Chumbos no básico e secundário custam mais de 600 milhões de euros por ano

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A matemática é das disciplinas a que os alunos mais têm dificuldades Miguel Madeira

Estas contas são feitas pelo PÚBLICO a partir do valor de 3700 euros que, em 2004/2005, o Estado pagou para financiar integralmente a frequência de cada aluno em escolas privadas localizadas em sítios onde não há oferta pública (através dos contratos de associação).

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Estas contas são feitas pelo PÚBLICO a partir do valor de 3700 euros que, em 2004/2005, o Estado pagou para financiar integralmente a frequência de cada aluno em escolas privadas localizadas em sítios onde não há oferta pública (através dos contratos de associação).

"Se, ao fim de três anos, o aluno ainda abandona a escola, então o país acaba por ter no final um gasto que não serviu", sublinhou ontem a ministra Maria de Lurdes Rodrigues, em declarações aos jornalistas, a propósito do ensino da Matemática e da conferência internacional sobre o ensino da disciplina, que decorrerá em Lisboa, na próxima semana.

O encontro reunirá peritos nacionais e estrangeiros e servirá para fazer a avaliação das medidas tomadas ao longo dos últimos três anos para melhorar os resultados a uma das disciplinas que mais dificuldades causam aos alunos portugueses. "Será também um momento de prospectiva, para verificar que outras medidas são necessárias", explicou a ministra.

O que não é necessário, considera Maria de Lurdes Rodrigues, é continuar a ter taxas de insucesso sem paralelo no espaço da OCDE - aos 15 anos, só Espanha e Luxemburgo apresentam taxas de repetências comparáveis a Portugal -, cuja eficácia é posta em causa pelo facto de que quem fica retido frequentemente volta a chumbar. "Os sistemas de ensino moderno tentaram substituir um sistema chamado "chumbo" por outros instrumentos chamados "mais trabalho". É isso que precisamos de fazer nas nossas escolas: substituir este instrumento que não tem um objectivo de recuperação", defendeu Maria de Lurdes Rodrigues. "O objectivo actual é proporcionar a todos os alunos, sem excepção, a escolaridade básica de nove anos." E o chumbo, que foi introduzido quando o sistema educativo se organizava para seleccionar e separar, "não é adequado a este objectivo", reforçou.

O exemplo finlandês

Para a ministra, a solução passa pela "identificação precoce das dificuldades" e pela diversificação de estratégias de recuperação, num trabalho que tem de ser feito por toda a escola. Maria de Lurdes Rodrigues rejeita ainda a ideia de que este princípio corresponda a qualquer tipo de "facilitismo": "Facilitismo é chumbar. Rigor e exigência é fazer com que todos aprendam".

Num relatório recente da OCDE, intitulado No More Failures: Ten Steps in Education e ontem distribuído na conferência de imprensa, apoiam-se os argumentos da ministra. "Apesar de a repetência ser frequentemente utilizada pelos professores, faltam provas de que as crianças ganhem com isso. A retenção é cara - o custo económico global vai até aos 20 mil dólares [13 mil euros] por cada aluno que chumba um ano -, mas as escolas são pouco incentivadas a ter em conta os custos envolvidos", lê-se no documento.

Os peritos da OCDE referem o Luxemburgo como um dos países que estão a tomar medidas para reduzir as taxas de insucesso e apontam o caso finlandês, onde os chumbos são absolutamente residuais, como exemplo a seguir. "A Finlândia recorre a um conjunto de intervenções formais e informais para ajudar quem está a ficar para trás na escola. Esta abordagem parece ser bem sucedida." A OCDE diz mesmo que "muitos países podiam seguir" esta estratégia de "sucesso", recomendando ainda o apoio aos professores no desenvolvimento de técnicas de recuperação dos alunos.