Arqueólogos descobrem objectos com 300 mil anos e fogueira com 24 mil anos

Além dos objectos com uma datação absoluta única em território nacional, encontraram uma fogueira do Paleolítico Superior, com seixos rolados queimados e alguns estalados pelo fogo e a zona circular delimitada por terra queimada. “Sabíamos que era uma zona muito rica porque à superfície já tínhamos recolhidos milhares de objectos. Mas não estávamos a espera de encontrar uma fogueira com 24 mil anos”, disse Sara Cura, do Museu de Arte Pré-Histórica de Mação e coordenadora do projecto.

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Além dos objectos com uma datação absoluta única em território nacional, encontraram uma fogueira do Paleolítico Superior, com seixos rolados queimados e alguns estalados pelo fogo e a zona circular delimitada por terra queimada. “Sabíamos que era uma zona muito rica porque à superfície já tínhamos recolhidos milhares de objectos. Mas não estávamos a espera de encontrar uma fogueira com 24 mil anos”, disse Sara Cura, do Museu de Arte Pré-Histórica de Mação e coordenadora do projecto.

Segundo a arqueóloga, o grau de acidez da terra não permite conservar matéria orgânica e, como tal, não é possível saber se a fogueira (que mal foi descoberta teve direito a uma réplica no Centro de Interpretação do Alto Alentejo) servia para aquecimento ou alimentação. Mas não é por isso que deixa de ser importante. “Já foram descobertas várias estruturas de combustão no nosso país mas noutro tipo de contextos, em abrigos ou grutas. Esta é ao ar livre e num terraço fluvial, daí a sua singularidade”.

“São raras no contexto de ar livre mas há outras, as mais antigas têm 50 mil anos e foram encontradas em Vila Velha de Ródão no início dos anos 80, no sítio Vilas Ruivas”, disse ao PUBLICO.PT Luís Raposo, director do Museu Nacional de Arqueologia. Para o especialista neste período, o interesse reside nos instrumentos líticos encontrados.

“São do mais antigo que conhecemos no Vale do Tejo e em Portugal. As maiores datações absolutas que se tinham conseguido obter apontam para os 150 mil anos, mas este método da luminescência é muito fiável”, disse.

“O único problema é que este método dá-nos a ultima vez que o vestígio esteve exposto ao sol – estamos a datar um conhecimento físico e depois é precisa muita argúcia para ligar esse conhecimento físico às actividade humanas”, acrescentou.

Trabalho para muitos anos

O vale do Tejo, onde fica a Ribeira da Atalaia é uma das zonas do país com mais vestígios do Paleolítico. Esta escavação está a ser feita num conjunto de depósitos fluviais com dois milhões de anos, numa espécie de socalcos com zonas escarpadas e planas, explicou Pierluigi Rosina, também coordenador do projecto.

“Não são muitas as ocorrências no nosso país, a maioria das datações são relativas e muito sinceramente não encontramos mais coisas porque não há mais meios”, explicou Sara Cura. As análises de luminescência foram feitas no Instituto Tecnológico e Nuclear e os resultados demoraram algumas semanas.

“Há mais colaboração interdisciplinar e temos ao nosso dispor mais tecnologias que nos permitem ir mais além na análise, até dos gumes das peças. É possível reconhecer a funcionalidade específica dos objectos e conhecer as dinâmicas comportamentais”.

As descobertas anunciadas são trabalho para muitos anos, disse Luiz Oosterbeek, director do projecto. Hoje em campo continuavam 17 estudantes de arqueologia da Universidade de Trento (Itália), do Instituto Politécnico de Tomar e da Universidade Nova de Lisboa.