Estado de saúde dos portugueses continua a ser pior no interior do que no litoral

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A desigualdade na oferta e uso dos serviços são dois dos factores que justificam as diferenças geográficas Daniel Rocha/PÚBLICO

"Os concelhos que se encontravam com piores estados de saúde em 1991 continuam, em geral, a apresentar os piores estados de saúde em 2001". O mesmo acontece com os melhores, conclui a investigação coordenada por Paula Santana, professora catedrática do Instituto de Estudos Geográficos (Universidade de Coimbra).

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"Os concelhos que se encontravam com piores estados de saúde em 1991 continuam, em geral, a apresentar os piores estados de saúde em 2001". O mesmo acontece com os melhores, conclui a investigação coordenada por Paula Santana, professora catedrática do Instituto de Estudos Geográficos (Universidade de Coimbra).

Um valor ilustrativo é o da mortalidade infantil. Embora o país tenha baixado a taxa, aproximando-se "dos melhores valores da União Europeia", esta continua muito alta em "áreas rurais, pobres, distantes de serviços de saúde de qualidade", sobretudo no Norte e no Algarve.

A investigação dá dois exemplos paradigmáticos: no concelho nortenho de Boticas a mortalidade infantil é de 18 mortes por mil nados vivos, no concelho algarvio de Alcoutim ainda é mais alta: 21,5 por mil, em contraste com a média nacional de 6,3 (de 1996 a 2000).

Os autores do estudo concluem que os problemas de saúde dos portugueses, sua frequência e gravidade, dependem também do local onde se vive. Os municípios com os melhores indicadores localizavam-se próximo do litoral (entre Setúbal e Viana do Castelo).

Litoral e grandes cidades

A saúde é pior nas áreas onde se encontram as pessoas mais pobres e se acumulam as piores condições de trabalho, de habitação e alimentação, que coincidem com locais onde "o contacto com serviços de saúde de qualidade é difícil e a continuidade de cuidados nem sempre é garantida", lê-se. "A concentração das grandes unidades de saúde continua a estar no litoral e nas grandes cidades", explica Paula Santana.

Apesar de variações positivas ao longo da década analisada, decorrentes da melhoria em indicadores sociais, de saúde e de utilização dos serviços de saúde, o padrão de desigualdade litoral/interior não se alterou e nalguns concelhos a sul do Tejo piorou, conclui o estudo, que foi publicado parcialmente na Revista de Estudos Demográficos, do Instituto Nacional de Estatística .

Mas não são as cidades de Lisboa e Porto que têm os melhores resultados. São urbes de média dimensão (entre 100 mil a 200 mil habitantes) como Aveiro, Leiria, Coimbra e Braga que continuam nos primeiros lugares em 2001.

Dos 275 concelhos avaliados em 1991, 144 (52,3 por cento) apresentavam um estado de saúde abaixo da média do continente, grande parte estava localizada no interior (136), correspondendo sobretudo a áreas rurais (111).

Em 2001, os piores valores dos estados de saúde continuavam a observar-se nos concelhos rurais do interior. E 141 (50,7 por cento) dos 271 municípios estavam abaixo do valor médio encontrado para Portugal. Da lista dos que estão em piores condições em termos de saúde continuam a fazer parte Boticas e Sabugal, mas também Vila de Rei, Oleiros (Centro), Marco de Canaveses (Norte), Silves, Mourão e Gavião (Sul).

As melhorias com maior expressão aconteceram nalguns concelhos do Norte e Centro do país "que apresentavam situações de partida muito baixas". Foi o caso de Miranda do Douro, Mirandela, Chaves, Valpaços e, no Centro, Pinhel, Penamacor e Sertã.

Mas há municípios que até pioraram em relação ao início da década de 90. As situações mais problemáticas concentram-se em seis concelhos: Vila Nova da Barquinha, Castro Verde, Felgueiras, Mourão, Paredes e Castanheira de Pêra. Também Gondomar e Vila Nova de Gaia diminuíram o seu estado de saúde mas o caso é menos grave porque detinham das classificações mais altas em 1991.

As melhorias a apontar estão também em concelhos das áreas metropolitanas de Lisboa ou próximos do Porto. No geral, dos concelhos em melhores condições fazem parte Oeiras, Amadora, Coimbra, Loures, Lisboa e Braga e Aveiro, Leiria.