Cancro do pulmão: gás radioactivo radão mata nove por cento na Europa

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Guarda e Visão são as regiões com maiores concentrações de radão Nelson Garrido/PÚBLICO

Segundo as conclusões do trabalho, publicadas na revista britânica "British Medical Journal" (BMJ), o radão aumenta os efeitos negativos do tabaco.

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Segundo as conclusões do trabalho, publicadas na revista britânica "British Medical Journal" (BMJ), o radão aumenta os efeitos negativos do tabaco.

Para exposições iguais, o risco de cancro do pulmão é cerca de vinte vezes mais elevado para os fumadores do que para quem nunca fumou, sublinham os autores do estudo.

E o risco aumenta proporcionalmente à concentração de radão em casas habitadas durante trinta anos antes do aparecimento da doença, mesmo quando a radioactividade emanada pelo radão é inferior às doses limites recomendadas.

A perigosidade desse gás, que se escapa da superfície da Terra, deve-se às partículas radioactivas que contém. Rapidamente dispersas no ar livre, as partículas podem encontrar-se em concentrações elevadas no ar ambiente das casas, sobretudo ao nível do rés-do-chão ou dos primeiros andares, com fortes variações segundo as regiões.

Quando é inalado, o radão é na maioria das vezes expirado imediatamente. Porém, certas partículas podem depositar-se na mucosa dos brônquios, expondo as células à radiação.

Estudos realizados com mineiros já tinham associado o radão ao cancro do pulmão. Este risco é agora confirmado numa situação de exposição ao radão dentro de casa, de acordo com a nova investigação, que incidiu em 7148 casos de cancro do pulmão e 14.208 pessoas que não desenvolveram a doença e que, por isso, constituíram um grupo de controlo.

A radioactividade do radão correspondeu em média a 97 bequereis por metro cúbico (97 Bq/m3) nas casas dos membros do grupo de controlo, em comparação com 104 Bq/m3 nas casas das pessoas que contraíram cancro do pulmão, sendo que um bequerel corresponde a uma desintegração por segundo.

O estudo, realizado pela professora Sarah Darby (Oxford, Reino Unido), diz respeito apenas a nove países europeus: Alemanha, Áustria, Espanha, Finlândia, França, Itália, Reino Unido, República Checa e Suécia.

Estudos realizados em Portugal em 1992 permitiram fazer um levantamento preliminar das concentrações de radão no ar do interior das habitações do território continental, o qual conduziu à detecção de cerca de nove por cento de habitações com valores superiores a 200 Bq/m3 e três por cento superiores a 400 Bq/m3, segundo o Laboratório de Radioactividade Natural do Departamento de Ciências da Terra da Universidade de Coimbra.

As maiores concentrações de radão foram observadas em distritos cujo substrato geológico é maioritariamente constituído por granitos (Guarda e Viseu), que são, de entre a diversidade de rochas ígneas, metamórficas e sedimentares do planeta, a variedade lítica que normalmente incorpora os mais elevados teores de urânio.