Vertigem de amor

Trata-se da história da mulher de um psiquiatra, sub-director de uma clínica, Stella Raphael (extraordinária Miranda Richardson, em registo quase sonâmbulo), fatalmente atraída por um doente, Edgar (Martin Csokas), um escultor que se ocupa de jardinagem e da renovação da casa dela, acusado da morte e desfiguramento da mulher por ciúmes mórbidos. A teia em que ambos se envolvem leva-os a uma vertigem de amor e loucura, que culmina na morte do filho de Stella e no suicídio desta, entretanto internada no asilo de que fora uma das figuras tutelares. No centro do conflito, aparece a figura perturbante de Peter Cleave, médico de Edgar - personagem entregue à genialidade de Ian McKellen -, velho homossexual que oscila entre a sua ambição de poder e a sua sexualidade conturbada.

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Trata-se da história da mulher de um psiquiatra, sub-director de uma clínica, Stella Raphael (extraordinária Miranda Richardson, em registo quase sonâmbulo), fatalmente atraída por um doente, Edgar (Martin Csokas), um escultor que se ocupa de jardinagem e da renovação da casa dela, acusado da morte e desfiguramento da mulher por ciúmes mórbidos. A teia em que ambos se envolvem leva-os a uma vertigem de amor e loucura, que culmina na morte do filho de Stella e no suicídio desta, entretanto internada no asilo de que fora uma das figuras tutelares. No centro do conflito, aparece a figura perturbante de Peter Cleave, médico de Edgar - personagem entregue à genialidade de Ian McKellen -, velho homossexual que oscila entre a sua ambição de poder e a sua sexualidade conturbada.

Nas malhas melodramáticas deste enredo labiríntico e "negro", traça-se um curioso retrato da sociedade inglesa dos anos 50 e 60, tomando a instituição psiquiátrica como símbolo da repressão social e sexual, indiciada na hipocrisia dos casamentos sem amor e na ilusão da liberalidade dos novos meios de tratamento dos mentalmente doentes, com sublinhados, algo óbvios, na ténue linha de demarcação do conceito de sanidade. Este desejo de diagnosticar um "mal" omnipresente limita as possibilidades de figurar as relações entre as personagens, apenas convincentes porque confiadas à técnica irrepreensível de grandes actores.

A realização de David McKenzie mais não faz do que gerir essa previsível tensão entre recalcamentos atávicos de uma sociedade hipócrita, exposta em gestos vazios e em decadências estereotipadas. Adaptado de um romance de Patrick McGrath, "A Casa da Loucura" consegue transmitir uma interessante atmosfera de rarefacção dos sentimentos, mas falha na passagem dos jogos de poder para a análise das personagens individuais, sobretudo encerradas em tiques comportamentais. Dito isto, possui a força de denúncia, mas carece de uma autêntica capacidade para conferir o excesso das pulsões que desencadeia, como se a perfeição artesanal do objecto esbarrasse na frieza de um programa rígido, a seguir. Falta nervo e carne a estes títeres grandiosos que a grande escola britânica de representação pretende apresentar como "pessoas" credíveis. Mesmo a loucura e a trangressão das regras sociais soam a espectáculo exterior de uma técnica sem função, nem sentido.