Por que é que Lucian Freud é o pintor vivo mais caro do mundo?

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"Naked Portrait with Reflection" irá a leilão no próximo mês Reuters

“A obra de Freud tem uma singularidade no campo figurativo que outros pintores não têm”, disse ao PÚBLICO o crítico de arte Óscar Faria, exemplificando o trabalho que o artista realiza com modelos ao vivo. Foi a pintura “Benefits Supervisor Sleeping”, vendido na semana passada por 21,33 milhões de euros, que deu ao artista o título de pintor vivo mais caro do mundo.

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“A obra de Freud tem uma singularidade no campo figurativo que outros pintores não têm”, disse ao PÚBLICO o crítico de arte Óscar Faria, exemplificando o trabalho que o artista realiza com modelos ao vivo. Foi a pintura “Benefits Supervisor Sleeping”, vendido na semana passada por 21,33 milhões de euros, que deu ao artista o título de pintor vivo mais caro do mundo.

O quadro em questão representa uma mulher gorda deitada nua num sofá. A modelo usada neste trabalho, Ms. Tilley também conhecida por Big Sue, já havia posado para o pintor em outras ocasiões. Esta pintura retrata aquilo que Óscar Faria define como uma forma de pintar “realista e bastante carnal”. “Essa figuração de tão real chega a impressionar”, afirmou.

O crítico de arte do PÚBLICO explica o facto de a obra de Freud ter atingido um preço elevado em leilão como sendo um fenómeno de mercado. Não é comum obras de grandes pintores irem a leilão. Para Faria é esta especulação à volta da pintura que despertou “o desejo de várias pessoas terem o quadro”.

Por exemplo, o tríptico de Francis Bacon que na semana passada atingiu os 55,4 milhões de euros, tornou-se a obra mais cara do período pós-guerra jamais vendida em leilão. Se o artista irlandês ainda fosse vivo, seria ele a ganhar o estatuto de pintor mais caro do mundo.

“Psicologia e superfície”

Sobre o estilo de Freud, o crítico de arte refere a intenção do pintor em “captar as características psicológicas dos modelos”, dando como exemplo Goya que também desenvolveu esta técnica. É por isso que Óscar Faria considera que a pintura de Freud “é qualquer coisa entre psicologia e superfície”. Para explicar a ideia, o crítico deu como contraponto Andy Warhol, “que apenas captava superficialmente os seus modelos”.


O estilo de Freud também pode ser visto no quadro em que representou a rainha Isabel II em 2001. Uma representação realista que causou divergências entre a imprensa. No "The Times”, Richard Cork, descreveu a imagem como “dolorosa, corajosa, honesta, estóica e, acima de tudo, bastante perspicaz”. Já o fotógrafo do jornal oficial da realeza afirmou que Freud deveria ser trancado numa torre.

As temáticas de Freud centram-se, sobretudo, nas pessoas que fazem parte da sua vida, de acordo com uma nota biográfica sobre o pintor no site da Tate Modern. Amigos, família, companheiros de profissão, amores e crianças são representados aos olhos de Freud, que considera “autobiográfico” o tema dos seus trabalhos. “Tem tudo a ver com esperança, memória, sensualidade e envolvimento com a realidade”, pode ler-se no mesmo documento.

“Girl with a white dog” (1950), em que Freud retrata a sua mulher, “Naked Girl” (1966), o primeiro de uma série de nus, “Reflection with Two Children” (1965), um auto-retrato, e “The Painter's Mother Dead”, um desenho da mãe logo após a sua morte, são alguns dos trabalhos mais conhecidos do artista.

Um pintor que encontrou na vida a inspiração artística

Lucian Freud nasceu em Berlim em 1922. Com 11 anos parte para Inglaterra com a família, em fuga ao nazismo. Cresce numa família de pensadores. Filho de pais judeus, Ernest Ludwing Freud, arquitecto, e Lucie née Brasch. É neto de Sigmund Freud, o criador da psicanálise e irmão de Clement Raphael Freud, escritor político, e de Stephan Gabriel Freud.


O seu percurso académico começa em Londres, cidade que escolheu para viver. Estuda na londrina “Central School of Arts and Crafts” (1939-42) e depois frequenta a “Cedric Morri´s East Anglian School of Painting and Drawing”, em Deham.

Durante dois anos, trabalha como marinheiro mercante nos navios Norte Atlântico. Mas em 1942 regressa aos estudos. A sua primeira exposição a solo acontece na Lefevre Gallery, em 1944, com a apresentação do quadro “The Painter's Room”. Depois disso, no Verão de 1946, viaja para Paris e a seguir para a Grécia, onde permanece por cinco meses.

Em 1948, casa-se com Marries Kitty Garman. Cinco anos depois Lucian Freud casa-se pela segunda vez, com a escritora Caroline Blackwood. Os romances de Freud não se esgotam nestas duas mulheres. Há rumores, divulgados pelo "Sunday Telegraph", de que o pintor tem 40 filhos ilegítimos. Uma de suas filhas, Jane McAdam Freud, seguiu a via artística.

Poucas exposições, grandes retrospectivas

Depois da sua exposição a solo em 1944, Freud participou no Festival of Britain com o trabalho intitulado “Interior in Paddington”, o que lhe valeu um prémio do Arts Council of Great Britan, em 1951.


Em 1954, o pintor figurativo representou Inglaterra na 27ª Bienal de arte de Veneza, juntamente com Ben Nicholson e Francis Bacon. Vinte anos depois foi realizada a primeira exibição retrospectiva do autor, no Hayard Galley, em Londres, tendo a segunda acontecido em 1987, no Hirschhorn and Sculpture Garden em Washington D.C, mostra que passou depois por Paris, Londres e Berlim. Esta retrospectiva que atravessou o Atlântico foi considerada a maior representação do trabalho de Freud fora do Reino Unido. Em 1989 o pintor foi nomeado para os prémios Turner.

As suas últimas exposições realizaram-se em 2000 no National Gallery, com “After Chardin for Encounters: New Art from Old National Gallery” e em 2002 no Tate Britain, com “Constable”.