ONU: Annan lembra guerra no Iraque como o pior momento do seu mandato

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Annan abandona a chefia da ONU em Janeiro após dez anos de mandato Justin Lane/EPA

Na sua última conferência de imprensa antes de deixar o cargo, Annan disse ainda estar esperançado que no próximo ano seja possível pôr fim à catástrofe humanitária na província sudanesa de Darfur e avisou que seria “desastroso” lançar uma ofensiva militar contra o Irão.

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Na sua última conferência de imprensa antes de deixar o cargo, Annan disse ainda estar esperançado que no próximo ano seja possível pôr fim à catástrofe humanitária na província sudanesa de Darfur e avisou que seria “desastroso” lançar uma ofensiva militar contra o Irão.

Convidado pelos jornalistas a recordar os três melhores e os três piores momento que viveu à frente da ONU, Annan não hesitou: “O pior momento foi a guerra no Iraque que, enquanto organização, não conseguimos impedir apesar de tudo o que fizemos”.

Em Março de 2003, os EUA, apoiados por uma pequena coligação de países, lançaram uma ofensiva unilateral contra o Iraque, com o objectivo de derrubar o regime de Saddam Hussein, a quem acusavam de possuir armas de destruição maciça.

O ganês lembrou em seguida a morte de 22 funcionários da ONU, incluindo Sergio Vieira de Mello, representante especial no Iraque e seu amigo pessoal, no atentado contra o quartel-general da organização em Bagdad, no Verão de 2003.

Por último, Annan destacou o escândalo que rodeou o fim do programa de assistência ao Iraque “Petróleo contra Alimentos”, no âmbito do qual vários funcionários das Nações Unidas foram acusados de corrupção e gestão danosa.

No entanto, o secretário-geral pediu para que a comunidade internacional julgue a instituição não por falhas como esta, mas pelos esforços na defesa dos direitos humanos, na luta contra as desigualdades – seja entre Estados, seja entre ricos e pobres – ou pelos projectos a favor do desenvolvimento e do combate à sida.

Darfur deve continuar na agenda

Annan, prémio Nobel da paz em 2001 juntamento com a organização que lidera desde 1996, aproveitou a ocasião para afirmar que a crise humanitária em Darfur não pode deixar a agenda das potências internacionais.

“Espero particularmente que não haja uma ruptura no nosso tratamento desta crise”, que já provocou mais de 200 mil mortos, afirmou o responsável, revelando estar a trabalhar sobre este assunto com o seu sucessor, o diplomata sul-coreano Ban Ki-moon.

Revelando ter falado no último fim-de-semana com o Presidente Sudanês, Omar al-Bachir, o secretário-geral disse esperar “que no próximo ano seja possível ter no terreno uma força internacional para dar protecção e segurança ao povo de Darfur”.

A menos de duas semanas de deixar o cargo, Annan não fugiu a um dos temas mais quentes da actualidade, ao afirmar que o Conselho de Segurança deve continuar a procurar uma “solução negociada” para a crise nuclear iraniana.

Questionado sobre a eventualidade de uma ofensiva militar para evitar que Teerão desenvolva armas nucleares, Annan respondeu: “Ainda não chegámos a esse momento e penso que devemos evitar ir nessa direcção. Isso seria desavisado e desastroso”, afirmou. “O Conselho de Segurança deve agir com precaução e fazer o seu melhor para conseguir uma resolução pacífica” da crise, concluiu.