Niazov: a morte de um líder excêntrico e repressor

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A estátua em ouro de Niazov na capital do Turquemenistão Olivier Matthys/EPA

Niazov destacou-se na política do Turquemenistão como secretário do Partido Comunista local, em 1985. Seis anos mais tarde, envolve-se no golpe contra o então líder da União Soviética, Mikhail Gorbatchov — que durou apenas três dias — e assume o controlo do país. Em 1999, torna-se Presidente vitalício.

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Niazov destacou-se na política do Turquemenistão como secretário do Partido Comunista local, em 1985. Seis anos mais tarde, envolve-se no golpe contra o então líder da União Soviética, Mikhail Gorbatchov — que durou apenas três dias — e assume o controlo do país. Em 1999, torna-se Presidente vitalício.

Desde então, gastou grande parte da fortuna nacional — obtida através da exportação de gás — em obras como um lago artificial no deserto de Kara Kum; uma vasta floresta de ciprestes para compensar o clima desértico; um palácio de gelo; uma estância de esqui; e uma pirâmide com cerca de 40 metros de altura.

Além disso, construiu o maior mosteiro da Ásia Central, denominado Espírito de Turkmenbashi, cujo custo estimado ronda os 90 milhões de euros.

Há alguns meses, o excêntrico líder anunciou que pretendia fornecer gás natural e electricidade gratuitamente aos habitantes do Turquemenistão.

Culto da personalidade

Numa das mais emblemáticas medidas que reflectiam o seu culto da personalidade, Niazov alterou os nomes dos meses do ano para homenagear os membros da sua família.

"Pessoalmente, não me agrada ver a minha cara em fotografias e estátuas por todo o lado, mas é o que o povo quer", disse, a certa altura.

O pai morreu na II Guerra Mundial e um terramoto que abalou a capital Ashkabat em 1948 vitimou o resto da sua família. Niazov cresceu em orfanatos e numa casa de familiares distantes.

O seu livro "Rukhnama", que significa "O Livro da Alma", é uma colecção de pensamentos e valores do Turquemenistão e é de leitura obrigatória nas escolas.

Após uma complexa cirurgia cardíaca a que foi submetido em 1997, deixou de fumar e obrigou toda a sua equipa de governantes a imitá-lo.

Um Estado isolado e controlado

É comum que os dissidentes do país sejam exilados, torturados ou internados em hospitais psiquiátricos.

Os media são fortemente controlados, em particular o acesso à Internet.

Em 2002, uma alegada tentativa de assassinato de Niazov deu origem a uma impiedosa reacção por parte do líder, levando a várias detenções.

O antigo ministro Boris Shikhmuradov foi responsabilizado por preparar o alegado atentado e foi condenado a prisão perpétua, num julgamento transmitido pela televisão em que confessou o envolvimento no incidente e durante o qual admitiu ser toxicodependente.

A imagem de Niazov está representada numa estátua em ouro, mandada colocar pelo próprio numa praça da capital. O monumento tem uma base rotativa que permite que esteja sempre virado para o Sol.