície estava coberta por aquilo que pareciam ser inúmeros lagos escuros. Até agora não se sabia se estas depressões eram líquidas ou formações rochosas muito escuras.

“Esta é a primeira observação que realmente conclui que Titã tem lagos de superfície cheios de líquidos”, disse Bob Brown da Universidade do Arizona, em Tucson. O cientista é quem coordena a equipa técnica que controla os instrumentos da Cassini que observam e mapeiam Titã.

O lago ficou com o nome de Ontario Lacus, situa-se na região polar, no sul do satélite e mede cerca de 20.000 quilómetros quadrados. Os instrumentos identificaram os compostos químicos do lago através da forma como estes compostos absorvem e reflectem a luz infravermelha.

A atmosfera de Titã é 95 por cento de azoto, e o resto é metano. A luz do sol faz com que o metano seja degradado em etano e outros hidrocarbonetos que podem estar em estado líquido. Existem muitas evidências de um ciclo de evaporação, chuva e canais formados pelo escoamento destes líquidos que acabam por formar lagos na superfície.

“Durante os próximos anos, os vastos sistemas de lagos e mares do pólo norte de Titã que estão mapeados com o radar da Cassini vão emergir da escuridão polar para a luz, oferecendo aos instrumentos muitas oportunidades para observar as alterações sazonais dos lagos”, disse Larry Soderblom, um cientista do “U.S, Geological Survey” em Flagstaff no Arizona, que também está a trabalhar com a Cassini.

A Cassini foi lançada em 1997, chegou a Saturno em meados de 2004 depois de percorrer 3,5 mil milhões de quilómetros. A missão é um projecto da NASA em parceria com as agências espaciais da Europa e da Itália. Os resultados descobertos vão ser publicados hoje na revista científica “Nature”.