Cinco candidatos na arena televisiva

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Os estúdios televisivos vão ser palco de momentos decisivos da campanha para as presidenciais PÚBLICO

Cavaco recusara-se a participar nos debates na televisão e escudara-se nos argumentos de que estes "visavam a política-espectáculo" e reduziam-se a "uma luta de galos ou um jogo de caneladas".

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Cavaco recusara-se a participar nos debates na televisão e escudara-se nos argumentos de que estes "visavam a política-espectáculo" e reduziam-se a "uma luta de galos ou um jogo de caneladas".

Catorze anos volvidos, a sua candidatura presidencial não apresentou quaisquer entraves ao ciclo de debates que hoje têm início na SIC, com o frente-a-frente entre Cavaco e Manuel Alegre. No entanto, as dúvidas suscitadas pelo candidato em 1991 continuam a ser um dos alvos preferenciais dos estudos sobre os efeitos da comunicação política televisiva. Até porque o "diálogo" entre o sistema político-partidário e a população depende quase exclusivamente dos órgãos de comunicação social.

Será que os debates entre os candidatos presidenciais esclarecem a opinião pública? Quais os tipos de impacte que podem ser sentidos junto do eleitorado? O sociólogo António Manuel Revez descarta, desde logo, a hipótese de os frente-a-frente entre os candidatos presidenciais permitirem aos eleitores a elaboração de uma avaliação política. Mais do que a definição do "perfil político", os telespectadores traçam um "perfil emocional, sentimental" de cada um dos candidatos a Belém.

Nesta arena televisiva - "o debate é um combate", diz -, o exame político acaba por ser feito a posteriori: "Independentemente do pormenor e de todo o trabalho feito pelo staff das candidaturas, o importante é o que sucede imediatamente após o debate. E a sua avaliação faz com que muitas das vezes seja aquela que decorre da avaliação dos opinion makers", explica António Revez.

Assiste-se, assim, a uma "dupla mediatização da política": à "supremacia visual" (a discussão política é desvalorizada em benefício das competências imagéticas) soma-se a recensão do opinion maker ("muitas vezes quem vence os debates são aqueles que os opinion makers querem").

Para o investigador social e co-autor do livro Velhos e novos actores políticos. Partidos e movimentos sociais (edições Universidade Aberta), a vantagem de as estações de televisão possuírem uma vasta audiência não significa necessariamente a produção de efeitos nas intenções de voto dos eleitores. Aliás, aponta, a elevada exposição mediática de um candidato pode ser prejudicial: "Numa mediatização crescente da política, a imagem de um candidato que surge muitas vezes na televisão pode ser muito desgastada."

Debates serão "cruciais" para a esquerda

Ao contrário de António Revez, o politólogo André Freire acredita que os debates televisivos podem influenciar o comportamento dos eleitores e considera mesmo que eles serão "cruciais" para determinar se haverá ou não uma segunda volta das eleições presidenciais, afigurando-se, por isso, como um "desafio essencial à esquerda". A influência sobre o eleitorado pode, de acordo com o investigador do Instituto de Ciências Sociais, traduzir-se em três tipos de efeitos: "Poderá mobilizar potenciais apoiantes de um candidato que ainda estão divididos entre o voto nesse mesmo candidato e a abstenção; poderá mobilizar os eleitores indecisos; e, finalmente, poderá mesmo operar uma conversão, uma mudança de posição". Este último, acrescenta Freire baseando-se em estudos já realizados, "é mais reduzido".

O politólogo nota que os frente-a-frente são indispensáveis para esclarecer os portugueses sobre "as posições de cada candidato face a diferentes temas", uma vez que há manifestos eleitorais, "como o de Cavaco Silva e o de Mário Soares", que não são muito distintos. "[Os debates] são essenciais para o esclarecimento do país e do que podemos esperar do exercício das funções presidenciais de cada candidato", defende.

Sobre as performances dos candidatos a Belém, António Revez aponta que os campos "emocional e visual são decisivos na importância relativa que possam ter", sublinhando que a atenção dos telespectadores residirá sobretudo na avaliação do comportamento sentimental de cada um dos candidatos quando confrontado com determinada situação. Por isso, um dos debates mais aguardados será, porventura, o de Manuel Alegre e Mário Soares, uma vez que as expectativas do eleitorado acolhem um certo "cariz telenovelesco".

A comunicação visual é um dos aspectos mais relevados pelos assessores das candidaturas, que não descuram a atenção dada à maquilhagem e ao vestuário e tentam que o candidato não demonstre expressões de tensão, impaciência, crispação ou uma alegria desmesurada.

Uma hora de confronto

Após a contestação, em uníssono, de Francisco Louçã, Jerónimo de Sousa e Manuel Alegre, que discordaram da proposta apresentada pela RTP e pela SIC (sete debates a dividir pelos três canais, a que se juntavam os três frente-a-frente Cavaco-Soares, Soares-Alegre e Cavaco-Alegre), as televisões decidiram adoptar um modelo de dez debates.

O calendário dos teledebates resultou de um sorteio realizado consensualmente entre as televisões e as candidaturas presidenciais, tendo a abertura desta série, que termina no dia 20, sido atribuída ao confronto entre Manuel Alegre e Cavaco Silva, a transmitir na SIC. Os debates terão início às 20h45, a seguir aos telejornais, e a sua duração é de uma hora. Segundo o acordo firmado entre as emissoras televisivas, cada estação cederá às restantes o debates que transmitir, estando igualmente previsto a possibilidade de serem retransmitidos na íntegra ou em excertos. De referir ainda que os canais internacionais da RTP e SIC irão emitir os debates em simultâneo.