Morreu o repórter polaco Ryszard Kapuscinski

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Kapuscinski, numa foto datada de Dezembro Andrzej Rybczynski/AP

Kapuscinski firmou o seu nome na década de 60 através de uma vasta série de reportagens em África, onde era o único correspondente da agência de notícias polaca, a PAP.

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Kapuscinski firmou o seu nome na década de 60 através de uma vasta série de reportagens em África, onde era o único correspondente da agência de notícias polaca, a PAP.

O repórter relatou os últimos dias do imperador Haile Selassie da Etiópia e os primeiros do Xá Reza Pahlavi, após a revolução iraniana de 1979.

Entre as suas obras estão ainda peças sobre a queda da União Soviética, sobre a guerra civil de Angola e sobre a política da América do Sul.

Nascido em Pinsk, na actual Bielorrússia, a 4 de Março de 1932, Ryszard Kapuscinski estudou História e trabalhou como repórter na Polónia na década de 1950, experiência que está compilada na sua obra "The Polish Bush".

Tornou-se depois, na década de 1960, correspondente estrangeiro e foi enviado para África, percorrendo todo o continente e cobrindo inúmeros conflitos.

"Não podia ir só para onde queria, mas também era a minha obrigação estar nesses sítios. Onde havia algum problema, eu tinha de estar lá", disse um dia sobre o seu trabalho em África.

"Eu queria descrever pessoas, a sua mentalidade, o seu modo particular de ver o mundo. A experiência ensinou-me que, a partir do nosso pequeno lugar — que cada um ocupa no planeta — vemos o mundo de forma diferente. Uma pessoa que vive na Europa vê tudo de modo diferente de uma pessoa que vive em África. Sem entender estas diferenças não vamos perceber nada deste mundo", disse Kapuscinski, num comentário citado no seu seu site oficial (http://www.kapuscinski.hg.pl), numa tradução da Associated Press.

Ryszard Kapuscinski cobriu também acontecimentos na Ásia e na América do Sul: foi testemunha de 27 golpes de Estado ou revoluções e foi condenado à morte por quatro vezes.

Em 1974 começou a escrever para a revista semanal "Kultura" e começou então a ganhar reputação internacional com os livros "O Imperador", sobre a queda de Haile Selassie, e "Xá dos Xás", sobre a revolução iraniana de 1979.

Escreveu também "A Guerra do Futebol", sobre um jogo de futebol que esteve na origem da guerra dos seis dias entre as Honduras e El Salvador.

O ultimo livro de Kapuscinski vai ser editado este ano e chama-se "Travels with Herodotus". O repórter tem também publicada uma vasta obra na área da poesia.

O Parlamento polaco honrou-o esta manhã com um minuto de silêncio, após o qual foi descrito, num breve discurso, como "uma testemunha do sofrimento humano e uma testemunha da esperança humana".

"Não há, entre os escritores polacos, ninguém que consiga ocupar o seu lugar", disse o seu editor, Marek Zakowski.