José Saramago defende Günter Grass

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Saramago diz ter ficado surpreendido com a violência das reacções Manuel de Almeida/Lusa (arquivo)

Numa entrevista ao jornal espanhol "El País" de ontem a propósito do seu último livro, As Pequenas Memórias, que acabou de escrever nem há uma semana, Saramago disse ter ficado surpreendido com "a violência das reacções". "Ele tinha 17 anos. E o resto da vida não conta? Parece-me uma reacção hipócrita, de muita gente que talvez não consulta a sua própria consciência. Muita gente quer encontrar pés-de-barro em personalidades influentes."

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Numa entrevista ao jornal espanhol "El País" de ontem a propósito do seu último livro, As Pequenas Memórias, que acabou de escrever nem há uma semana, Saramago disse ter ficado surpreendido com "a violência das reacções". "Ele tinha 17 anos. E o resto da vida não conta? Parece-me uma reacção hipócrita, de muita gente que talvez não consulta a sua própria consciência. Muita gente quer encontrar pés-de-barro em personalidades influentes."

Saramago disse ainda que a sua primeira reacção quando soube da confissão de Grass foi de "perplexidade": "Nunca imaginei que tivesse estados nas Waffen-SS... e menos ainda que tivesse ido como voluntário." O novo livro de Saramago, que a Caminho lança a 16 de Novembro, marca um regresso à infância do escritor que vive em Lanzarote. "É um livro de memórias de quando era pequeno. Esteve para se chamar O Livro das Tentações mas pareceu-me demasiado pretensioso." E continuou: "Sempre estive muito ligado à criança que fui e surpreendi-me com a quantidade de recordações que tinha daquela época. O livro fez-me sofrer um pouco. Mas no final também foi um alívio."

Na nova obra, Saramago conta memórias familiares "que não são agradáveis", que o "tocaram negativamente", coisas "que uma criança não devia ter visto". Centrado no período de entre os 4 e os 15 anos, o livro tem 150 páginas ("não é literatura", disse). Saramago escreveu memórias de criança e não de adulto, adiantou ainda: "Senti-me uma criança ao escrevê-las. Queria que os leitores soubessem de onde saiu o homem que sou." O jornalista do El País pergunta-lhe ainda se não é um homem optimista. Resposta: Como ser optimista quando se lê o jornal? O mundo é o lugar do inferno. (...) Não sou um pessimista, sou um optimista bem informado."