Blockbuster intimista

Não diremos, por isso, que "V de Vingança" seja um filme que descobre a pólvora, mas descobre certamente uma maneira de "ser espectacular" que tem algo de "primitivo" e artesanal: os seus momentos mais eufóricos vivem de pirotecnia genuína, fogo de artificio, porventura o mais velho "efeito especial" da história da humanidade.

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Não diremos, por isso, que "V de Vingança" seja um filme que descobre a pólvora, mas descobre certamente uma maneira de "ser espectacular" que tem algo de "primitivo" e artesanal: os seus momentos mais eufóricos vivem de pirotecnia genuína, fogo de artificio, porventura o mais velho "efeito especial" da história da humanidade.

Ou não: ainda mais velhos do que o fogo de artíficio são o teatro e as máscaras. Coisas que dominam o filme de McTeigue, da máscara de Guy Fawkes constantemente envergada pelo protagonista às "encenações" que ele prepara para a personagem de Natalie Portman, entre o sacrifício e o ritual de iniciação - em espécie de rima "minimalista" para a grande encenação totalitária do regime político proto-nazi que vigora no universo do filme. Mas também um pouco de dança: nas longas cenas com o par no tugúrio de "V", o filme de McTeigue podia ser uma espécie de "Fantasma da Ópera", história de amor impossível, amaldiçoada mais do que maldita, um longo bailado de sedução e renúncia sempre subentendidas, nunca expressas. O melhor de "V de Vingança" está nisto, no facto de ser um filme quase rudimentar nos seus recursos espectaculares, uma hipótese de "blockbuster intimista", voltado para dentro, prostrado. Durante o filme ouvem-se três canções na "jukebox" que "V" guarda no esconderijo: "Cry Me a River" (Julie London), "Bird Gehrl" (Antony and the Jonsons), e "I Found a Reason" (a "cover" de Cat Power para uma canção dos Velvet). Até o responsável pela selecção musical levou a sério a ideia do "blockbuster" prostrado, é o que se prova.