"En el día veintidós, Italia dice adiós"

Foto
Casillas defendeu dois penáltis e quebrou uma maldição de 22 anos Christian-Charisiu/Reuters

Quis o destino – e quis o Europeu mais espírito de contradição de que há memória – que desta vez assim não fosse. Quis o destino que na arena Ernst-Happel fossem os espanhóis a vestir o traje de luzes, a bailar com a capa e a sair vitoriosos da corrida.

A verdade faz-nos mais fortes

Das guerras aos desastres ambientais, da economia às ameaças epidémicas, quando os dias são de incerteza, o jornalismo do Público torna-se o porto de abrigo para os portugueses que querem pensar melhor. Juntos vemos melhor. Dê força à informação responsável que o ajuda entender o mundo, a pensar e decidir.

Quis o destino – e quis o Europeu mais espírito de contradição de que há memória – que desta vez assim não fosse. Quis o destino que na arena Ernst-Happel fossem os espanhóis a vestir o traje de luzes, a bailar com a capa e a sair vitoriosos da corrida.

O jornal "El País" dizia hoje que a selecção espanhola “nada tinha a temer a não ser um resultado negativo”. Porque tem sido esse o destino das selecções espanholas dos últimos tempos. Uma equipa com muita coragem e com mais talento que sorte. Desta vez, detectava-se algo mais. Mas esta noite até esse extra parecia ter-se esfumado quando a selecção totalista defrontou a selecção que passou este Euro à míngua.

Já se sabe. A Itália joga como se tivesse todo o tempo do mundo. Retrai-se, descontrai-se e aprecia o adversário como se estivesse sentada num hipódromo à espera de ganhar uma aposta choruda. A Espanha é o outro pólo. É a equipa que sabe que a meta está ali, mas que os últimos metros desse percurso teimam em repetir-se eternamente como num daqueles pesadelos de John Carpenter.

Enquanto os espanhóis tentavam (podiam ter conseguido muito mais cedo se o árbitro tivesse apitado aquela falta de Ambrosini sobre Villa), os italianos esperavam pelo seu momento com o calculismo do costume – e com Cassano colado a Sérgio Ramos para o que desse e viesse. Vista de cima, a equipa montada por Donadoni parecia um funil que obrigava Espanha a progredir pela entrada mais estreita. Para cada duas, três investidas espanholas, um lance com a marca italiana. Houve aquele remate que saiu do pé esquerdo de David Silva (e que pé esquerdo) e mais dois ou três rasteiros. Houve aquele cabeceamento de Toni que Marchena desviou. Houve um centro de Villa para Torres que não deu em nada e um de Torres para Villa com o mesmo resultado. Durante largos minutos, assistiu-se a um jogo que parecia querer provar a teoria que defendia Jorge Valdano antes do Europeu. “Será um campeonato sem cérebro”, alertara.

Entretanto, começavam a ganhar relevo os mais musculados que estavam na relva. Chiellini e Zambrotta, Puyol e Senna. E a ganharem relevo os guarda-redes. Buffon pelas más razões (aos 81’ deixou escapar das mãos uma bomba de Senna como se tivesse tentado agarrar um pião), Casillas pelas boas (aos 61’, com a perna esquerda, parou o golo de Camoranesi; aos 95’, com a ponta da luva, desviou um cabeceamento de Di Natale). Nesse momento, já a Espanha jogava com menos um dos talentosos candidatos a melhor do Euro: Torres.

A Itália arriscou sempre pelo ar. Aragonés tinha dito que essa era a vulnerabilidade da sua equipa e Donadoni aproveitou a deixa, entregando todas as bolas a Luca Toni e ao seu projecto de bigode. Donadoni fez suspense, a sua substituição foi Del Piero, mas nada mudou. O destino estava traçado. Penáltis. Outra vez. Dia 22 de Junho. Outra vez. Quando Casillas arrumou com o pontapé de De Rossi, o destino parecia fintado. Quando os italianos gritaram por Buffon e ele respondeu, o destino parecia estar escondido à espreita. Di Natale chutou e voltou San Casillas, espada em riste para mudar a história.

Ficha de jogoEspanha

Casillas, Sérgio Ramos, Marchena, Puyol, Capdevilla, Senna, Xavi (Fabregas, 59'), Iniesta (Cazorla, 59'), Silva, Torres (Guiza, 85') e Villa


Suplentes: Palop, Reina, Albiol, Fernando Navarro, Fabregas, Cazorla, Xabi Alonso, Sérgio Garcia, Guiza, Arbeloa, Juanito e De la Red


Itália

Buffon, Zambrotta, Panucci, Chiellini, Grosso, De Rossi, Ambrosini, Aquilani (Del Piero, 108'), Perrota (Camoranesi, 58'), Cassano (Di Natale, 74') e Toni


Suplentes: Amélia, De Sanctis, Gamberini, Del Piero, Di Natale, Borriello, Quagliarella, Camoranesi e Materazzi


Árbitro: Herbert Fandel (Alemanha) Acção disciplinar: amarelo para Iniesta (11'), Ambrosini (31'), Villa (72') e Cazorla (113')
Assistência: 50 mil espectadores

Resultado no fim do tempo regulamentar e do prolongamento: 0-0

Desempate por grandes penalidades

1-0 por Villa


1-1 por Grosso


2-1 por Cazorla


2-1 De Rossi permite defesa de Casillas


3-1 por Senna


3-2 por Camoranesi


3-2 Guiza permite defesa de Buffon


3-2 Di Natale permite defesa de Casillas


4-2 por Fabregas