Casa Pia: testemunha volta a acusar Ferro Rodrigues

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O nome de Ferro Rodrigues surgiu na mesma fase que o de Paulo Pedroso Carlos Lopes/PÚBLICO

Segundo os relatos da sessão recolhidos pelo PÚBLICO, este jovem afirmou que o antigo secretário-geral do PS lhe abrira a porta numa casa em Vila Viçosa onde, acompanhado por Carlos Silvino, ele fora entregar um menor da Casa Pia, para alegadas práticas sexuais.

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Segundo os relatos da sessão recolhidos pelo PÚBLICO, este jovem afirmou que o antigo secretário-geral do PS lhe abrira a porta numa casa em Vila Viçosa onde, acompanhado por Carlos Silvino, ele fora entregar um menor da Casa Pia, para alegadas práticas sexuais.

O advogado de Ferro Rodrigues, Pedroso de Lima, confrontado, afirmou que era a "repetição do que a mesma alegada vítima dissera na fase do inquérito e que fora negado pelo miúdo a que ele se referiu". O advogado disse que o menor foi identificado, porque a testemunha que actualmente depõe perante o tribunal que julga o processo da Casa Pia o identificou pelo primeiro nome e descreveu alguns dos seus sinais físicos.

Pedroso de Lima disse ainda que, à semelhança do que aconteceu na sequência da primeira acusação, o jovem que agora voltou a acusar Ferro Rodrigues será "processado por denúncia caluniosa". E lembrou que o depoimento "não foi considerado relevante, tanto assim que o dr. Ferro Rodrigues não está a responder em nenhum processo".

A acusação a Ferro Rodrigues deste jovem, também alegada vítima do processo, que depõe pela sexta vez no tribunal que julga o processo da Casa Pia, foi proferida durante a instância do advogado Paulo Sá e Cunha, que defende Manuel Abrantes e que, de manhã, ficara marcada pela confrontação do jovem com a escuta de uma conversa telefónica ele e uma rapariga sua amiga, em Fevereiro de 2003, quando o processo da Casa Pia se encontrava na fase de inquérito.

Sá e Cunha perguntou ao mesmo jovem porque é que chamou, segundo a citada escuta, "filho da puta" ao antigo provedor adjunto da Casa Pia. "Pelo ódio que lhe tenho", terá respondido o jovem, segundo os relatos a que o PÚBLICO teve acesso. Questionado sobre o porquê desse ódio, a testemunha respondeu: "Por tudo o que me fez."

A confrontação da testemunha com a escuta deste telefonema tem, aparentemente, como objectivo sublinhar a ideia de que pode ter sido a rapariga com quem o jovem está a falar a influenciá-lo no sentido de envolver Abrantes nos factos da pronúncia.

À saída do tribunal, o ex-provedor adjunto, que foi alvo de um processo disciplinar na Casa Pia, na sequência do qual passou à reforma compulsiva, decisão da qual interpôs recurso, disse que irá desistir dessse recurso e de quaisquer esforços para regressar à instituição. "A Casa Pia morreu para mim, deixo aqui um adeus", afirmou. A seguir, referiu-se, sem dizer nomes, ao envolvimento de Catalina Pestana e da sua assessora - que passaram a escrito as queixas do jovem que actualmente depõe em tribunal -, que estiveram origem do processo disciplinar de que foi alvo. "Não foi bonito", afirmou.

Hoje, o tribunal que julga o processo da Casa Pia reúne-se na casa da Avenida das Forças Armadas, nº 111, palco, segundo o despacho de pronúncia, de abusos sexuais atribuídos a Carlos Cruz. Na visita, a segunda que o tribunal faz a esta morada, participa Carlos Silvino, o principal arguido do processo. Esta visita destina-se, provavelmente, a desfazer eventuais dúvidas sobre o acesso - negado pela defesa de Carlos Cruz e afirmado pela acusação - ao interior do prédio a partir de uma porta das traseiras. O tribunal anunciou ainda que vai agendar visitas à casa de Elvas e ao Teatro Vasco Santana, palcos igualmente dos abusos sexuais descritos no despacho de pronúncia deste processo.